Já que havia muito mais oxigênio na atmosfera milhões de anos atrás, o fogo se comportava de forma diferente?

Leia minha resposta original no Quora.

Sim, o fogo queimava de forma diferente por conta do excesso de oxigênio. Durante o período Carbonífero, cerca de 300 a 350 milhões de anos atrás, os níveis de oxigênio chegaram a até 35%, enquanto hoje temos menos de 20%. Isso permitia que incêndios começassem em lugares que não costumamos esperar (lugares com alta umidade, e durante chuvas fortes). Hoje, encontramos carvão fossilizado em sedimentos depositados em regiões pantanosas, o que nos permite crer na ideia de que incêndios começavam muito mais facilmente durante esse período. Com isso, você pode se perguntar: como as plantas sobreviviam ao constante risco de incêndio?

Adaptando-se, graças à evolução. Por exemplo, as plantas desse período tinham raízes muito mais profundas do que suas parentes de hoje em dia, e as folhas das árvores ficavam em pontos mais altos, o que ajudava a evitar que pegassem fogo durante um incêndio de arbustos.

O motivo pelo qual tanto carvão (grande parte sendo fossilizada) permanece desde esse período é graças a dois fatores: primeiro, o material estrutural das plantas, a lignina, não queima tão rapidamente — normalmente retira-se a lignina do papel, motivo pelo qual ele queima tão facilmente — ele tende a crepitar (como troncos em uma fogueira), então os incêndios deixavam grande quantidade de carvão para trás, e não seus subprodutos habituais (dióxido de carbono, monóxido de carbono — quando queima mais lentamente — e água).

Segundo, a lignina é difícil de digerir. Até mesmo fungos e bactérias de hoje em dia têm dificuldade para digeri-la. 300 milhões de anos atrás, a taxa de decomposição era praticamente zero.

Em resumo, praticamente todo o carvão de hoje vem de plantas que, milhões de anos atrás, morreram e foram enterradas sem terem nunca passado pelo processo da decomposição.

O que é ainda mais interessante é que, durante esses tempos, insetos gigantescos caminhavam pela terra, e acredita-se que isso tenha relação com metabolismos mais rápidos que a alta porcentagem de oxigênio permitia.

Trem sem trilhos: China começa testes de um novo tipo de transporte público

Resumo:

Na China, começaram os testes de uma nova forma de transporte público. O Sistema Autônomo de Trânsito Rápido em Linha é amplamente similar a um trem, mas depende da eletricidade e não precisa de um trilho.

Projeto de arte

A Corporação CRRC da China começou a testar um novo veículo de transporte público que diminui a distância entre o trem e o ônibus. Chamado de Autonomous Rail Rapid Transit (ART), ele pode transportar até 300 passageiros em três carros na velocidade de até 70km/h.

O ART tem a aparência física de um trem, mas não depende de um trilho. Ao invés disso, ele segue uma rota virtual usando um carro de força elétrico e pneus. Espera-se que funcione como um trem urbano ou VLT, mas já que não há custo de instalação dos trilhos, deve custar bem menos para implementar.

Este veículo também é livre de emissões de poluentes, por ser elétrico. Atualmente, suas baterias só aguentam viajar 15km por carga, mas podem ser recarregadas completamente em 10 minutos a partir de um conector situado no topo do carro.

O conceito foi mostrado pela primeira vez em junho de 2017, mas agora o sistema está sendo testado nas ruas de Zhuzhou na província Hunan.

Correndo atrás

A China está buscando uma variedade de caminhos diferentes em termos de transportes públicos modernos. Há relatos de que a Corporação de Ciência e Indústria Aeroespacial do país está trabalhando em uma versão ainda mais sofisticada do Hyperloop, embora não hajam informações quanto ao desenvolvimento dessa iniciativa.

Uma iniciativa particularmente conhecida era a do ônibus suspenso que virou notícia em 2016. No entanto, novas informações apontaram que o projeto era um golpe, e seus líderes foram presos no fim do ano passado.

