Por que tanta gente odeia o Bolsonaro e seus seguidores?

Bolsonaro é um político que gosta de agradar uma maioria, só que a maioria dele é só a que ele inventou. Tem um segmento do país que gosta muito dele: pessoas que querem ter mais liberdade para portar armas (e as empresas que as fabricam), pessoas que não concordam que o país seja laico, mas cristão (e que as outras religiões não tenham direitos garantidos), que homossexuais e transexuais não tenham os mesmos direitos que as outras pessoas (porque na cabeça dele são doentes que não contribuem para o país), e que negros pobres estão nessa situação porque são incompetentes (e não porque a sociedade os empurrou para isso após o fim da escravidão). Ele considera que as mulheres devam ficar em casa e caladas quando sofrerem abusos e agressões. Além disso tudo, ele considera que todos os nordestinos são pessoas vagabundas que só dependem de assistencialismo e não produzem para o país.

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A questão é que os LGBT, os negros, os pobres, os nordestinos, as mulheres e as pessoas de religiões minoritárias são, sim, minorias, mas somadas elas se tornam uma maioria. Lembremos que Bolsonaro venceu as eleições no segundo turno com 55,13% dos votos válidos. Do total de votos, 21,3% não compareceu às urnas e 9,57% dos votos foram nulos ou brancos, ou seja, quando ele venceu, apenas 38,11% dos brasileiros votaram nele. Os outros 61,89% não o queriam como presidente ou não eram necessariamente apoiadores.

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Existem pessoas que não querem que a Amazônia seja desmatada desenfreadamente, sem regulamentos ou Reservas Florestais. Os índios, que também são brasileiros, com RG e CPF, também são eleitores e estão sendo ativamente caçados e mortos por apoiadores de Bolsonaro. O presidente deu as costas para eles, então obviamente os índios têm todo direito de odiá-lo.

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Existem pessoas que não querem ser agredidas fisicamente por se relacionarem com pessoas do mesmo sexo, e essas pessoas também querem que se tornem leis os direitos à adoção e ao casamento, bem como a proibição da LGBTfobia para que esses ataques acabem. Todas essas coisas foram garantidas, mas ainda não são leis. Bolsonaro incentiva pessoas que vão contra os direitos desse grupo e virou as costas para eles, então obviamente os gays, lésbicas e transexuais têm todo direito de odiá-lo.

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Existem pessoas que buscam a igualdade entre diferentes etnias e religiões, e para isso há a lei contra a intolerância religiosa e as cotas universitárias para negros e estudantes das escolas públicas. Essas pessoas querem as mesmas chances de sucesso do que os ricos, que têm acesso às escolas particulares e estão tendo aulas online agora para assistir no computador enquanto filhos de faxineiras ficam sozinhos em casa com apenas um celular para estudar. Bolsonaro não concorda com cotas e acha que essas crianças devem ficar na classe social onde estão, portanto os pobres têm todo direito de odiá-lo.

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Se eu continuar dando exemplos aqui, vai ficar grande. Acho que quem quiser entender, já pegou a dica.

Por que tanta gente odeia Bolsonaro? Porque ele virou as costas para a maioria dos brasileiros, achando que todos seriam minorias isoladas, e se tornou um presidente para apenas aqueles que concordam com ele. Porque ele espalha notícias falsas e agride diversos grupos de brasileiros sem consequências. Porque ele está desrespeitando os outros poderes políticos e sendo oligárquico com seus filhos e com a aparelhagem do Rio de Janeiro.

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Além de tudo isso, também fica difícil não odiar o Bolsonaro quando você tem um familiar que morreu de Covid-19 enquanto ele fica repetindo “cloroquina” e saindo por aí sem máscara. Por enquanto, isso não é o caso de todo mundo, mas pela tendência da doença, logo seremos todos um desses brasileiros. Muitos policiais já deixaram de apoiá-lo porque correm muito risco na profissão e já perderam colegas para a doença. Dessa forma, até dentro dos poucos grupos que restam ao presidente como apoiadores, alguns já começam a ficar bambos.

