NASA propõe campo magnético para proteger a atmosfera de Marte

Em fevereiro desde ano, a Divisão de Ciência Planetária (PSD) da NASA recebeu um workshop comunitário em seu quartel-general em Washington, DC. Chamado “Workshop da Visão para 2050 da Ciência Planetária”, o evento recebeu cientistas e pesquisadores do mundo todo no capitólio para discussões em painéis, apresentações e debates sobre o futuro da exploração espacial.

Uma das apresentações mais intrigantes aconteceu em uma quarta-feira, primeiro de março, onde a exploração de Marte por astronautas humanos foi discutida. No decorrer da conversa, intitulada “Um Meio-ambiente Futuro de Marte para a Ciência e a Exploração,” o diretor Jim Green discutiu sobre como a implantação de um campo magnético poderia melhorar a atmosfera de Marte e facilitar missões tripuladas no futuro.

O consenso científico atual é de que Marte, assim como a Terra, já teve um campo magnético que protegia sua atmosfera. Cerca de 4,2 bilhões de anos atrás, o campo magnético do planeta desapareceu de repente, o que causou a lenta perda da atmosfera de Marte no espaço. Com o passar dos próximos 500 milhões de anos, Marte passou de um ambiente úmido e quente para o lugar frio e inabitável que conhecemos hoje.

Visão artística de uma tempestade solar atingindo Marte e desprendendo íons da atmosfera superior do planeta. Créditos: NASA/GSFC

Esta teoria foi confirmada nos últimos anos por satélites orbitais como o Mars Express, da Agência Espacial Europeia, e a Missão da Atmosfera e Evolução Volátil de Marte (MAVEN) da NASA, que têm estudado a atmosfera marciana desde 2004 e 2014, respectivamente. Além de determinar que ventos solares foram responsáveis pelo esgotamento da atmosfera de Marte, estas sondas também têm medido a velocidade das perdas atualmente.

Sem uma atmosfera, Marte continuará sendo um lugar frio e seco onde a vida não tem como florescer. Além disso, missões tripuladas futuras – que a NASA espera ter prontas nos anos 2030 – também terão que lidar com riscos severos. Os mais importantes destes serão exposição à radiação e o risco de asfixia, o que pode oferecer um perigo ainda maior aos colonizadores (caso quaisquer tentativas de colonização sejam feitas).

Para fazer frente a esse desafio, o dr. Jim Green – diretor da Divisão de Ciência Planetária da NASA – e um painel de pesquisadores apresentaram uma ideia ambiciosa. Em resumo, sugeriram que, posicionando um escudo de dipolo magnético no Ponto L1 Lagrange de Marte, uma magnetosfera artificial poderia ser formada envolvendo o planeta inteiro, bloqueando-o dos ventos solares e da radiação.

Naturalmente, Green e seus colegas reconheceram que a ideia pode parecer um pouco “fantasiosa.” No entanto, foram rápidos em enfatizar como novas pesquisas sobre magnetosferas em miniatura (para proteger tripulantes e naves) suportam esse conceito:

“Essa nova pesquisa está surgindo graças à aplicação de códigos completos da física do plasma e experimentos em laboratório. No futuro, é bem possível que uma estrutura inflável possa gerar um campo dipolo magnético em um nível de talvez 1 ou 2 Tesla (ou de 10.000 a 20.000 Gauss) como um escudo ativo contra o vento solar.”

O método proposto para criar um dipolo magnético artificial no ponto L1 Lagrange de Marte (inglês). Créditos: NASA/J. Green

O posicionamento desse campo magnético garantiria que as duas regiões onde a maior parte da atmosfera de Marte é perdida seriam protegidas. Durante a apresentação, Green e o painel apontaram que estes canais de maior escape estão localizados “sobre a calota polar do Norte, que envolve material ionosférico de maior energia, e na zona equatorial, que envolve um componente de baixa energia sazonal com escapes de íons de oxigênio que chegam a 0,1kg/s.”

Para testar a ideia, a equipe de pesquisa – que incluiu cientistas do Centro de Pesquisas de Ames, o Centro Goddard de Voos Espaciais, a Universidade do Colorado, Universidade de Princeton e o Laboratório Rutherford Appleton – conduziu uma série de simulações usando a magnetosfera artificial proposta. Estas foram executadas no Centro Comunitário de Modelação Coordenada (CCMC), especializado em pesquisas de meteorologia espacial, para ver qual seria o efeito total.

O que encontraram foi que um campo dipolo posicionado no Ponto L1 Lagrange de Marte poderia repelir os ventos solares a um ponto em que a atmosfera atingiria um novo equilíbrio. No presente, as perdas atmosféricas em Marte são balanceadas em certo nível por ultrapassagens da crosta e interior do planeta através de atividade vulcânica. Isso contribui com uma atmosfera na superfície com cerca de 6 mbar de pressão do ar (menos de 1% do observado no nível do mar terrestre).

Como resultado, a atmosfera de Marte ficaria mais grossa com o tempo, o que levaria a muitas novas possibilidades para a exploração humana e colonização. De acordo com Green e seus colegas, as mudanças incluiriam um aumento médio de temperatura de cerca de 4 °C, o que seria suficiente para derreter o gelo de dióxido de carbono na calota polar do Norte. Isso desencadearia um efeito estufa, esquentando mais a atmosfera e causando o derretimento do gelo de água nas calotas polares.

