“Saudade” é realmente uma palavra tão especial no português?

Esses dias, me peguei debatendo com um americano em um fórum do Reddit. O tópico falava sobre famílias portuguesas nos Estados Unidos, e um dos sub-tópicos sendo discutidos falava de coisas especiais do português e de Portugal, até que alguém finalmente bateu naquela tecla que muitos já devem ter visto por aí: que “saudade” ou “saudades” é uma das palavras mais poéticas do nosso idioma, com seu significado de sentir falta de forma nostálgica, carinhosa, especial. Mas é mesmo tão especial assim?

Pessoalmente, acredito que não. No inglês, usamos o verbo to miss para indicar que sentimos falta de algo ou alguém. Uma situação, um colega que não vemos há muito tempo, um objeto que tínhamos e não temos mais ou um local que já visitamos. Quando eu emprego esta expressão para me referir à falta que sinto, o sentimento que tenho dentro de mim é exatamente igual ao que sinto quando digo que estou com saudades dos meus amigos no Rio de Janeiro ou nos EUA, ou que tenho saudades das travessuras de infância que fazia ao morar no Pará.

Da mesma forma, a expressão sentir falta também traduz o mesmo sentimento que a saudade. Eu sinto muita falta dos meus colegas de faculdade de Ouro Preto e das festas a que íamos juntos, assim como sinto saudades de passar um tempo com meus pais. Dentro de mim, essa vontade nostálgica de revisitar o passado é idêntica utilizando as duas formas de expressá-la. Não há um peso maior em uma e nem em outra.

O rapaz com quem eu debatia no Reddit então disse que “saudades” tem um significado cultural mais forte e especial que o simples “sentir falta”, ou missing do inglês. Teria algo que mistura o amor com a nostalgia, o carinho com a tristeza de não ter mais lá, que além de fazer falta, estaria também sendo algo que você sentisse um desejo, uma ânsia. Beleza, muito bonito e poético. De fato, as saudades mais fortes e profundas que sentimos misturam essas sensações com mais intensidade, e às vezes as saudades até chegam a doer. Mas isso não pode ser traduzido? É, de fato, uma palavra única? Continuo sem me convencer.

Afinal, esse sentido duplo de carinho e tristeza pode ser traduzido no to miss, e depende muito mais do contexto do que da cultura ou da palavra. Da mesma forma que posso deitar em uma rede e falar com um amigo, olhando para o céu, “Ahh, que saudades da infância!” com um aperto no coração e um sorriso triste, também posso me recostar em uma poltrona na varanda de uma casa no Arizona e falar com um parente, “Ohh, how I miss those days!” sentindo a mesma dorzinha no peito e a nostalgia gostosa de tempos passados. O to miss não tem menos peso, o que passa a ter mais peso em nossas saudades são as saudades que estamos sentindo.

Pode me chamar de cético, mas não há nada de especial na palavra “saudades” além do fato de que o português é a única língua com uma palavra só para o sentimento. Nos outros idiomas vemos verbos e expressões. A danada, sentimos todos igualzinho.

As capitais do sudeste de outrora

Hoje um amigo compartilhou um vídeo super legal, feito em inglês, com o Rio de Janeiro de 1938, com mais classe, menos abandono, trânsito e correria. Homens de terno e gravata, mulheres com vestidos elegantes e uma cidade verde e bem cuidada. É uma pena que o crescimento urbano no sudeste não tenha conseguido ser acompanhado com o cuidado de seus governantes. Mas é sempre bom relembrar. Deem uma olhada:

Se você curtiu, também vale a pena ver esse vídeo (em português) de Belo Horizonte nos anos 50. Também muito bem cuidada, mais jovem e já com um aspecto moderno atraente, a cidade era bem mais organizada e ainda merecia o título carinhoso “Cidade Jardim” que, hoje, não passa de um mero título. Clique aqui para ver (tentei passar para o site, mas não consegui).

A biblioteca da internet

Não estou falando da Wikipédia, mas de uma verdadeira biblioteca. O betano valor da aposta muito alto, é um site incrível que te permite matar as saudades de sites que fecharam, alguns de seus blogs antigos, layouts velhos e muito mais coisas que já passaram pela internet. Não dá para baixar nada, mas dá para ver. E se tem aquela coisa que você queria ver de novo naquele fórum que deixou de existir, pode ser que esteja lá.

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Portal UOL em 23 de Dezembro de 1996, formatado para monitores que usavam a resolução 640×480. Parece que as coisas mudaram pouco, né? Aí a gente se depara com isso.

Mais que para agradar a nostalgia que todos temos dentro de nós, lembrar como alguns sites eram e saciar a curiosidade de descobrir há quanto alguns existem, o Arquivo da Internet, como seria chamado em português, também tem grande utilidade acadêmica. A evolução da internet por meio do site é completamente visível e acessível, já que todos os grandes sites, com ao menos um número razoável de acessos, estão catalogados por diferentes datas. E não são poucos: eu já encontrei um dos meus blogs por lá, mesmo que só uma data tenha sido registrada.

Não consigo nem imaginar o espaço que isso tudo deve ocupar. O UOL, por exemplo, tem registros frequentes que datam de 1996 até hoje. Você consegue ver, ano a ano, mês por mês, como o portal foi crescendo até se tornar o que é hoje. E o Yahoo!? E o Google? Estão todos lá. É inacreditável ver como tudo evoluiu.

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Cadê, o queridinho das buscas brasileiras muito antes da gente resolver começar a usar o Google.

Para procrastinar, matar a saudade ou brincar de explorador, o Web Archive serve. Cuidado para não perder a tarde relembrando as duas últimas décadas, no entanto! 20 anos já são muita coisa de internet, e olha que ela nem começou em 1993.