Então fica aí. Sem nem falarmos de esquerda ou do PT, sem nem precisar ser alguém intitulado esquerdista, se focarmos APENAS nas grandes contribuições de Jair Messias Bolsonaro, sobram motivos para não gostar dele.

Por que não aproveitar a crise política brasileira para criar um país do Sul — SC, PR e RS?

Esta é uma postagem adaptada de um comentário feito em uma resposta para uma pergunta parecida no Quora. Você pode acessar a pergunta original e o comentário clicando neste link.

Apesar do argumento de que os estados do Sul do país possuem IDH mais elevado e menos crimes, isso não significa que a região seja mais desenvolvida socialmente ou economicamente. Ela é completamente dependente (e devedora) do restante do país, em especial a região Sudeste.

O IDH da Venezuela era maior que o do Brasil por várias décadas. O da Argentina também é. IDH não é um índice que sobe para nunca mais descer. O IDH de Santa Catarina é muito alto, e vários dos medidores do estado são ótimos, mas isso não significa que ele seja autossuficiente.

Sem a infraestrutura e diversidade econômica do Brasil como um país único, Santa Catarina não teria condições de manter a atual qualidade de vida. A economia seria muito mais volátil, de acordo com os poucos commodities que o estado concentra, e simplesmente não daria para manter o “país”.

Na Europa, os países se formaram por questões culturais próximas e idiomas, em muitos casos. Isso funcionou por lá. No caso da África, por exemplo, seria absolutamente impossível. Pelo fato de falarmos português, termos uma história comum de descoberta e desenvolvimento, sermos completamente integrados economicamente e socialmente (televisão, jornais, empresas…), não vejo força no argumento de que somos diferentes demais para sermos todos brasileiros.

Para que Santa Catarina ou o Sul, como um todo, pudessem se tornar um país estável e promissor sem o resto de nós, seria necessário que os cidadãos e governo iniciassem megaconstruções em diferentes frentes para ampliar significativamente a diversidade econômica da região e criar uma insfraestrutura independente capaz de dialogar com todos os vizinhos de forma eficiente sem os muitos acessos ao novo Brasil (Santos, Salvador, São Luís…), sem zonas industriais absolutamente vitais (São Paulo, Belo Horizonte, Manaus), sem o fornecimento do alimento provido pela zona rural do Centro-Oeste/Sudeste (São Paulo, Mato Grosso, M. G. do Sul), enfim…

Creio que sejamos similares o suficiente para compartilhar uma nação e que, juntos, podemos mais. Também acho que é uma energia muito mais bem gasta contribuir para que o Brasil inteiro dê certo do que para tentar conseguir algum dia uma secessão. Eu não tenho como garantir que isso jamais acontecerá na História, mas tenho 99,9999999% de certeza de que não acontecerá em nossas vidas.

É possível que o radicalismo venha de fora?

Nesta semana, o The New York Times publicou uma notícia informando que o Facebook fará uma atualização com uma ferramenta que permitirá que os usuários descubram se foram vítimas de propaganda política falsa criada e compartilhada por agentes russos com o objetivo de desestabilizar e radicalizar os discursos durante as eleições presidenciais dos EUA.

Segundo a publicação, 29 milhões de americanos viram conteúdo falso publicado por russos no Facebook diretamente na timeline, 126 milhões de pessoas viram conteúdo compartilhado e 150 milhões de pessoas foram expostas às informações quando o Instagram é considerado. Isso significa que quase metade da população total americana visualizou de alguma forma notícias falsas criadas por uma nação do outro lado do mundo.

Uma das notícias falsas da eleição americana. Yoko Ono dizendo, “Eu tive um caso com Hillary Clinton nos anos 70.” Fonte: Heavy.com

O termo fake news entrou em cena desde então, com a ascensão de milhares de sites ao redor do mundo com a única função de criar notícias falsas, inflamatórias ou exageradas, com o objetivo de enganar, confundir ou radicalizar as pessoas comuns. Aliada a essa força do mal, indivíduos no WhatsApp criam absurdos e desinformações para compartilhar com familiares e amigos, um lugar onde as pessoas se tornam muito mais suscetíveis ao problema.