Em determinado momento, Marte tinha um campo magnético similar ao da Terra, o que impedia que sua atmosfera escapasse. Créditos: NASA

Pelos cálculos encontrados, Green e seus colegas estimam que isso poderia levar 1/7 dos oceanos de Marte – os que cobriam o planeta bilhões de anos atrás – a serem restaurados. Se isso está começando a soar como uma aula de como terraformar Marte, é provavelmente porque essas mesmas ideias foram propostas por pessoas que defendem isso. Mas por enquanto, essas mudanças facilitariam a exploração humana entre agora e o meio do século.

“Uma atmosfera marciana altamente melhorada, tanto na pressão quanto na temperatura, que fosse suficiente para permitir água líquida em níveis significativos também traria vários benefícios para a ciência e exploração humana a partir dos anos 2040, diz Green. “Assim como a Terra, uma atmosfera melhorada permitiria mais equipamentos pousando no planeta, um escudo contra a radiação da maior parte das partículas solares e cósmicas, uma extensão da habilidade de extrair oxigênio, e permitiria estufas abertas para a produção de plantas, entre outras coisas.”

Essas condições, como dizem Green e seus colegas, também permitiriam que exploradores humanos estudassem o planeta com maior minúcia. Ajudaria a determinar o quão habitável Marte é, já que muitos dos sinais que apontavam para isso no passado (como água líquida) voltariam a estar presentes no ambiente. E se isso pudesse ser alcançado em poucas décadas, certamente abriria caminho para a colonização.

Enquanto isso, Green e os colegas planejam revisar os resultados das simulações para produzirem um estudo mais preciso de quanto tempo essas mudanças previstas levariam. Também não machuca conduzir a análise de custo desse escudo magnético. Embora possa parecer algo vindo da ficção científica, não custa nada avaliar os números!

Conceito artístico de uma Marte terraformada. Créditos: Ittiz/Wikimedia Commons

Traduzido por Cláudio Ribeiro do site UniverseToday.

Níveis de CO₂ na atmosfera os mais altos em 3 milhões de anos!

Resumo:

A quantidade de dióxido de carbono na atmosfera está subindo em uma velocidade recorde. Apesar das boas intenções do Acordo de Paris, parece que ainda não estamos fazendo o suficiente para controlar o nosso impacto no meio-ambiente.

Novas alturas

As Nações Unidas emitiram um alerta de que ano passado, a concentração de dióxido de carbono na atmosfera subiu em um ritmo nunca antes observado. Os níveis atuais não são comparáveis a nenhum nível estimado nos últimos 3 milhões de anos.

A concentração de dióxido de carbono alcançou 403,3 partes por milhão (ppm) em 2016, comparadas às 400 ppm em 2015. A alta pode ser atribuída parcialmente às recentes mudanças causadas pelo El Niño, mas os números dos últimos anos revelam que esse não é o único fator.

A alta de 3,3 ppm entre 2015 e 2016 é maior do que a alta de 2,3 ppm entre 2014 e 2015. De fato, as altas anuais da última década eram somente na média das 2,08 ppm. A última vez que teve outro grande El Niño, em 1998, os níveis subiram em somente 2,7 ppm.

Os fatores ambientais só contam uma parte da história; a atividade humana também está causando a alta dos níveis. O relatório da ONU relata que o crescimento populacional, agricultura intensiva, desmatamento e industrialização são os maiores contribuintes das mudanças que estão acontecendo.

“Sem fazermos cortes rápidos nas emissões de CO₂ e outros gases causadores do efeito estufa, estamos caminhando na direção de aumentos perigosos da temperatura até o fim do século, muito acima da meta definida pelo acordo de mudança climática de Paris,” diz Petteri Taalas, chefe da Organização Mundial de Meteorologia, de acordo com um relatório do The Guardian.

Concordando em discordar

O Acordo de Paris foi criado com a intenção de fornecer um plano de ação que ajudasse os governos ao redor do mundo a combater o impacto de seus países no meio-ambiente. No entanto, o compromisso de cada nação em relação às suas obrigações ainda há de ser analisado.

Um relatório programado para ser publicado em breve apontará as formas como os esforços domésticos não alcançam as metas internacionais que foram definidas inicialmente. Como resultado, é improvável que alcancemos o objetivo de restringir o aumento global da temperatura a 2 ℃ sobre os níveis pré-industriais; poderemos chegar a até 3 ℃.

Isso não é o mesmo que dizer que nenhuma ação está sendo tomada: a França propôs grandes mudanças em todos os campos. A China também tem sido muito proativa, tendo fechado grandes quantidades de fábricas para reduzir a poluição.

Em outras partes do mundo, os esforços têm sido tímidos. O governo dos Estados Unidos está ativamente subestimando as ameaças da mudança climática apesar de grande quantidade de evidências de seu impacto. Além da política, as consequências de planejar a tão curto-prazo pode ser terrível para a humanidade.

Traduzido por Cláudio Ribeiro do site Futurism.