Por que muita gente começa a aprender um idioma e logo desiste?

Leia minha resposta original no Quora.

Tem vários motivos. Um deles é que no início a gente fica motivado, parece que estamos aprendendo muitas coisas rapidamente, mas depois de um tempo começamos a perceber que nos esquecemos de algumas palavras, começamos a tropeçar com alguns conceitos, e parece que tudo que aprendemos não serve de nada, porque não conseguimos colocar o que acumulamos até ali para funcionar.

Muita gente também tem insegurança ou é perfeccionista demais, o que atrapalha e muito no aprendizado da pronúncia dos idiomas. Sem falar, você não pratica, e sua pronúncia não fica boa, seu cérebro não se acostuma a formar e processar frases rapidamente. É necessário falar, falar e falar, mesmo que se esteja falando errado, mesmo que o vocabulário ainda seja insuficiente.

Todo aluno aprende em um ritmo diferente, e tem várias formas diferentes de aprender. Pode ser com a repetição, com o estudo tradicional, conversando com nativos… entre inúmeros outros métodos. Nem todos servem para um determinado aluno, e isso pode ser frustrante e desencorajador.

Em alguns casos, o problema é simplesmente a falta de sintonia entre o professor e o aluno. Pode ser um sotaque que não agrada ou não serve ao aluno, e por isso ele pensa em procurar outra pessoa. Pode também ser o ritmo das aulas, ou o foco dos exercícios, enfim, muitas vezes algo simplesmente não encaixa.

Falei sobre o principal, mas várias coisas podem levar uma pessoa a abandonar o aprendizado de uma língua. Nisso esse ensino é como qualquer outro, afinal, e os motivos não fogem tanto assim dos que fazem as pessoas desistirem de cursos na faculdade ou de aprender novos hobbies.

Eu realmente insisto para aqueles que já desistiram que tentem de novo, se esforcem, lutem contra a vontade de faltar na aula, porque com certeza o que você já aprendeu está guardado em algum lugar da sua cabeça, pode ser aproveitado e expandido, e nunca é tarde demais. Aprender uma nova língua ajuda o cérebro a se exercitar e abre um novo mundo na sua vida.

Qual foi a experiência mais inapropriada que você teve com um professor?

Leia minha resposta original no Quora.

Eu fiz intercâmbio de julho de 2008 a junho de 2009 em Boulder, no Colorado, EUA. Quando cheguei, tentei achar todas as matérias que tinha no Brasil para poder transferir meus créditos quando voltasse, mas a Biologia tinha problemas de horário com outras matérias e acabei fazendo AP Environmental Science, ou seja, Ciência Ambiental avançada.

Essa era minha aula preferida com meu professor preferido. Eu gostava de tudo que ele ensinava, dos laboratórios, das pesquisas e dos trabalhos de campo, e adorava ainda mais o tanto que as aulas eram dinâmicas. Gostava do modelo de educação, totalmente diferente da coisa formulaica e rígida que existia nas minhas escolas no Brasil. Também ajudava que ele era lindo!

Enfim, não tem nada a ver com meu crush adolescente essa história, eu só achava ele bonito mesmo. O que aconteceu foi que um dia ele chegou bem estressado, com a cara fechada e falando rápido. Devia ter tido um dia bem ruim. Eu não lembro exatamente o que aconteceu, mas teve uma hora que ele disse alguma coisa bem irritado, tentei interpelar, e ele me mandou ficar quieto para continuar dando a matéria. E mandei:

— Why are you so pissed off?
(Por que você está tão puto?)

Eu fiz cinco anos de inglês antes de viajar, cheguei lá capaz de conversar com todo mundo, sabia ler de tudo e conseguia até fazer discursos. Só que meu inglês é conversacional, ou seja, eu aprendi muito bem a ouvir, falar, ler e escrever de forma natural, sem formalismos e gramática. Até hoje não sei direito o que significa a diferença entre “Simple Past” e “Past Perfect”.

Para mim, “pissed off” era informal, mas não ofensivo. Eu usava direto com a minha família (a que me hospedava) e com meus amigos. Mas com o professor, pegou mal. Bem mal. Ele, que já estava estressado, fechou a cara mais ainda e não olhou mais para mim. Lembro que disse algumas coisas sobre detenção e que estava decepcionado. Eu não entendi na hora, e ninguém queria me explicar.

Depois da aula, quando ele saiu (sem falar com ninguém direito — o dia devia ter sido ruim mesmo!), eu perguntei para uma colega e ela me explicou que isso não é um termo que pode ser usado com figuras de autoridade. Entendi e caiu a ficha.

Corri na sala dele para pedir desculpas… No dia, ele não aceitou muito bem, acho que ficou achando que eu estava usando justificativa esfarrapada para voltar atrás no que falei. Mas acho que depois entendeu.

Acabou que no fim do meu período lá, ficamos amigos e eu conheci a família dele, fomos na casa dele deixar um bolo e agradecer pelo ano ótimo que tivemos… Ele conheceu minha irmã e minha avó, que foram visitar. Só ficou a situação meio boba para trás! 🙂

Por que alguns portugueses preferem ler um livro em inglês a ler o mesmo livro em português do Brasil?