WhatsApp é mais alarmante no Brasil por contar com uma socialização que envolve pessoas acostumadas e desacostumadas a usar a internet. Dentro de grupos familiares, uma história bem escrita compartilhada com negritos e emojis por um sobrinho apoiador do Bolsonaro ganha mais confiança e simpatia dos tios e avós pelo fato de o sobrinho estar compartilhando, e dentro daquele ambiente familiar. Com incentivo de levar a mensagem adiante como se fosse uma verdade que precisa ser exposta ao mundo, à modelo das antigas correntes de e-mail e Orkut, esse modelo de desinformação tem causado grandes transtornos, como mentiras contadas sobre Jean Wyllys, o programa de televisão que será encabeçado por Pabllo Vittar, a exposição Queermuseu de Porto Alegre e, para não dizer que o problema só está em opiniões de direita, os “fatos” inflamatórios sobre figuras queridas dos conservadores brasileiros, Alexandre Frota e Jair Bolsonaro.

Uma das obras causadoras de polêmica da exposição Queermuseu. Crianças podem ser gays? A resposta óbvia é que sim, mas alguns setores não aceitaram. Fonte: JornaLivre

O que nos leva ao título: será que as origens de tudo isso são mesmo os próprios brasileiros? Segundo artigo com várias estatísticas publicadas pelo El País Brasil, nossa nação já não é tão conservadora assim. Mais de 70% dos brasileiros hoje aprovam não só o casamento entre pessoas do mesmo sexo como também a adoção. A voz e a luta contra o racismo e desigualdade entre os sexos também ganhou e continua ganhando muita força, tanto entre os jovens quanto entre os mais velhos, que têm mais dificuldade em aceitar grandes mudanças na sociedade. As regras estão mudando sobre o que é ou não aceitável nas conversas cotidianas. O brasileiro está se aproximando rapidamente do que é o ocidental, especialmente com o advento da internet.

Não é novidade alguma que exista um setor conservador na sociedade, em qualquer sociedade afinal, especialmente na classe média. Ultimamente se tornaram mais audíveis e escandalosos com os casos que todos já conhecem, mas não aumentavam em volume até que pessoas jovens começaram a se enxergar em discursos radicalizados e preconceituosos, com o viés de que isso os tornaria pessoas mais respeitáveis e “de bem.” Páginas como o “Orgulho de Ser Hétero” dão cabo a isso e insistem aos influenciados que ser preconceituoso com mulheres e homossexuais fará deles homens mais masculinos e completos. Qualquer análise maior sobre as postagens lá dispostas mostra o contrário. Dos comportamentos imaturos dos seguidores ao conjunto raso de ideias que cultivam ao preconceito injustificado contra o gênero com o qual se relacionam.

O discurso típico do masculino exagerado, onde as obrigações e direitos de cada um no relacionamento são aparentemente diferentes. Fonte: Orgulho de ser Hetero / Facebook

Mas e se tudo isso nem foi gerado aqui? Até o ano de 2014, era raro ver organizações e grupos que difundiam o preconceito e a segregação na rede. As pessoas pareciam todas estar conversando sobre assuntos que mereciam ser discutidos, e o nível dos debates e das questões estava crescendo. Com essa onda, muito melhorou no funcionamento da sociedade e no respeito em geral, tanto falando de religião como de orientações ou gênero. O brasileiro se tornou mais informado na política e nos seus direitos. Agora a coisa parece estar se desenrolando.

Facebook se comprometeu a contar para os americanos o que eles viram de falso, fabricado pelos russos. Mas o Facebook também sabe que as fake news e as radicalizações estão acontecendo por aqui. Só que ninguém fez a pergunta, ninguém suspeitou de nada, e eles não têm obrigação de contar. Quem criou? Por quê? Será que não existem interesses e mãos ocultas por trás de formadores inflamados de opinião, como o MBL, onde um negro defende o fim de direitos de seus pares? O que garante que os próprios EUA, a Rússia ou vizinhos interessados em determinadas riquezas brasileiras não possam ter interferido nas nossas opiniões políticas, conduções no Congresso e no Senado, nas eleições? Quem garante que isso não possa acontecer no ano que vem? Quais precauções o Facebook de fato tomaria nesse caso?

