Por que tanta gente odeia o Bolsonaro e seus seguidores?

Bolsonaro é um político que gosta de agradar uma maioria, só que a maioria dele é só a que ele inventou. Tem um segmento do país que gosta muito dele: pessoas que querem ter mais liberdade para portar armas (e as empresas que as fabricam), pessoas que não concordam que o país seja laico, mas cristão (e que as outras religiões não tenham direitos garantidos), que homossexuais e transexuais não tenham os mesmos direitos que as outras pessoas (porque na cabeça dele são doentes que não contribuem para o país), e que negros pobres estão nessa situação porque são incompetentes (e não porque a sociedade os empurrou para isso após o fim da escravidão). Ele considera que as mulheres devam ficar em casa e caladas quando sofrerem abusos e agressões. Além disso tudo, ele considera que todos os nordestinos são pessoas vagabundas que só dependem de assistencialismo e não produzem para o país.

Bolsonaro chama governadores do Nordeste de ”Paraíba”; gestores reagem

A questão é que os LGBT, os negros, os pobres, os nordestinos, as mulheres e as pessoas de religiões minoritárias são, sim, minorias, mas somadas elas se tornam uma maioria. Lembremos que Bolsonaro venceu as eleições no segundo turno com 55,13% dos votos válidos. Do total de votos, 21,3% não compareceu às urnas e 9,57% dos votos foram nulos ou brancos, ou seja, quando ele venceu, apenas 38,11% dos brasileiros votaram nele. Os outros 61,89% não o queriam como presidente ou não eram necessariamente apoiadores.

Após 7 meses, Damares não gastou um centavo com Casa da Mulher Brasileira | Exame

Existem pessoas que não querem que a Amazônia seja desmatada desenfreadamente, sem regulamentos ou Reservas Florestais. Os índios, que também são brasileiros, com RG e CPF, também são eleitores e estão sendo ativamente caçados e mortos por apoiadores de Bolsonaro. O presidente deu as costas para eles, então obviamente os índios têm todo direito de odiá-lo.

Com Bolsonaro, fazendas foram certificadas de maneira irregular em terras indígenas na Amazônia

Existem pessoas que não querem ser agredidas fisicamente por se relacionarem com pessoas do mesmo sexo, e essas pessoas também querem que se tornem leis os direitos à adoção e ao casamento, bem como a proibição da LGBTfobia para que esses ataques acabem. Todas essas coisas foram garantidas, mas ainda não são leis. Bolsonaro incentiva pessoas que vão contra os direitos desse grupo e virou as costas para eles, então obviamente os gays, lésbicas e transexuais têm todo direito de odiá-lo.

“Ter filho gay é falta de porrada”, diz Bolsonaro

Existem pessoas que buscam a igualdade entre diferentes etnias e religiões, e para isso há a lei contra a intolerância religiosa e as cotas universitárias para negros e estudantes das escolas públicas. Essas pessoas querem as mesmas chances de sucesso do que os ricos, que têm acesso às escolas particulares e estão tendo aulas online agora para assistir no computador enquanto filhos de faxineiras ficam sozinhos em casa com apenas um celular para estudar. Bolsonaro não concorda com cotas e acha que essas crianças devem ficar na classe social onde estão, portanto os pobres têm todo direito de odiá-lo.

Bolsonaro promete reduzir cotas para universidades e concursos

Se eu continuar dando exemplos aqui, vai ficar grande. Acho que quem quiser entender, já pegou a dica.

Por que tanta gente odeia Bolsonaro? Porque ele virou as costas para a maioria dos brasileiros, achando que todos seriam minorias isoladas, e se tornou um presidente para apenas aqueles que concordam com ele. Porque ele espalha notícias falsas e agride diversos grupos de brasileiros sem consequências. Porque ele está desrespeitando os outros poderes políticos e sendo oligárquico com seus filhos e com a aparelhagem do Rio de Janeiro.

Bolsonaro diz que menção à interferência na PF é sobre segurança familiar

Além de tudo isso, também fica difícil não odiar o Bolsonaro quando você tem um familiar que morreu de Covid-19 enquanto ele fica repetindo “cloroquina” e saindo por aí sem máscara. Por enquanto, isso não é o caso de todo mundo, mas pela tendência da doença, logo seremos todos um desses brasileiros. Muitos policiais já deixaram de apoiá-lo porque correm muito risco na profissão e já perderam colegas para a doença. Dessa forma, até dentro dos poucos grupos que restam ao presidente como apoiadores, alguns já começam a ficar bambos.

Então fica aí. Sem nem falarmos de esquerda ou do PT, sem nem precisar ser alguém intitulado esquerdista, se focarmos APENAS nas grandes contribuições de Jair Messias Bolsonaro, sobram motivos para não gostar dele.

Quando fingi ser uma mulher gata no chat

Este texto é uma tradução da postagem do usuário /u/ComfyRug no subreddit /r/truecreepyPMs, no Reddit. Como o papo é extremamente relevante e traz uma nova perspectiva sobre relacionamentos em chats online e muitas vezes na vida real, como o WhatsApp e as mensagens do Facebook, resolvi trazer para cá e compartilhar com todos. Te faz pensar sobre o assédio que as mulheres sofrem e as coisas que elas acabam tendo que ouvir.


