Clarissa, a menina abusada pelo pai

Me deparei na internet com um quadrinho muito especial. Além do artista ser extremamente talentoso em seus desenhos e na sua forma de contar as histórias, conseguiu, em sua criatividade, misturar uma leveza ao peso de uma conversa que nunca é fácil: o abuso sexual dentro das famílias. Pior ainda: o abuso de uma criança.

Jason Yungbluth consegue nos colocar na cabeça e no dia-a-dia de uma garota que não tem mais de 10 anos e nos mostra como cada momento passa em sua cabeça. Não tem muito mais o que explicar, o legal é ler os quadrinhos. Por isso, resolvi assumir a tarefa de fazer a tradução das histórias. Leia abaixo (recomendo abrir cada imagem individualmente para poder ler sem problemas) e tire suas próprias conclusões. Haverão legendas explicando um pouquinho o que pode ser subentendido em alguns trechos. Se quiser ler os quadrinhos originais (em inglês), basta clicar aqui.

clarissa_ptbr1Começando do começo: esses quadrinhos não foram feitos para serem engraçados. São deprimentes, além do “Ah, é tão triste que é fofo,” e mais no patamar do “Uau, meu dia mudou após absorver essa história.” São quadrinhos sobre a vida de uma garota que convive com o abuso. Recomendo cuidado ao ler se você acha que não dá conta.clarissa_ptbr2clarissa_ptbr3clarissa_ptbr4clarissa_ptbr5clarissa_ptbr6anna slot 777cartao para o tecnico conta na betanoclarissa_ptbr9clarissa_ptbr10clarissa_ptbr11clarissa_ptbr12Se ficou confuso(a) em alguma parte, aqui vai o resumo: Clarissa está sendo abusada sexualmente pelo pai. Se você reparar na última imagem do Sr. Lobo “tentando comer” a esquilo Mimi, verá que o lobo tem os óculos do pai de Clarissa e a esquilo tem o laço da garota. O pai de Clarissa chega a chamá-la de esquilo na história. A mãe e os irmãos dela todos sabem do que está acontecendo, mas não sabem como lidar com isso e acabam ignorando. Obviamente, não tem como fazer esse tipo de coisa desaparecer, mas todos fingem que são uma família normal. Todos querem que tudo seja ordinário, como se nada estivesse acontecendo, mas é muito difícil e não tem jeito. O irmão mais velho fica bravo e desconta na Clarissa, basicamente dizendo que é tudo culpa dela. O irmão do meio está tão traumatizado que mal consegue funcionar, mas se esforça para fingir que está tudo bem. A professora na história comete o mesmo erro, percebendo todos os sinais óbvios e ignorando, negando enxergá-los. Clarissa até tenta pedir ajuda, mas a professora não faz nada.

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Se não entendeu essa história, o pai de Clarissa acaba de fazer sexo com ela. A lua mostra o tempo passando, e o pijama de Clarissa está meio-aberto. No início, a mãe de Clarissa esquece dos problemas com a bebida. Ela sabe que sua filha está sendo abusada pelo marido, mas não faz nada. Por pena, ela continua comprando brinquedos para a menina, como que para compensar. O brinquedo tomando vida representa a imaginação danificada de Clarissa. O abuso levou embora sua infância, então no início o brinquedo quer se divertir enquanto a menina o ignora, graças às circunstâncias que levaram embora a alegria e a inocência. O brinquedo pula da janela, mas provavelmente representa Clarissa jogando-o fora por ter desistido da felicidade e da infância depois de cada estupro, ou representa as várias pessoas em sua vida que fugiram do problema dela sem ajudá-la. É como se manter aqueles presentes da mãe significassem aceitar o estupro como algo normal, mas ela não consegue viver nessa mentira.

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Não dá nem para imaginar uma vida com esses pensamentos presentes a cada segundo e minuto! É difícil ficar calmo ao pensar na vida da Clarissa e de todas as crianças e pessoas que tiveram que passar por algo tão terrível, algo que os fez irem a tais pontos para conseguirem seguir vivendo.

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Essa história tem o bicho-papão, os monstros embaixo da cama que amedrontam a maioria das crianças ao ponto de deixá-las acordadas a noite inteira. Mas com o abuso de Clarissa, só há um monstro na vida dela: o próprio pai. Ele já a convenceu a ficar quieta, e se ela disser a verdade será taxada de “mentirosa.” Tudo mais que deveria ser assustador já não tem efeito nela. Clarissa convida os monstros a comê-la, o que também pode ser interpretado como uma alusão ao suicídio.

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O abuso de crianças existe, e está acontecendo lá fora. Não podemos fingir que isso é fição, não podemos fingir que tudo está bem, porque não está. Explicando a história acima: a família de Clarissa está ignorando o problema e se esforçando para fingir que tudo continua ótimo. Clarissa já está de saco cheio de fingir, e não aguenta mais agir como se nada estivesse acontecendo.