O ápice da esquizofrenia ideológica pode simplesmente ter sido importado. Casos e falas parecidos foram vistos nas eleições dos EUA. Fonte: MBL

É hora de começarmos a nos questionar: fomos nós que criamos nossos radicais conservadores, que hoje gritam e esperneiam tentando fazer o brasileiro de verdade acreditar que eles são a maioria ou o retorno da sanidade? Ou será que é uma massa influenciável da nossa população sendo manipulada em prol de um objetivo oculto?

De toda forma, se você estiver aflito(a) (como eu também estava), fique um pouco mais tranquilo(a). A porcentagem de brasileiros que se deixam levar por essas ideologias extremistas e segregacionistas é relativamente pequena, a maior parte de nós continua sã. Que façamos nossos votos refletirem isso em 2018.

O Quênia vai pagar uma mesada aos seus cidadãos

Resumo:

A caridade GiveDirectly deu início ao maior experimento de renda básica universal do mundo no Quênia. Cerca de 6.000 pessoas receberão um pagamento incondicional pelos próximos doze anos.

GiveDirectly, uma caridade que tem financiado transferências monetárias diretas a vilas pobres do leste africano desde 2008, anunciou recentemente que lançou oficialmente o maior experimento de renda básica universal (RBU) da história.

A começar em 13 de novembro, 40 vilas (cerca de 6.000 pessoas) receberão por volta de US$ 22,50 (R$ 75), sem restrições ou condições, por 12 anos. Ao mesmo tempo, outras 80 vilas receberão a mesma quantidade por somente dois anos, mais 80 receberão a soma total do período de dois anos, e 100 vilas não receberão nada.

O estudo vai produzir os dados mais compreensivos até hoje sobre o que acontece quando as pessoas recebem dinheiro em troca de nada. Ajudará a responder perguntas como: as pessoas param de trabalhar? Abrem negócios? Têm mais predisposição a gastar com drogas e álcool — ou talvez com educação?

O estudo também coletará dados de toda a comunidade para saber se a segurança financeira adicional reduz aspectos negativos da pobreza, como violência e roubos.

Créditos: SuSanA Secretariat / Flickr

“Os últimos 19 meses desde que anunciamos nossos planos de testar o RBU foram notáveis,” diz o CFO da GiveDirectly, Joe Huston, ao blog da organização. “O debate acerca da renda básica continua a ferver, dos céticos que a chamam de ‘ato sem sentido de auto-sabotagem preemptiva’ aos otimistas que a chamam de ‘o que direitos políticos e civis foram no séc. XX, só que no contexto do séc. XXI.'”

A renda básica é algo tão novo que pesquisadores ainda precisam coletar bons dados sobre o sistema no mundo desenvolvido. Outros experimentos surgiram para preencher essa lacuna.

Em Oakland, Califórnia, a encubadora de startups Y Combinator finalizou um estudo piloto no qual várias pessoas receberam de US$ 1000 a US$ 2000 (R$ 3265 a R$ 6530) por mês. A Y Combinator está se preparando para lançar um teste maior em dois estados em algum momento de 2018.

“Agora é hora de fazermos nosso trabalho, esperar e aprender,” escreve Huston. “Esperamos ter a primeira rodada de resultados em um ou dois anos, e depois será mais de uma década de aprendizado a ser seguido enquanto observamos essas comunidades.”

Texto traduzido do site Futurism.

Comentário do tradutor: a RBU não é muito discutida no Brasil apesar de ser um tópico recorrente entre grandes presidentes de empresas de tecnologia, políticos europeus e estudiosos em todos os cantos do mundo.

Para quem não está familiarizado com o assunto, a Renda Básica Universal é uma proposta de que, para sanar as maiores dificuldades e problemas da dificuldade em diferentes sociedades, haja um valor básico distribuído em igualdade para todas as pessoas de um país ou região.