Como devem perceber pelo título, eu passei o dia fingindo ser uma mulher gostosa no aplicativo de mensagens Kik. Pergunta óbvia: por quê? Não sei, na verdade. Você só sabe de fato o que experimenta e acho que eu estava curioso. Visito muito esse subreddit e me perguntava, sinceramente, “onde essas pessoas acham esses malucos”. Depois deste experimento, a resposta passou a ser um genérico “online”. Vamos debater o que aprendi.

Homens amam seus pintos e querem precisam que você olhe para eles

Eu sabia que entrando nessa eu seria bombardeado por diversos pênis de todo canto do mundo, mas a quantidade com que me deparei foi impressionante. Abaixo estão só os que parei para tirar uma screenshot, mas literalmente cada palavra desse parágrafo poderia linkar para um cara diferente. Um foi gentil o suficiente de me mandar três. Todas as fotos de pintos diferentes. Acho que o motivo por trás da foto do pinto é que, na cabeça deles, se uma garota mandasse uma foto da periquita para um cara aleatório, ele amaria isso, então por que não retornar o favor?

1
♂ – Eii
♂ – De onde você é
♂ – Você é sexy
♂ – Pode me mandar umas fotos?
♂ – Ok?
♂ – Quer ver meu pinto?

2
♂ – Belos peitos
♂ – Você gosta de pau?
♂ – [Foto do pinto]
♂ – Estou tarado em você

♂ – Ei gatinha
♂ – Ei, está interessada em umas fotos do meu pau? Quero mesmo mostrar
♂ – Não precisa mandar nada de volta

Você pode se safar com o que quiser quando é gostosa

E com o que quiser mesmo. Obviamente as imagens não refletem minhas opiniões, eu só queria ver até onde poderia ir. Conversei com ele por muito tempo e ele claramente não era racista, islamofóbico ou anti-semita, ele só fingiu que conversava comigo. Na verdade, ele não foi o único. Eu fingi ser incrivelmente estúpido, conspiracionista e alguém com problemas genuinamente psicológicos. Eles não assimilaram nada que eu dizia, eu falava com eles e eles só assentiam na esperança de que se concordassem o suficiente com minhas ideias idiotas, seriam premiados com nudes.

6
♂ – Hahaha okay lol
♂ – Estou asisstindo World’s Strongest Man
♀ – Tem negros, judeus ou muçulmanos?
♂ – Parece que não! 😉
♀ – Ótimo! Odeio tanto eles
♂ – Compreendo haha

4
♀ – Ei, você não é judeu ou negro, é?
♂ – Oi! Hehe não, sou da Noruega lol
♀ – Lol que bom, eu odeio os negros e os judeus tanto
♀ – Muçulmanos também
♂ – Sério!?! Haha lol! Bem, sou bem branco!

5
♀ – Ótimo! Odeio tanto eles
♂ – Também não sou muito fã de muçulmanos 😛
♀ – Que bom, odeio a forma que estão tentando tomar conta do mundo
♂ – O que está fazendo de bom?
♂ – hehe é! Tô sabendo 😛
♀ – Procurando no Google por que Barack Obama é um muçulmano e vc?

Finalmente me tornei popular, e foi divertido no começo

Postei meu usuário no Kikfriends, falei que era do sexo feminino e buscava homens e mulheres para conversar. Não tive que esperar muito. Imediatamente, meu celular estava explodindo com mais pessoas querendo conversar comigo do que eu podia responder. Eu diria que nesse um dia (bem, cerca de 12 horas) recebi mais de 300 mensagens. As estatísticas no Kikfriends dizem que tive 848 visualizações até escrever esse texto.

Agora, sou um cara bem no meio do caminho. Não sou incrivelmente atraente, sou bem introvertido e só lido com um pequeno grupo de amigos. Não fui popular na escola, nem excluído. Mas hoje me ensinou o que ser popular significa e, para ser sincero, é ótimo. Parecia que todos queriam sair comigo, que dizerem que me conheciam era algum tipo de conquista. Eu nunca tive isso antes e me deixei levar, mas quando você percebe o por quê de serem legais com você, a mágica meio que acaba. Eu fui de “olhe para mim, venha falar comigo” para querer ser evitado. Eu sabia que todas as pessoas que me enviavam mensagens tinham um propósito e isso acaba com a gente. Eu não era mais uma pessoa. É difícil explicar, mas dado o conteúdo deste subreddit, tenho certeza de que já estão familiarizados (as).

Você aprende a odiar apelidos BEM RÁPIDO

Eu nunca fui de chamar a namorada de querida, gatinha, fofura ou o que for. Não me desce bem. É como quando os professores tentam ser legais, é muito óbvio que é forçado. Nunca tive um problema com apelidos, isso que quero dizer, só não os utilizava. No entanto, agora eu os detesto. Eu usava um nome no meu perfil para ser mais fácil falar comigo. Usei o nome Mônica. A quantidade de vezes que fui chamado de “sexy”, “linda”, “babe”, “querida” ou o pior de todos, “bb” (VOCÊ ESTÁ ECONOMIZANDO DUAS LETRAS, NÃO FACILITA EM NADA) eu já perdi a conta. Realmente começou a me incomodar mais do que deveria. O que apelidos como “linda” e “sexy” representam para mim agora são só palavras que mostram as intenções dos caras, que você não é uma pessoa, sim um corpo onde eles querem fazer sexo. Um receptáculo para a semente. Literalmente, só isso. Isso não é nada de novo, mas é um tema recorrente.