Ainda assim, o país está seriamente investindo em fazer grandes mudanças na forma que os cidadãos se locomovem. As autoridades estão fazendo um grande esforço para incentivar a adoção de veículos elétricos, que serão auxiliados pela maior estação de carregamento do mundo, aberta pela Tesla em Xangai no início do mês.

Não é segredo que a poluição é um grande problema na China, com o smog provando ter consequências especialmente mortais para as pessoas que moram na região. No entanto, nos últimos anos o governo tem se comprometido a fazer grandes mudanças e melhorar a situação.

40% das fábricas chinesas foram fechadas, e as informações são de que as autoridades estão trabalhando em um cronograma que acabe com a venda de carros que utilizam gás natural e diesel. Além da previsão do sistema ART se concretizar, há esperanças de que a qualidade do ar continue melhorando nos próximos anos.

Traduzido por Cláudio Ribeiro do site Futurism.

O mundo está passando por uma crise GLOBAL de areia

Quando as pessoas pensam na areia espalhada por praias belíssimas e desertos sem fim, é compreensível que pensem nela como um recurso infinito. Mas como discutimos nessa recente perspectiva da revista científica Science, a exploração exagerada dos recursos globais de areia está causando danos ao meio ambiente, pondo comunidades em risco, causando escassez e promovendo conflitos violentos.

A demanda que cresce exponencialmente, combinada à mineração sem restrições ligada a ela, está criando a receita perfeita para a falta de recursos. Uma boa quantidade de evidências sugere fortemente que a areia está ficando cada vez mais escassa em muitas regiões. No Vietnã, por exemplo, a demanda doméstica por areia já excede as reservas totais do país. Se esse desbalanço continuar, a nação asiática pode ficar sem areia de construção em 2020, de acordo com declarações recentes do Ministério de Construções do país.

O problema é raramente mencionado em discussões científicas e não foi estudado sistematicamente, a atenção da mídia que nos trouxe a essa questão. Enquanto cientistas fazem grandes esforços para quantificar como sistemas de infraestrutura de estradas e prédios afetam os habitats que os cercam, os impactos de extrair minerais de construção como areia e cascalho para construir essas estruturas estão sendo ignorados. Dois anos atrás, criamos um grupo de trabalho com o objetivo de fornecer uma perspectiva integrada no uso global de areia.

Do nosso ponto de vista, é essencial entender o que acontece em lugares onde a areia é minerada, onde ela é usada e os muitos pontos impactados no meio do processo para desenvolver políticas funcionais. Estamos analisando estas questões através de uma abordagem de integração de sistemas que nos permite entender melhor as interações socioeconômicas e ambientais através de distâncias e do tempo. Baseado no que já aprendemos, acreditamos que seja a hora de desenvolver convenções internacionais para regular a mineração, uso e comércio de areia.

Mineração de areia na região oeste da ponte Mabukala em Karnataka, Índia. Fonte da imagem: Rudolph A. Furtado.

Demanda em alta vertiginosa

Areia e cascalho são agora os materais mais extraídos do mundo, indo além de combustíveis fósseis e biomassa (medidos por peso). A areia é um ingrediente chave para o concreto, estradas, vidros e eletrônicos. Quantidades enormes de areia são mineradas para projetos de recuperação de terras, extração de gás de xisto e programas de recuperação de praias. Enchentes recentes em Houston, Índia, Nepal e Bangladesh contribuem para a crescente demanda global por areia.

Em 2010, as nações do mundo mineraram cerca de 11 bilhões de toneladas de areia só para construção. As taxas de extração foram maiores na região Ásia-Pacífico, seguida pela Europa e América do Norte. Somente nos EUA, a produção e uso de areia de construção e cascalho foram avaliados em US$ 8,9 bilhões (R$ 29 bilhões) em 2016, e a produção subiu 24% nos últimos cinco anos.

Além disso, percebemos que estes números subestimam em muito a extração e uso globais de areia. De acordo com agências governamentais, o registro desbalanceado de muitos países pode esconder as verdadeiras taxas de extração. Estatísticas oficiais relatam muito pouco do uso real de areia e tipicamente não incluem usos que não são para a construção, como fraturas hidráulicas e recuperação de praias.