Se quiserem ler a história original, em inglês, basta acessá-la pelo site acima. Se você sabe de algum abuso infantil ou sexual acontecendo perto de você, disque 100 e conte o que está acontecendo. Seu anonimato pode ser protegido e você pode salvar o futuro de uma criança ou adulto.

Espero que esses quadrinhos sejam capazes de tocar muitas pessoas e melhorar a cultura do abuso em nosso país. É com essas mentes criativas e a vontade de contribuir que construímos um futuro melhor para nossas crianças e nosso Brasil.

Adendo: peço desculpas pelos erros presentes nos quadrinhos. Meu computador já pode ser classificado como “dinossauro,” e os programas de edição acabam ficando muito lentos, o que resulta na perda de algumas letras (ou a reposição de outras). Espero que não se incomodem.

Nova evidência de que a sexualidade é inata: estudo indica que homens gays respondem a feromônios masculinos

Eis uma nova evidência de que a sexualidade é uma característica inata: homens gays tendem mais a responder a feromônios do sexo masculino do que aos femininos.

Não é algo que devia ser tão surpreendente, levando-se em conta tudo que já sabemos sobre a sexualidade em geral. Mas mais evidências nunca fazem mal. Pesquisadores chineses estudaram os feromônios naturalmente emitidos por homens e mulheres em emissões como sêmen, suor e urina. Os cientistas já estavam cientes da existência de dois feromônios distintos — androstenodiona (encontrado no sêmen e suor masculinos) e estratetraenol (presente na urina feminina) — por algum tempo, mas continuava não sendo claro se eles tinham algum efeito no sexo oposto. Percebeu-se que sim, e seu efeito depende da sexualidade da pessoa.

Imagem exibida no estudo de Wen Zhou.
Imagem exibida no estudo de Wen Zhou.

Para testar a hipótese, Wen Zhou, da Academia de Ciências Chinesa, criou um experimento em que participantes assistiam um vídeo onde figuras humanas eram exibidas em um estilo ligue-os-pontos (como mostrado acima) caminhando. Os participantes foram, então, convidados a adivinhar se as figuras eram do sexo masculino ou feminino. Quando expostos à androstenodiona, mulheres heterossexuais tendiam mais a sugerir que a figura era um homem — mas o feromônio não tinha efeito em homens heterossexuais.

Talvez mais importante, homens homossexuais também responderam ao feromônio, o que sugere que homens gays têm uma tendência inata a reagir (e sentir os efeitos) aos feromônios masculinos.

Homens heterossexuais, enquanto isso, tenderam mais a ver a figura como feminina ao serem expostos ao estratetraenol. Mulheres heterossexuais não reagiram, enquanto lésbicas e mulheres bissexuais tiveram uma resposta mesclada. Para manter os resultados precisos, os feromônios foram camuflados com o cheiro de cravos.

“Fomos capazes de demonstrar qualitativamente que a androstenodiona indica a masculinidade para homens heterossexuais e homossexuais, enquanto o estatetraenol indica a feminilidade para homens heterossexuais sem os recipientes estarem cientes dos odores,” Zhou escreveu no estudo sobre suas descobertas, publicado no Cell. “É importante notar que as informações sexuais específicas transmitidas por androstenodiona e estratetraenol os suportam veementemente como feromônios sexuais humanos.”

Possíveis reações químicas?
Possíveis reações químicas?

Essencialmente, a descoberta sugere que humanos podem “perceber” o sexo biológico de alguém baseando-se nesses feromônios, mas que o efeito só funciona com pessoas a que alguém se sente atraído. Deve-se enfatizar que o estudo não contemplou participantes transexuais.

As sexualidades dos participantes foram medidas usando a Escala Kinsey, com um espectro de 0-6 onde o 0 indica o “exclusivamente heterossexual” e o 6 indica o “exclusivamente homossexual.” Cada um dos 24 homens e mulheres heterossexuais tinham o valor de 0, e os 24 homens gays, para avaliação no estudo, tinham uma escala de 5,25. As 24 mulheres gays ou bissexuais tinham uma média de 4,5.

Escala Kinsey: imagens provocativas por criatividade do artista.
Escala Kinsey: imagens provocativas são pura criatividade do artista.

O estudo se assemelha nas descobertas — se não em seus métodos — a outro estudo publicado nos Procedimentos da Academia Nacional de Ciências de 2005, que apontou que os cérebros de homens gays respondem de forma similar ao de mulheres heterossexuais quando expostos à androstenodiona. Como na maioria dos feromônios, os que fizeram parte do estudo operam no inconsciente, mas ainda assim representam uma parte importante na forma que os humanos interagem.

“Tal processamento quimiossensorial opera além da consciência, mas ainda assim modula significativamente a percepção visual dos gêneros, assumindo-se assim como parte do código humano de gêneros,” escreve Zhou.

Francamente, não deveria importar como alguém se percebe gay, hetero, bissexual ou de qualquer outra sexualidade — mas em um mundo onde locais de conversão gay-para-hetero ainda existem, qualquer descoberta científica desse tipo só pode trazer benefícios.

Texto traduzido e adaptado do site Vice.