Você se torna grosso por necessidade

Não sou uma pessoa brava. Não sou uma pessoa má. Não consigo machucar os outros. Hoje foi diferente. Os casos abaixo podem não soar muito ruins para você, mas eu nunca fui tão diretamente horrível para uma pessoa antes disso, e me senti muito mal. Mas acredite ou não, era a única forma de fazê-lo parar de falar comigo. Sem o contexto, eu pareço ser grosso sem necessidade, mas o que você não vê é que ele disse que era minha culpa que os caras estavam mandando fotos do pinto (mais sobre isso a seguir) e estava sendo muito chauvinista. Eu falei que não queria falar com ele porque tínhamos opiniões distintas mas ele continuava aparecendo e perguntando se já fiquei com uma garota e se elas são “mais gentis” que os caras, perguntava o tamanho do meu sutiã e se já fiz anal. Eu dizia “por favor, pare de falar comigo”, ele parava por cinco minutos e voltava com “qual o maior pau que você já transou?”. A foto é de quando ele deve ter ficado sem falar comigo por uma meia hora para aparecer de repente falando de como o pai dele o estava irritando ou algo assim. Estava ficando demais. Eu odiaria ser grosso assim além desse experimento.

7
♂ – …tudo que ele está fazendo é gritar
♀ – Não me importo, e nem quero saber. Não somos amigos, não somos nada.
♂ – Você parece a Amy Winehouse.
♂ – Pensei em comentar.
♂ – Au revoir.
♀ – Tchau

8
♂ – Au revoir.
♀ – Tchau
♂ – E minha namorada te acha bem bonita.
♂ – Lol. Se ela soubesse que bruxa você é…
♂ – Lol. Tchau
♀ – Por favor, pare de falar comigo, já concordamos que não somos compatíveis

É culpa minha que os caras me tratam assim (e é o que eu quero)

Comecei isso para provar a mim mesmo que não era tão ruim quanto parecia. Eu estava errado. Realmente queria conversar com as pessoas e esperava que ser mulher seria uma mera formalidade. Não estava querendo fotos de pinto e homens me chamando de puta para tirar foto da tela e dizer “ha, homens são uns babacas”. A foto que escolhi foi do que eu considero atraente, e admito que tinha um pouco de decote, mas não era muito e não era o foco da foto. Só estava lá. Então, quando eu recebia coisas como as abaixo, me irritava para caramba. De novo e de novo uns caras apareciam dizendo “Desculpe”, eu perguntava “Por quê?”, para ler que iriam me mandar fotos porque meus peitos estão à vista. Vai à merda. Além disso, significa que se há um decote na sala os homens se tornam incapazes de tratar mulheres como seres humanos? Porque foi isso que aprendi hoje. Era minha culpa. Porra, a menina da foto que usei deve ter sido estuprada umas cinco vezes no dia que ela usou aquela blusa.

♀ - Se for sobre meu corpo, não ♂ - lol ♂ - Não é exatamente sobre seu corpo ♀ - A resposta provavelmente é não, você não pode perguntar ♂ - Por que está mostrando os peitos desse jeito, não é para chamar a atenção?
♀ – Se for sobre meu corpo, não
♂ – lol
♂ – Não é exatamente sobre seu corpo
♀ – A resposta provavelmente é não, você não pode perguntar
♂ – Por que está mostrando os peitos desse jeito, não é para chamar a atenção?

Você conhece gente para conversar, mas é difícil escapar do fato de que querem te ver pelada

Conheci uns caras que deu para conversar, tive papos divertidos e foi ótimo. Mas então o abaixo acontecia. Era péssimo, muito péssimo. Eu não tenho palavras para isso. Conheci o outro lado da “friend zone”. Eu era a garota com o amigo homem que queria namorá-la e oh, que pena, o garoto realmente quer namorar a garota mas ela só quer ser amiga dele e que pena para o cara. Foda-se o cara, que ele tome no cu. Eu não estava flertando. Eu era eu, fingindo ser do sexo feminino. Eu falei do time de futebol para que torcia (vamos lá, Barça!), os jogos que eu gostava de jogar, as séries que assistia. Eu não estava piscando os olhos e dizendo “você será o Jamie para minha Cercei? hihi” mas o assunto sexo sempre chegava e era sempre inevitável. Eu dispensava como se não tivesse lido nada e continuava, como ele. Então o assunto voltava de novo e de novo. Depois que você estabelece que não conversará sobre sexo ou nudes, eles se entediam e, na maioria das vezes, te deixam sabendo.