A proposta é parecida com o que se foi feito no Brasil com o Bolsa Família, com o diferencial de que o valor é mais significativo e entregue a todos, independentemente da classe social.

Atualmente, nossas conversas no país têm sido mais ideológicas e nos afastamos um pouco do debate econômico e das possibilidades de solução para a desigualdade social gritante no país. Algumas faixas mais histéricas da sociedade estão confundindo o comunismo com o socialismo, os programas sociais com Cuba, etc. etc. Por isso talvez a RBU não tenha sido tópico de discussão aqui com tanta intensidade.

Trago, no entanto, o assunto à tona por ter vontade de entender quais seriam as opiniões de brasileiros. A inflação explodiria? O Estado seria capaz de bancar o investimento? A taxação sobre diferentes classes deveria mudar para possibilitar tal proposta?

Cidades inteligentes podem significar o fim da privacidade

A ascensão da Cidade Inteligente

A cidade de Barcelona é um alvoroço sensorial. Prédios elaborados com mosaicos brilham sob palmeiras que balançam com o vento enquanto comerciantes oferecem seus produtos em espanhol e catalão. No meio de tantas cores e sons, seria fácil deixar passar as proteções cinzas de plástico que apareceram nos postes da via principal da cidade. É mais fácil ainda deixar passar o que contêm: caixas com sensores que coletam dados de tudo ao redor deles.

Cada sensor está equipado com seu próprio disco rígido e um sensor conectado ao Wi-Fi que rastreia elementos do ambiente, como barulho, tamanho da multidão, poluição e congestionamentos no trânsito, e depois transmite tudo para um banco de dados central via fibra ótica. A Fortune relata que os sensores podem monitorar até mesmo o número de selfies postada em uma área.

Barcelona. Fonte: R7

Sob o charme de Mundo Antigo, Barcelona está equipada com tecnologia do Mundo Novo, o que levou a firma de pesquisa de mercado digital Juniper Research a conceder à cidade o título de mais inteligente em 2015. Mas ela não manteve o destaque por muito tempo — Cingapura passou na frente no ano seguinte. Ao redor do mundo, câmeras municipais estão ocupando suas cidades para coletar uma quantidade crescente de dados sobre seus cidadãos e atividades. Barcelona, Boston, Londres, Dubai e Hamburgo já começaram o processo; a Índia tem metas ambiciosas de renovar 100 de suas cidades até 2022. Cingapura pretende se tornar a primeira “Nação Inteligente” do mundo.

Todos esses esforços prometem tornar as cidades mais limpas, mais seguras, mais sustentáveis e mais eficientes. Mas eticistas têm uma preocupação diferente: como os cidadãos manterão a privacidade quando dados estão sendo coletados por todos os lados?

Alguém está vendo

Cidades inteligentes dependem primordialmente de dois tipos de informação: dados agregados e dados em tempo real. Sensores agregam dados sobre um lugar ou objeto específico em redes maiores de computação, que então analisam grandes quantidades de informação para encontrar tendências. Algumas cidades já usaram dados agredados — para monitorar as vagas de carro mais populares no centro de Londres, analisar o trânsito e encontrar riscos no trânsito de Boston, e para ajustar o brilho de postes de acordo com a quantidade de pessoas em parques de Barcelona. Pelos dados serem agregados, são efetivamente anonimizados; não podem ser usados para rastrear indivíduos ou obter informações sobre eles.

Cidades também estão coletando dados em tempo real, que de fato focam em indivíduos. Em 2013, uma empresa chamada Renew London fez um programa piloto no qual sensores instalados em lixeiras rastreavam os sinais de Wi-Fi dos celulares que passavam. Os sensores conseguiam, então, usar o endereço único de controle de acesso de mídia (MAC) para filtrar os anúncios na lixeira pensando no indivíduo, baseando-se no movimento do mesmo na rede de sensores. Por exemplo, se o indivíduo acabou de passar por uma loja de roupas ou restaurante em particular, ele(a) poderia passar a ver mais anúncios para aquele local.

