Movimento que nega HIV na Rússia está piorando a epidemia

Menos da metade dos russos com HIV estão tomando drogas antirretrovirais, parcialmente por conta de uma teoria da conspiração de que o vírus causador da AIDS é um mito inventado pelo Ocidente, segundo oficiais e ativistas.

Enquanto mortes relacionadas à AIDS e novas infecções por HIV estão caindo ao redor do mundo, no leste da Europa e na Ásia Central as estatísticas estão mais alarmantes a cada ano que passa.

De acordo com dados oficiais, 80 pessoas morreram diariamente de questões relacionadas à AIDS na Rússia nos primeiros seis meses de 2017, uma alta das 50 mortes diárias de 2016.

Mais de 900.000 russos estão vivendo com HIV hoje, com 10 novos casos a cada hora, segundo dados publicados pelo governo.

Mas menos da metade está tomando a medicação que poderia ajudá-los a levar uma vida normal e prevenir que passem o vírus adiante.

Muitos se negam a tomar os remédios voluntariamente depois de ler na internet que o HIV é um mito, segundo relatos oficiais.

Muitos daqueles que não fazem a terapia “não querem o tratamento por vários motivos,” segundo o legislador pró-Kremlin Alexander Petrov, chamando ONGs para ajudar “a alcançar aqueles que não acreditam [que o HIV existe].”

Sem tratamento, um indivíduo soropositivo pode continuar espalhando o vírus por muitos anos, e acabar morrendo com a AIDS.

Embora não seja claro quantos daqueles que não fazem o tratamento neguem a existência da doença e quantos são vítimas da falta de medicamentos, casos de recusa ao tratamento de crianças têm especialmente incomodado as autoridades.

“É inaceitável que no nosso tempo crianças estejam morrendo quando há vários tratamentos disponíveis,” diz Alexey Yakovlev, doutor-chefe do Hospital Botkin em São Petersburgo, onde uma menina de 10 anos morreu em agosto depois que seus pais religiosos negaram tratá-la.

Mas é difícil lutar contra alegações falsas nos tempos da internet, quando uma pesquisa no Google leva pessoas desesperadas diretamente a comunidades que oferecem mentiras confortáveis, como descrevem os ativistas.

O negacionismo existia no Ocidente e na África, mas globalmente “ele morreu com força efetiva,” de acordo com o site AIDSTruth, que lutou contra o fenômeno por anos antes de declarar o trabalho como “finalizado” em 2015.

Um caso de amor com teorias da conspiração

Na Rússia, a UNAIDS ajudou a fechar uma comunidade negacionista na popular rede social Odnoklassniki, mas ela simplesmente se mudou para outra plataforma, segundo Vinay Saldanha, diretor regional da UNAIDS do leste europeu e Ásia Central.

“É inaceitável que hajam fóruns e chats [negacionistas do HIV] na Rússia sendo tolerados por certas plataformas,” diz ele. “São como ratos, correm para um lugar diferente e continuam propagando suas ideias,” continua.

A AFP encontrou vários grupos negacionistas na rede social VK, o Facebook da Rússia, cada um com milhares de seguidores.

Quando perguntados pelo AFP por que os grupos achavam que o HIV não existia, o administrador de uma das comunidades disse “porque não,” seguido de vários xingamentos.

Um dos grupos chama o HIV de “o maior mito do séc. XX,” intrui as pessoas sobre como negar tratamento, e se refere a medicamentos antirretrovirais como veneno, médicos como assassinos que querem enriquecer empresas farmacêuticas.

“Um dos objetivos do mito da AIDS é diminuir a população do planeta a dois bilhões e estabelecer controle total” através de vacinações, segundo um destaque ideológico das visões negacionistas, Olga Kovekh, em uma conversa com a mídia local feita mês passado.

Kovekh é uma médica em uma clínica de Volgograd.

Parte do motivo de ideias tão excêntricas pegarem é o “amor dos russos por teorias da conspiração” e a crescente retórica anti-Ocidente, segundo Yelena Dolzhenko, que trabalha no centro de prevenção à AIDS de Moscou, a fundação SPID.Tsentr.

“Na TV, falam sobre como a Rússia está cercada de inimigos e que devemos lutar contra todos,” diz ela. Um ambiente perfeito para plantar ideias sobre uma conspiração ocidental da AIDS.