10
♂ – O filme foi bom, sim
♀ – Preciso assistir, então
♂ – Faça isso 😉
♂ – Você é quase tão nerd quanto eu lol
♀ – Lol posso ser bem mais nerd que você
♂ – Peitos
♂ – Estou certo que sim 😛

11
♂ – E o ciclo se completa
♂ – Geek
♀ – Culpa do Batman, é o que estou dizendo
♀ – Casamento Vermelho? Batman.
♂ – Você vai ter que me mostrar um pouco do seu peito logo, meu lado tesão está tomando conta do lado nerd 😛

12
♂ – As pessoas costumavam acreditar que beijar um burro melhoraria uma dor de dente
♀ – Eu já sabia, se eu soubesse Klingon eu diria algo sobre como você perdeu ou algo assim
♂ – Pfft
♂ – Se eu soubesse como te convencer a mandar uma foto dos seus peitos eu faria isso
♀ – Como todos

13
♂ – Você pode me chamar de dr. Patrick
♀ – Lol
♂ – É um não, então? Haha
♀ – Lol sim
♂ – Pssht
♂ – Isso não foi divertido
♂ – Lol
♀ – Lol

 

Homens têm suas fantasias e você não tem escolha de participar ou não

Eu fingi ser uma mãe de primeira viagem procurando um cara para me suportar. Fingi ter pouca formação, ser racista e infiel. Na primeira vez que fiz a personagem, o cara mordeu a isca. Disse que cuidaria de mim, me mandaria dinheiro, a coisa toda. Então ele começou a me chamar de piranha, vagabunda, me mandou fotos do pinto me dizendo “Você ama isso, sua puta nojenta.” Até esse ponto, nada do que eu havia dito o faria crer que eu me excitava com humilhação. Nadinha. Nada. Eu parei de encenar e perguntei o que diabos ele estava fazendo. A resposta dele foi “Achei que era o que você queria.” Foi óbvio que esse era o fetiche dele e que eu tinha que participar. Ele nem foi o único. Conversei com outro cara que queria que eu fingisse que ele era minúsculo e que eu ia esmagá-lo (?). Não sei o que ele queria. Não estou ridicularizando tal fetiche, e se é o que você gosta, ótimo, mas eu nem conheço. Enfim, o ponto é que esses fetiches foram forçados em mim e não se importaram com minha perspectiva. Combina com o tema recorrente de que não sou humano para eles. Sou uma foto no celular que poderia ser um jogo bem desenvolvido. Diga as coisas na ordem correta e você ganha!

Homens fingem ser mulheres (COMO OUSAM)

O que quero dizer é que incontáveis vezes uma mulher me mandou uma mensagem e depois tentou arrumar uma foto minha. “Poderia ser uma lésbica”, foi o que te ouvi dizer? Errado. Era muito óbvio que as fotos que estavam mandado eram roubadas de algum site. Cada vez que diziam que iam me mandar uma foto “delas”, vinha de algum álbum (Eu não estava pedindo por fotos, eles que insistiam que se mandassem algo, eu deveria mandar também). Longe de ser algo nível “Onze Homens e um Segredo”. Acho que eles genuinamente acreditam que mulheres ficam peladas entre si o tempo todo. Que os vestiários são como aquela cena de “Não é Mais um Besteirol Americano”, que é claro que toda mulher já teve uma experiência lésbica. É de se admirar que realmente achem que mulheres são tão diferentes que não fazem as coisas como eles.

Dei para um cara exatamente o que ele queria e me senti mal por isso

A foto da mulher que eu usei também veio com uma foto dela pelada. Ela é uma Modelo da Página 3 meio obscura, então não se sinta mal que a foto dela pelada está por aí, porque já estava antes. Enfim… Um cara me mandou uma mensagem com a foto do pinto dele e decidi ver qual seria o resultado disso. Mandei umas outras fotos (da mulher vestida) e ele respondeu com mais nudez, então mandei a foto pelada. Depois do que imagino que foi ele ejaculando (sou hétero, mas me dediquei a isso), nós conversamos. Conversamos sobre de onde ele era, os planos dele para o futuro etc. etc. Papos profundos que imagino que contam como conversa de travesseiro? Depois de um tempo, ele começou a dizer que me amava. Pensei a mesma coisa que você deve estar pensando agora, “os caras dizem qualquer coisa para conseguirem o que querem.” Então disse isso a ele. Ele começou a me contar que nunca teve uma namorada, que é muito solitário e que eu fui a primeira pessoa a me interessar nele, que ele talvez não saiba qual a sensação de amar, mas que estava sentindo algo. Eu não sei por quê, mas isso acabou comigo. Toda vez que eu vi uma foto de um pinto eu só via esse cara por trás daquilo, alguém que não sabe se conectar com as mulheres, que é solitário e, normalmente, uma boa pessoa. Não estou defendendo os caras que saem jogando os pintos na sua nossa cara. De verdade. Eles estão errados e precisam saber disso. Mas não parecem ser exatamente horríveis, só realmente acham que isso é o que você quer, por mais ilusão que seja. Acham que isso fará que goste deles. E isso me deprime. Essas pessoas não vão ter tanta sorte com potenciais relacionamentos e não conseguirão perceber que isso é culpa deles. Culparão as mulheres e, bem, foi assim que o  /r/TheRedPill/ surgiu.

Para terminar com bom humor, eis uma foto de perfil de um dos caras que veio conversar comigo:

14Preciso ir ver umas fotos de cachorrinhos ou algo assim agora.