A areia sempre foi tradicionalmente um produto local. No entanto, faltas de disponibilidade regionais e o banimento da mineração de areia em alguns países a estão tornando em um commodity globalizado. O preço comercial internacional da areia escalou vertiginosamente, aumentando quase 6 vezes nos últimos 25 anos.

Os lucros da mineração de areia frequentemente geram superexploração. Em resposta à alta violência advinda da competição por areia, o governo de Hong Kong estabeleceu um monopólio de Estado sobre a mineração e comércio do recurso em meados dos anos 1900 que durou até 1981.

Hoje, grupos criminosos organizados na Índia, Itália e outros lugares conduzem o comércio ilegal de solo e areia. O alto volume de importações de areia de Cingapura levou o país a entrar em disputas com Indonésia, Malásia e Camboja.

A mineração machuca humanos e o meio-ambiente

As consequências negativas da exploração excessiva da areia são sentidas em regiões mais pobres onde ela é minerada. A extração extensiva de areia altera fisicamente os rios e ecossistemas costeiros, aumenta a quantidade de sedimentos suspensos e causa a erosão.

Fonte da imagem: NASA Earth Observatory

Pesquisas mostram que operações de mineração de areia estão afetando várias espécies animais, incluindo peixes, golfinhos, crustáceos e crocodilos. Por exemplo, o Gavial (Gavialis gangeticus) – uma espécie criticamente ameaçada de crocodilo encontrada em sistemas de rios asiáticos – está cada vez mais ameaçado pela mineração de areia, que destrói ou erode bancos de areia onde os animais descansam e tomam Sol.

A mineração de areia também tem impactos sérios nos meios de subsistência das pessoas. Praias e regiões alagadas auxiliam comunidades costeiras contra a elevação dos mares. A erosão crescente resultante da mineração extensiva faz com que essas comunidades fiquem mais vulneráveis a enchentes e tempestades.

Um relatório recente da Rede de Integridade Aquática revelou que a mineração de areia exacerbou os impactos da tsunami de 2004 no Oceano Índico no Sri Lanka. No delta de Mekong, a mineração de areia está reduzindo os suprimentos de sedimento tão drasticamente quanto a construção de barragens, ameaçando a sustentabilidade do delta. Também está provavelmente aumentando a intrusão de água salgada durante os tempos secos, o que ameaça a qualidade da água e alimentos das comunidades locais.

Potenciais impactos de saúde com a mineração de areia são pouco explorados mas merecem estudos mais aprofundados. Atividades de extração criam novas piscinas de água que podem se tornar locais de expansão das populações de mosquitos transmissores da malária. As piscinas também podem ter um papel importante na propagação de doenças emergentes como a úlcera Buruli da África Ocidental, uma infecção de pele bacteriana.

Prevenindo uma tragédia do bem comum da areia

A cobertura da mídia acerca dessa questão está crescendo graças ao trabalho de organizações como o Programa de Meio-ambiente das Nações Unidas, mas a escala do problema ainda não é amplamente compreendida. Apesar da enorme demanda, a sustentabilidade da areia é raramente discutida em pesquisas científicas e fóruns diplomáticos.

A complexidade deste problema é, sem dúvida, um fator. A areia é um recurso comum do mundo – disponível para todos, fácil de obter e difícil de regular. Como resultado, sabemos pouco sobre os verdadeiros custos e consumos globais da mineração de areia.

A demanda vai crescer ainda mais ao passo que áreas urbanas continuam se expandindo e os níveis do mar sobem. Grandes acordos internacionais como a Agenda de Desenvolvimento Sustentável de 2030 e a Convenção da Diversidade Biológica promovem alocações responsáveis de recursos naturais, mas não há convenções internacionais para regular a extração, uso e comércio de areia.

Enquanto regulamentos nacionais forem pouco reforçados, efeitos danosos continuarão ocorrendo. Acreditamos que a comunidade internacional precisa desenvolver uma estratégia global de governança de areia, junto a orçamentos globais e regionais da mesma. É hora de tratar a areia como um recurso, ao lado do ar puro, biodiversidade e outros dotes naturais que as nações precisarão gerenciar no futuro.

Artigo traduzido do site The Conversation.