Drogados e gays americanos

O fenômeno do negacionismo também está crescendo porque o sistema de centros contra o HIV na Rússia estão com poucos recursos; médicos com pouco tempo disponível perdem a empatia para guiar pacientes a grupos legítimos de apoio, segundo Yekaterina Zinger, diretora da fundação Svecha em São Petersburgo.

“O maior motivo [para as pessoas se tornarem negacionistas] é a falta de consultas,” diz Zinger. “As pessoas não recebem informação o suficiente e começam a pensar que alguém está escondendo algo deles.”

“A tentação de acreditar que é um mito é muito alta,” diz ela, especialmente para pessoas heterossexuais que não estão em grupos de risco comumente associados ao HIV e que “não entendem como isso aconteceu com elas.”

Campanhas de saúde pública oficiais da Rússia propagandeando fidelidade e “valores da família” ao invés de camisinhas como a melhor prevenção ao HIV podem estar ajudando no negacionismo, segundo alguns ativistas.

Pôsteres vistos pela AFP em Moscou mostram um casal se abraçando, com a legenda “Seja íntimo somente com quem confia.” No entanto, 30% das mulheres americanas contraem HIV de seus únicos parceiros, diz Dolzhenko.

“Essas propagandas não ajudam, pioram a situação. O negacionismo do HIV pode vir disso,” diz ela. “Imagine uma garota ortodoxa que vai à igreja aos domingos, se casa, e depois descobre que é soropositiva.”

Enquanto o HIV continua sendo apresentado como uma doença de drogados e “gays americanos”, continua Dolzhenko, “essa garota vai pensar que não tem nada a ver com ela.”

Texto original traduzido do Yahoo! e com fontes da Agence France Presse.

Nota do tradutor:

Segundo os números brasileiros, temos 830 mil brasileiros vivendo com HIV, um número bem mais animador que o russo, considerando que a população de lá é de 144 milhões enquanto a nossa é de 202 milhões. Aqui, também graças ao SUS, 64% das pessoas soropositivas estão sob tratamento antirretroviral, o que significa que estão saudáveis e com cargas virais indetectáveis (onde a possibilidade de transmitir a doença é quase nula).

É importante ressaltar essas informações para que entendamos o poder das coisas que lemos e no que acreditamos. Em um momento onde estamos descontando ideias e opiniões como “petralhas” ou “coxinhas”, acabamos ignorando coisas com as quais realmente concordamos em nome de um papel ou uma posição. Há homens que se recusam a fazer o teste de detecção de DSTs por acreditarem que são fortes demais para pegar qualquer coisa, e há pessoas que acreditam que, já que há um tratamento eficaz, pegar HIV é algo interessante por poder ser dispensada a camisinha. Em todos os casos, heterossexuais podem sim pegar HIV e correm o risco de várias outras doenças no sexo sem proteção, assim como aqueles que já têm HIV e dispensam a camisinha podem encontrar complicações e dores de cabeça muito piores em outras doenças.

Outro risco das conversinhas e opiniões desencontradas na internet é a desinformação a respeito da educação sexual. Como acontece na Rússia, enquanto ficamos discutindo o que é uma aula sobre gênero, milhões de adolescentes mulheres poderiam ter evitado uma gravidez indesejada e outros milhões de adolescentes poderiam ter se precavido de contrair doenças sexualmente transmissíveis enquanto jovens. A educação sexual nas escolas é importante e deve ser ensinada aos adolescentes. O discurso religioso de que isso gerará depravação ou sexualização precoce é equivocado e perigoso, pois está causando a morte e a debilitação da nossa próxima geração.

Um exemplo muito importante que aconteceu na nossa cultura ocidental com a desinformação foram os grupos anti-vacina, que causaram muitos transtornos e mortes nos EUA e começam a dar seus primeiros sinais aqui no Brasil. Felizmente, se negar a vacinar os filhos em nosso país é considerado ilegal, embora muitos pais desavisados e com tendências às teorias da conspiração encontrem formas de esconder a falta de inoculação de seus filhos. É perigoso! Faz mal a todos.