Universidade Federal de Ouro Preto: onde a homofobia é institucionalizada

Edição posterior (12/01/18): esta postagem foi escrita no primeiro semestre de 2015. Os relatos aqui anunciados podem estar desatualizados e/ou não condizer com a realidade atual. Se estiver preocupado(a) sobre ingressar, procure o grupo da UFOP no Facebook e consulte os estudantes.

Quando descobri que eu tinha passado para a UFOP esse ano, fiquei muito feliz. Fui aprovado para uma das faculdades mais conceituadas do país para um curso ótimo. Voltei a ficar perto dos amigos de infância e das origens da minha família, e vim morar em uma das cidades mais históricas e significativas do Brasil. Era tudo flores, mas logo que cheguei tomei um susto. Procurando por repúblicas para morar, me deparei com um problema que eu jamais imaginei que minha geração ainda precisaria lidar: ninguém me queria.

Esses homens não me conhecem. Não sabem de onde eu venho, não sabem o que eu já estudei, nem de quem sou filho, o que faço, o que sei ou o que penso da vida. A cada minuto chegavam mais e mais mensagens de repúblicas federais e privadas me convidado para conhecer suas casas, bater um papo, tomar um “café”. Todos me parabenizando por ser mais um que entrou em uma das Engenharias. Até aquele ponto, eu só era um calouro e, por extensão, tudo que eles queriam e procuravam: mais uma pessoa para dividir custos e biritas, ou mais alguém para levar adiante a tradição da casa. Achei que seria fácil, que eu teria um leque de opções e que encontraria o lugar que tinha mais a ver comigo em pouco tempo.

Infelizmente, em Ouro Preto, estar fora do armário não é algo visto como corajoso, sincero ou sensato. Por respeito, minha atitude em todas as repúblicas que me interessaram foi a de assumir (de novo). Mesmo depois de ter conversado com esses vários universitários e me dado bem com eles, contado um pouco de quem eu sou e de onde vim, a partir do momento que eu me assumi, deixei de ser calouro e me tornei mais um gay que chegou na cidade. Alguém que não tem direito de entrar nas repúblicas federais (gratuitas, públicas e – teoricamente – de livre acesso para estudantes que não têm condições de pagar as privadas) e que não deveria se misturar com a tradição universitária ouropretana. Se às 10h da manhã eu tinha 10 casas para morar, às 10h da noite eu não tinha nenhuma. E entrei em pânico.

Por sorte, as pessoas vão se virando, e afinal o ser humano é ótimo contra adversidades. Como eu obviamente não sou o primeiro homossexual a chegar em Ouro Preto para cursar o Ensino Superior, pude encontrar amigos, fazer novos, encontrar uma casa fantástica e entrar na vida social da cidade. O incômodo que não passa, no entanto, é o absurdo de conviver com a realidade de que os gays estão segregados, assim como certos cursos, por simples implicância e desinformação. É impossível ignorar o fato de que repúblicas federais deveriam ser para todos, em especial os que delas precisam, e não só para heterossexuais dispostos a passar por trotes mais severos. Não me conformo que, a essa altura do campeonato, pessoas com menos de 25 anos de idade ainda estejam assimilando e repassando a ideia de que nada há de proveito em um ser humano se “gay” for uma característica.

Não vou dizer que essa é a primeira vez que enfrento preconceito, até porque isso seria impossível, mas em outros cantos onde estudei, como no Rio de Janeiro, vencer isso foi fácil. Meu curso de Biblioteconomia me introduziu a um campus onde a homofobia é praticamente inexistente, e os poucos que ainda estranham a homossexualidade acabam percebendo que não existe nenhum monstro ali, aprendem a conviver e se integram. Meu melhor amigo do curso era hetero e eu nunca tive que lidar com um olhar torto. Depois de um ano e meio, quando mudei para Administração, foi um pouquinho diferente. Eu era o único gay da turma, ou o único que tinha um relacionamento declarado no Facebook e não ligava de responder perguntas sobre isso. Os meninos estranharam porque nunca lidaram com isso, mas em duas horas estávamos todos bebendo como se nos conhecêssemos há dois anos. Vieram as perguntas curiosas e, depois de respondidas, ser gay voltou a fazer parte do segundo plano na minha vida. Me acostumei com isso, com a ideia de que as pessoas da nossa geração eram sensatas e compreendiam que é impossível todo mundo gostar da mesma coisa. Me enganei.


Muito pode ser dito sobre a rejeição de gays em repúblicas masculinas. Dos argumentos mais usados, alguns homens dizem se sentir desconfortáveis de se trocar na frente de um homossexual, como se uma pessoa gay jamais tivesse visto um homem pelado na vida ou como se todos os heterossexuais provocassem uma atração violenta em homossexuais que os fizessem tornar-se predadores sexuais automaticamente. Bom, sabemos todos que nenhuma das duas coisas é verdade. Hetero, eu também uso banheiros públicos, com mictórios sem divisórias e chuveiros sem cortina. Eu também frequento vestiários de clubes, e já vi amigos – gays e heteros – pelados. Já namorei e já fiz muito sexo nessa vida. Seu corpo não é nenhuma novidade para mim, e a menos que você também seja gay, não tenho o menor interesse nele. Lembre-se que virei seu colega de quarto porque precisava de um lugar para morar enquanto estudo na faculdade, não para fazer orgias.