Leia minha resposta original no Quora.

Pensei um pouquinho aqui, me coloquei no lugar dos portugueses e decidi por duas hipóteses. Creio que alguns portugueses tenham a resposta em uma, e outros em outra. Espero que a 2 seja a mais popular!

Hipótese 1

Preciosismo… Na minha faculdade de Letras lemos vários autores portugueses: Fernando Pessoa, Eça de Queirós, Camilo Castelo Branco… Todos excelentes e muito bem comentados.

É difícil? Às vezes, especialmente se o autor é de muito tempo atrás. Depois de umas duas páginas, dá para começar a acostumar com as pequenas diferenças e, aliás, começa a ficar até prazeroso ao invés de irritante. É refrescante ver uma variação da língua, observar as sutilezas e os pequenos detalhes diferentes. Até a emoção é descrita de forma diferente.

Não sei por que os portugueses não gostam de fazer a mesma coisa. Só toleram os autores clássicos e consagrados do Brasil. Na minha opinião, eles que saem perdendo.

Hipótese 2

Eu prefiro assistir uma série em inglês no áudio original. Se for um inglês que eu não tenho costume de ouvir, como o irlandês ou o australiano, assisto com legenda em inglês. Se alguém estiver comigo, vejo com legenda em português. O original é sempre melhor.

É a mesma coisa com livros. Ler as palavras do autor, originais, do jeitinho que ele pensou e escreveu, sempre é melhor do que ler uma tradução. Tem tradutores muito bons que conseguem trazer para outra língua algo extremamente próximo das obras originais, mas nunca vai ser a mesma coisa.

Já que os portugueses falam inglês muito bem e aprendem desde cedo, fica fácil para eles acessar a escrita em inglês. E, assim, com certeza vai ser melhor ler o original.

Seria por essa prioridade: Original -> Português de Portugal -> Português do Brasil.

É o que mais faz sentido para mim. Tomara que eu esteja certo 🙂

Agora, se a obra original for, por exemplo, em finlandês, e o português preferir comprar a versão traduzida para o inglês antes de comprar a em português do Brasil, aí a hipótese 1 está correta e dá vontade de mandar aquele emoji virando os olhos para cima… heheh

Como que algumas pessoas, supostamente fluentes em português, não enxergam, por exemplo, num determinado trecho do texto traduzido por elas, a completa falta de nexo?

Leia minha resposta diretamente no Quora.

Porque quando estamos traduzindo, o cérebro se confunde e começa a traçar paralelos na língua que está sendo lida e analisada.

Por exemplo, hoje, durante o almoço, eu queria dizer para a minha vó que uma situação era absurda, inaceitável. Eu estava traduzindo um livro do inglês há pouco tempo antes, então ficou surgindo na minha cabeça a palavra preposterous, que traduz diretamente para absurdo. Mas eu queria uma intensidade maior do que absurdo, e por isso fiquei tentando traduzir o preposterous. Acabei inventando uma palavra: prepóstero. Não existe em português. Minha vó não entendeu.

Isso acontece o tempo todo, com expressões e palavras. A expressão faz sentido pra gente em inglês, ou outro idioma, e quando colocamos no português ela continua fazendo sentido, porque estamos tão envolvidos na língua sendo traduzida que a expressão em português parece ser comum. Só depois de revisarmos, com a cabeça fresca e de volta ao português pleno, que percebemos o tanto que a tradução ficou esquisita.

Isso pode ser mitigado (aí, outra coisa que a gente usa pouco no português, mas que no inglês é usado toda hora e influencia no meu raciocínio!) com a revisão. Aliás, mais de uma revisão. O ideal é que você mesmo(a) revise sua tradução umas duas vezes, e depois passe para outra pessoa revisar de novo. Isso sim configura uma tradução profissional.

Claro que, se você estiver perguntando sobre o Quora em específico, tem outro motivo bem grave: o Google Tradutor. Não sei se tem gente querendo se fazer de mais safa, esperta, ou se querem legitimamente ajudar, ou se acham que ninguém percebe, mas tem muita gente por aqui fingindo que sabe inglês e tentando traduzir texto usando o Google, e isso simplesmente não dá certo.

Estou dizendo que o Google Tradutor é ruim? Não. Que um dia ele não possa ser suficiente para traduções do Quora? Também não, ninguém sabe até onde vai a habilidade da Inteligência Artificial nos próximos anos. Mas, por enquanto, isso não é suficiente, e acaba atrapalhando a todos.

Fico me perguntando se tem gente recebendo nas traduções para fazer essa barbeiragem, ou sei lá. Não entendo a motivação dessa galera.

Mas taí. Nossa cabeça não divide tão bem assim as línguas. Não são como pastas independentes que você acessa em um arquivo. Elas se entrelaçam, e os sinônimos também. Às vezes, sabemos na ponta da língua o termo para uma coisa em um idioma secundário, mas não lembramos como dizê-lo no nosso.

Estou desde 15h da tarde tentando lembrar o nome em português para a moldura em volta da porta, mas tenho completamente claro na minha cabeça que, em inglês, se chama doorframe.