Espero que esse texto tenha ajudado a elucidar alguns sobre os riscos do negacionismo, da conspiração e da falta de conferência sobre o que lemos.

Rússia finalmente admite nuvem de radiação sobre a Europa

Resumo:

Depois de meses negando, a Rússia confirmou a detecção de níveis mais altos que o normal de um isótopo radioativo sobre a maior parte da Europa em setembro de 2017. Essa confirmação vem depois do relatório do Instituto Nacional Francês de Proteção da Radiação e Segurança Nuclear (IRNS) sobre o incidente, publicado no início de novembro.

Foi confirmado

Em setembro de 2017, várias agências de monitoramento detectaram uma quantidade incomum de radiação sobre a maior parte da Europa. Vários países europeus sugeriram que a fonte dessa nuvem de radiação poderia ser a Rússia. Enquanto isso, autoridades russas negaram até mesmo a detecção da nuvem — até agora.

Em 21 de novembro, a agência de serviços meteorológicos russa corroborou os achados do Instituto Nacional Francês de Proteção da Radiação e Segurança Nuclear (IRNS), uma das primeiras agências de monitoramento a perceber os níveis elevados de rutênio-106, o isótopo radioativo do raro metal pesado rutênio.

Dia 9 de novembro, o IRNS disse que havia detectado rutênio-106 sobre a França de 27 de setembro a 13 de outubro em níveis de poucos milliBecquerels por metro cúbico de ar. As medidas apontaram para uma fonte em potencial da nuvem de radiação, algum lugar entre o Volga e os Urais, um rio russo e uma cadeia de montanhas, respectivamente.

https://www.portoribeiro.com/betano-ou-estrela-bet/
Fonte: IRSN

A Roshydromet confirmou “contaminação extremamente alta,” detectando níveis de rutênio-106 1.000 vezes maiores do que em amostras comuns examinadas por duas estações meteorológicas na região sul das montanhas Urais. Isso é consistente com os achados franceses.

No entanto, Maxim Yakovenko, diretor da Roshydromet, disse que o país não era o responsável pela nuvem de radiação. “Os dados publicados não são suficientes para estabelecer a fonte da poluição,” comentou ele em um comunicado, de acordo com o The New York Times.

Enquanto isso, a Rosatom, corporação estatal responsável pela indústria nuclear da Rússia, disse que a radiação não veio de nenhuma de suas instalações, relata o Associated Press.

Motivo para se preocupar?

Então, os europeus deveriam estar preocupados que níveis mais altos do que o normal de isótopos radioativos têm flutuado pelo continente?

De acordo com o IRNS, a resposta é “Não.” Em seu relatório, apontam que os níveis de rutênio-106 detectado na Europa “não oferecem consequências à saúde humana e ao meio-ambiente.” Desde 13 de outubro, não detectaram mais traços do isótopo sobre a França.

Malcolm Sperrin, diretor do departamento de Física Médica e Engenharia Clínica dos hospitais da Universidade de Oxford, disse em um comentário compartilhado pelo Science Media Centre que é importante contextualizar a situação.

“O rutênio é muito raro, o que sugere que sua presença foi causada por um evento de algum tipo. Dito isto, a abundância natural é tão baixa que até mesmo um fator de 900 acima de níveis naturais ainda é muito pouco,” disse ele.

O professor de física nuclear Paddy Regan, da Universidade de Surrey, compartilha do otimismo em seu próprio comentário ao Science Media Centre.

“Os níveis não são particularmente altos, e o fato de que o decaimento […] do isótopo parece ter sido medido isoladamente ao invés de junto ao coquetel padrão de assinaturas de outros fragmentos de fissão sugere um vazamento de uma planta de combustível/reprocessamento ou em algum lugar onde estejam separando [o rutênio], possivelmente para materiais médicos de radiofarmacêuticos/diagnósticos,” diz ele.

Se algo é motivo para preocupação, pode ser a hesitação das autoridades russas em confirmar e compartilhar informações sobre a radiação. O país manteve os detalhes do terceiro pior acidente nuclear do mundo, o desastre de Kyshtym, em segredo por quase duas décadas, e tal sigilo de quaisquer futuros incidentes nucleares podem prejudicar os esforços em proteger uma população de um risco em potencial.

Traduzido do site golden 777 slot.