Outros homens também gostam de usar o argumento de que rejeitar gays é uma forma de prevenir confraternizações inadequadas, o que chega a ser mais absurdo do que o argumento acima. Ora, sabemos todos que em qualquer república, onde camas de solteiro são a norma, o coleguinha sai do quarto quando o outro arruma uma parceira. Sabemos também que se um não quer, dois não brigam. Se dois gays são irresponsáveis de começar a se pegar numa casa masculina, eles devem sim ser punidos de forma proporcional, mas isso não significa que todos os universitários homossexuais precisam ser punidos pela possibilidade. Se fosse assim, não haveriam repúblicas mistas, e se confraternização realmente fosse um problema sério para os estatutos, Ouro Preto não teria a fama de suruba que tem.

Não há mais argumentos, o resto é preconceito. Fomos criados para acreditar que o gay bicha é insuportável, barulhento, inconveniente e desnecessário. Fomos criados para acreditar, até, que ele é uma aberração da natureza que não pode ser encorajada – como se o comportamento inerente a um ser humano pudesse ser ensinado. A verdade é que não tem nada de errado em ser um homem feminino, e percebo que os heteros que perceberam isso acabaram gostando muito de ter amigos com pontos de vista diferente, bem como comportamentos. Desconsiderando a feminilidade, a própria homossexualidade já é tida como insuportável. Nenhum decano vai dizer “Podemos aceitar gays, desde que sejam discretos/homens/de boa.” O que você provavelmente vai ouvir é: “Não aceitem gays, digam que não faz o perfil ou qualquer coisa do tipo.” Você também não vai ouvir a verdade, porque eles sabem que não podem dizê-la, em especial as federais.

E se um universitário gay decide contar que gosta do mesmo sexo quando já estiver lá dentro? Bom, o mais provável é que esse universitário não dure muito mais naquela república. Entre a expulsão imediata e o bullying agressivo, muitas histórias hão de ser contadas. Mas o fim delas é sempre o mesmo: já era. O sentido que consigo encontrar nesse comportamento é o de que republicanos têm medo de manchar o nome. O fato de que existe um homossexual assumido em uma república repercute pelos círculos sociais e chega a todos. As zoações acompanham. De súbito, uma festa já não enche tanto, os colegas dão risadas abafadas, todos começam a ser tidos como gays. Difícil manter uma república assim. Ou, afinal, como apresentar uma república para os pais de um novo calouro quando tem um homossexual na casa? Eles podem achar ruim, impedir o filho de entrar lá. O importante é a rotação, logo o nome precisa ser protegido. Os homens republicanos, viris, heterossexuais machos e cheios de amor para dar não têm que lidar com o infortúnio do coleguinha gay, certo? O que nenhuma das repúblicas conseguiu entender até agora é que se todas elas deixassem de ver problema na questão, nenhuma delas acharia motivo para diminuir, caçoar ou desrespeitar um nome ou tradição. Mais alarmante ainda: eles não foram capazes de constatar que as vagas seriam preenchidas muito mais rápido, e que o preço do aluguel da cidade inteira poderia ser menor. É, tô falando sério, gente: vocês acham que gay se enfia debaixo da ponte quando você diz não? Não, cara, ele procura outras pessoas que tiveram o mesmo destino, aluga mais uma casa e vai estudar. Isso não ajuda muito na especulação imobiliária já deturpada da cidade.

Há também uma pérola interessante nas justificativas de não permitir gays: se um entrar, no período seguinte ele chamará os amigos, que no período seguinte chamarão os amigos. Em tempos de ditadura gay, quem não há de dizer que esses homossexuais autoritaristas e com sangue nos olhos não vieram para raptar e homossexualizar repúblicas inocentes? Claro, essa sempre foi nossa ideia. A gente entra na faculdade para roubar espaço dos outros e instaurar o gayzismo, porque duh, não temos nada melhor para fazer. Não, sério: eu vim estudar Engenharia para propagar a homossexualidade. Não é sarcasmo, eu juro.

Enfim, o que acontece em Ouro Preto é, de todas, a pior das realidades: os poucos gays que têm coragem de se assumir na faculdade acabam se isolando, convivendo entre si mesmos, com uma perpétua sensação de que talvez não sejam tão quistos ali, ou de que talvez estejam perdendo alguma coisa, ou de que gostariam de estar vivendo entre amigos mais diversos. Enquanto isso, os homossexuais mais assustados e inseguros acabam entrando nas repúblicas em segredo, sem poder namorar, conhecer alguém ou no mínimo contar a verdade. Se escondem, fingem gostar do que não gostam, mentem para os “amigos”. Riem e debocham da própria orientação, sentindo uma dor bem característica e se enfiando mais no poço de insegurança. Alguns acabam entrando em colapso e causando escândalos, quando não aguentam mais estar sozinhos e põem a mão na virilha do colega. O resultado é óbvio: o gay acaba sendo visto como algo pior, os heteros sentem-se ainda mais ameaçados pela diferença e a cidade de Ouro Preto permanece como uma fábrica de formandos acuados, que seguem adiante na mentira, na desilusão e na infelicidade.


