Texto original: Jessica Hamzelou
Uma rede de canais cheias de fluido recentemente descoberta no corpo humano pode ser um órgão nunca antes conhecido, e parece ajudar a transportar células cancerígenas pelo corpo.
A descoberta foi feita sem querer, a partir de endoscopias de rotina – um procedimento que envolve inserir uma pequena câmera no trato gastrointestinal das pessoas. Novas formas de abordar o exame permitem que os médicos usem esse procedimento para dar uma espiada microscópica no tecido dentro do intestino também, com alguns resultados surpreendentes.
Uma equipe esperava encontrar o duto biliar rodeado por um tecido duro e denso. Ao invés disso, viram padrões estranhos e inexplicáveis, e levaram suas descobertas até Neil Theise, um patologista da Escola de Medicina da Universidade de Nova York.
Amortecedores de impacto
Quando Theise usou o mesmo dispositivo de endomicroscopia para analisar a pele de seu próprio nariz, viu um resultado parecido. Investigações mais aprofundadas de outros órgãos sugerem que estes padrões são feitos por um determinado fluido que se move através de canais em todos os cantos do corpo.
Theise sugere que todo tecido no corpo possa estar cercado por uma rede destes canais, que essencialmente formam um órgão. A equipe estima que o órgão contenha cerca de um quinto do volume total de fluido no corpo humano. “Achamos que agem como amortecedores de impacto,” diz Theise.
Esse órgão provavelmente nunca foi visto antes porque abordagens comuns de processar e visualizar o tecido humano causa a drenagem dos canais, e as fibras de colágeno que formam a estrutura dessa rede colapsam sobre si mesmas. Isso faria os canais parecerem uma parede dura de tecido protetor denso, ao invés de um amortecimento cheio de fluido.
Transporte cancerígeno
Mas assim como a proteção dos órgãos, a rede pode ajudar a espalhar o câncer. Quando a equipe de Theise examinou as amostras tiradas de pessoas com cânceres invasivos, encontraram evidências de que células cancerígenas que conseguiam sair de seus tecidos originais poderiam conseguir entrar nesses canais, posteriormente sendo levadas diretamente ao sistema linfático. “Depois que entram, é como se estivessem em um tobogã,” diz Theise. “Temos uma nova janela no mecanismo da propagação do tumor.”
Theise e seus colegas agora estão investigando se uma análise do fluido nesses canais recém-descobertos podem levar a diagnósticos mais rápidos de cânceres. Também acham que o órgão possa estar envolvido com outros problemas, incluindo o edema, uma rara doença do fígado, e outras doenças inflamatórias.
Referência acadêmica: Scientific Reports, DOI: 10.1038/s41598-018-23062-6
Traduzido do site NewScientist.
Atualização: o órgão já foi batizado em inglês de “interstitium,” o que provavelmente vai se traduzir para “interstício” em nosso idioma.