Se você acha que o problema acaba nas repúblicas, pense de novo. A cultura republicana de Ouro Preto também afeta os universitários em geral, e de uma forma muito mais grave: ela gera desrespeito por outros profissionais. Em algum momento da história brasileira – não entrarei no cenário internacional aqui, porque não vem ao caso – os cursos da área de Humanas foram relacionados à homossexualidade. Sensibilidade, elucidação e interpretação tornaram-se características femininas. Ignoramos o fato de que homens – heterossexuais em sua maioria – iniciaram o Teatro, muitas vezes se vestindo de mulheres para representá-las, já que elas não eram consideradas capazes de interpretar. Ignoramos o fato de que grandes bandas que fizeram história eram compostas de homens heteros. Ignoramos que o jornalismo não tem sexualidade – e nem gênero. Para o cursante heterossexual médio de Ouro Preto, a cidade de Mariana – onde se concentra a maioria dos cursos de Humanas – é lugar de viado. E “ainda bem”. Mal sabem eles que, enquanto as pessoas em Mariana crescem e aprendem a respeitar de tudo e a todos, Ouro Preto segue estagnada. E eles também são capazes de realmente acreditar que a situação ouropretana faz deles mais homem do que os “marias” de Mariana.

Deixando um pouco de lado o fator homossexualidade, me parece absurdo que o feminino seja insistentemente visto como negativo ou inferior para os homens heteros. Como o ser humano é capaz de inferiorizar aquilo que, ao mesmo tempo, ele mais admira – ou diz admirar? Como endeusar e admirar a mulher e, ao mesmo tempo, ridicularizar e diminuir seus traços mais comuns? Nunca consegui ver sentido nessa lógica, e sigo não conseguindo. Gostaria muito que um homem heterossexual fosse capaz de me explicar como ele mantém esse raciocínio tão falho, o de que um homem que expressa características femininas é tido como fraco, emasculado ou inferior.

Já de volta às profissões, faculdades mais saudáveis, onde os cursos são integrados e unidos, acabam por formar pessoas que valorizam os profissionais. Professores, atores, músicos, jornalistas, advogados, engenheiros, médicos, museólogos, farmacêuticos, físicos, são todos vistos como pessoas competentes que concluiram o Ensino Superior e partiram para o mercado de trabalho para melhorar o país. Em Ouro Preto, estudantes acabam formados para acreditar que os formandos de Mariana são simplesmente menos. E sim, talvez muita gente levante o nariz ante essa afirmação, mas isso tem muito a ver com o tanto que Humanas aceita os gays e com a associação que as pessoas fazem entre sexualidade e gosto.

A relação entre a personalidade das pessoas e os cursos onde entram vai muito mais além do que é proposto por esse texto. A fala “Eu sou de Humanas”, assim como a “Eu sou de Exatas”, faz parte de papos e brincadeiras entre amigos. E por quê? Não dá para ser os dois? Ser de um “lado” ou do outro nos define como? De onde vem a formação? E, por fim, como chegamos ao ponto em que uma pessoa de Engenharia evita um amigo de Artes Cênicas? Isso é necessário ou jusificável? Dentro do mesmo campus, na cidade de Ouro Preto, onde mal temos 15 mil alunos, precisamos ser desunidos porque um homem gosta de usar saia e o outro boné? Conseguimos chegar a um estado tão mesquinho de polarização que vestimenta, sexualidade ou interesse profissional nos impedem de conhecer pessoas e fazer amizades?


A situação não é só responsabilidade dos estudantes. Como aconteceu em Mariana, já passou da hora das repúblicas federais em Ouro Preto mudarem o sistema. Enquanto lá os ingressantes não mais precisam enfrentar as pesadas “batalhas” pela vaga e a mentalidade geral é mais aberta, aqui nenhum dos dois é realidade. Embora interessante, esse formato engessa a tradição da cidade e impede que as pessoas se tornem mais tolerantes. Veteranos mais velhos, já convencidos de que os gays são uma pandemia, passam isso adiante para os mais jovens, mantendo a cultura da homofobia, da graça de zoar um viado. Seguindo o exemplo das federais, as particulares não veem problema em manter as coisas como são. Isso acaba favorecendo a aceitação de pessoas que talvez nem precisem da república gratuita, e a rejeição de pessoas que, ao ver das gerações anteriores, não se encaixam. Para ajudar, ex-alunos interferem na opinião e nas atitutes tomadas pelos atuais cursantes. Por terem vivido a mesma cultura e a mesma tradição, o reforçado é o mesmo. Nada muda.

Enquanto isso, nos corredores da direção da UFOP, a faculdade continua achando que isso é um problema que precisa ser resolvido entre os alunos, algo que não os envolve. Alunos têm medo de procurar a faculdade com queixas sobre repressão ou preconceito pela possível retaliação que viria dos membros da república a ser punida. Coordenadores e orientadores continuam acreditando que as coisas estão boas como estão, e que há choro desnecessário. Muitos concordam que ficar no armário é o mais louvável e digno de um homossexual, afinal eles não deveriam “esfregar na cara dos outros”. Eu gostaria mesmo de saber o que qualquer heterossexual acharia se alguém dissesse na cara deles que não podem ficar com ninguém a não ser que seja num beco escuro. Que não podem levar ninguém para casa ou se relacionar. Que precisam esconder toda e qualquer forma de afeto que mantêm por outras pessoas. Acho que ninguém gostaria de ouvir isso. Novas repúblicas gratuitas estão sendo construídas nas terras da faculdade e, ao invés de uma iniciativa que pudesse mudar a situação, repúblicas particulares tradicionais foram convidadas para ocupá-las. Vale notar: nenhuma delas têm gays.

Festas nas repúblicas continuam tendo preços diferentes para homens e para mulheres, a fim de que a “oferta” seja ampla. A cultura do estupro de mulheres continua em alta. Parte da tradição é que placas de repúblicas femininas sejam roubadas para que suas moradoras tenham que ir até a casa dos “ladrões” para reclamá-las em um social, como se mulheres fossem incapazes de aceitar um simples convite. Coletivos LGBT mais agressivos (no sentido de que se manifestam, fazem atos e enfrentam a tradição e a faculdade) têm integrantes ameaçados de morte. Amigos – inclusive entre os que conheço – já tiveram que sair de perto de repúblicas porque seus moradores começaram a reclamar de um beijo na rua, como se o espaço público também fosse deles. “Respeita a casa, faz isso em outro lugar!”, como ouviu meu amigo. Para eles, é como se ele estivesse ficando com uma das namoradas da república. Um desaforo, não uma demonstração de afeto. E tudo isso vindo de pessoas com menos de 30 anos.


Como nada realmente fica parado, felizmente as coisas estão melhorando, embora a passos lentos. Grupos no Facebook ajudam gays a se conhecerem e se protegerem – tanto da homofobia quanto da rejeição das repúblicas. Mesmo dentro da Engenharia, um grande grupo nacional se mantém unido para integrar os homossexuais no ramo e fornecer apoio. Repúblicas – em especial as particulares, com uma excessão entre as federais – começaram a mudar de atitude e se tornar mais inclusivas. Movimentos sociais pequenos começam a tomar forma e timidamente aparecer em janelas dos prédios da faculdade, embora a mesma não tenha o menor interesse em ajudar. Infelizmente, a UFOP não é uma faculdade que conta com palestras sobre inclusão social ou integração, e aparentemente isso não vai mudar tão cedo.

Repúblicas gays começaram a surgir. São poucas, menos ainda com nome, e passam pela cidade dividindo espaço com as que ali estão para os heteros. Se eles soubessem quantos dos seus vizinhos poderiam ser amigos deles, o quanto as repúblicas poderiam ser maiores e mais fortes, mais diversas e interessantes, talvez não prezassem tanto pelo retrocesso. A infelicidade é a realidade atual, onde gays se escondem e heteros se afastam, onde a segregação anda em alta – por um lado como instinto de autopreservação, por outro como repulsa ao estrangeiro – e onde o futuro não parece tão promissor ainda.

Não só os heteros podem ser responsabilizados pelo cenário atual, mas também os gays. Em todos os lugares onde já vivi – inclusive no Pará -, a sexualidade era algo tranquilo de assumir, algo pessoal com que ninguém se importava, fosse uma ou outra. Gays fazem parte da sociedade, sempre fizeram, e ultimamente não têm tido medo de se afirmar. Era de se esperar que uma cidade universitária seguisse o exemplo assim como outras mais inclusivas – só em Minas Gerais temos Diamantina, Lavras e Viçosa como exemplos claros de que diversidade não piora nada – mas não é o caso. Em Ouro Preto, no entanto, as coisas não têm sido as mesmas, de um lado pela tradição forte que não tolera os gays, do outro pelo medo de jovens homossexuais de enfrentar mais rejeição, antagonização e isolamento por simplesmente serem quem são. Todos saem perdendo.


Se você é heterossexual, homem ou mulher, ou se você é gay, no armário ou assumido, lésbica ou transexual, o que você pode fazer é sua parte. Não custa nada reclamar de um comentário homofóbico. Não tem problema questionar por que sua república não aceita pessoas diferentes. Ninguém vai achar que sua casa é toda gay por um dos moradores ser. Os gays não vão te morder, provavelmente está ali só um ser humano que pode acabar se tornando um amigo. A tradição não precisa ser perdida só por precisar se tornar mais tolerante e contemporânea. E enfim, seja um ser humano decente: trate os outros como gostaria de ser tratado. Respeite, tenha consideração e ponha-se no lugar do outro. Responsabilize-se. Cresça. Estamos aqui para estudar e para nos tornarmos pessoas melhores. A situação de Ouro Preto, como está, não ajuda nessa tarefa.

Como mensagem final àquele ou àquela que se sentiu ofendido(a) ou ameaçado(a) com esse texto, uma informação de consolação: relaxa, podia ser pior. Enquanto aqui ainda estamos tentando resolver nossa cabeça para aceitar homossexuais, uma fraternidade americana aproveitou uma excursão para cantar no ônibus sobre como nenhum negro jamais fará parte de lá. Podemos ser atrasados, mas tem gente mais atrás ainda, né?

Boa sorte, Ouro Preto. E boa sorte pra mim, que passarei os próximos 5 anos enfrentando essa cidadezinha parada no tempo, que mesmo depois de 400 anos ainda não conseguiu vencer o preconceito.