Uma foto dos materiais de marketing criados pelo agora finado Renew London initiative. Créditos: Quartz

Renew tentou trazer ao mundo real os anúncios direcionados que os usuários costumam ver online. No entanto, ao contrário da maior parte dos sites, a empresa não era legalmente obrigada a informar aos cidadãos que eles estavam sendo rastreados. Depois que os detalhes emergiram (e o ultraje se instaurou), o governo municipal de Londres pediu que a Renew encerrasse o teste.

Apesar da rejeição, muitas outras cidades ainda procuram por iniciativas de coleta de dados em tempo real. Em Cingapura, por exemplo, o governo planeja requerer que todos os carros tenham um sistema de navegação por satélite que monitorará a localização de cada veículo a qualquer momento, além da velocidade e da direção. Esse sistema de rastreio permitirá que o governo cobre automaticamente por taxas de estacionamento e multas, assim como levantar um imposto baseado na frequência em que o indivíduo dirige.

A nação-ilha também está testando vários programas que coletam dados sobre questões da infraestrutura da cidade e a quantidade de energia usada em unidades individuais de habitações mantidas pelo governo (80% da população vive nesses complexos). Os mais velhos e enfermos poderiam se voluntariar a um programa que monitora o movimento dentro de suas casas.

Ao passo que mais objetos começam a se conectar na internet, vão coletar mais informação ainda.

 

“Todos os dias — apenas com nossos smartphones, cartões de crédito, etc. — deixamos para trás muitas pegadas digitais, que são então gravadas milhares de vezes todos os dias e armazenadas em algum lugar da nuvem,” diz Carlo Ratti, diretor do Laboratório da Cidade Sensorial do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). Esse mar de dados poderia permitir que cidades criassem novos programas de cidade inteligente, com a intenção de melhorar nossas vidas.

Mas os programas não são imunes de riscos. “O preocupante sobre isso é que vivemos em um mundo assimétrico, onde somente algumas empresas e instituições públicas sabem muito sobre nós enquanto sabemos pouco sobre eles,” diz Carlo. Camuflados em suas caixas pretas de informação, essas empresas poderiam estar vendendo informações pessoais para anunciantes e marqueteiros, ou permitindo que hackers ganhem acesso à informação que os usuários nem sabiam que haviam entregado.

Londres. Fonte: SmartCitiesWorld

Ratti acredita que a melhor estratégia para combater o mau uso potential desses dados seria que futuros governantes e organizações dessas cidades inteligentes implementassem um “contrato de dados” mais transparente e flexível entre indivíduos, empresas e governos. Alguns lugares já estão começando com esses contratos — o Regulamento de Proteção Geral de Dados (GDPR), anunciado para começar a ter efeito em meados de maio de 2018, vai requerer que todas as empresas na União Europeia compartilhem o tipo de dados que coletam de cidadãos, e peçam o consentimento dos indivíduos para usá-los (embora seja interessante apontar que o regulamento não toca na coleta de dados feita por governos).

A lei também permite que cidadãos da U. E. saiam do sistema e sejam “esquecidos,” ou ter dados pessoais — da ID do telefone à sequência genética — removidos de qualquer banco de dados caso não sintam que há uma razão justificável de mantê-los lá.

Para manter as futuras iniciativas de cidades inteligentes transparente, Ratti disse que “tirar vantagem dessas novas regras que logo entrarão em efeito será uma ótima forma de pressionar empresas que coletam grandes volumes de dados hoje.”

Cidade hackeada

Dados tão extraordinários e complexos poderiam, particularmente, por indivíduos em risco se caíssem nas mãos de hackers. Na conferência de segurança computacional Black Hat em 2015, os estudiosos de segurança Greg Conti, Tom Cross e David Raymond mostraram em uma apresentação e subsequente estudo que a segurança da informação em uma cidade é muito diferente da de uma empresa privada:

As cidades caracterizam interdependências complexas entre agências e infraestruturas que são uma combinação da indústria privada e organizações governamentais locais, estaduais e federais, todos trabalhando proximamente em conjunto para manter a cidade funcionando corretamente e por completo. O preparo [contra hackers] varia significativamente. Algumas cidades têm a coisa sob controle, mas outras são um emaranhado de feudos individuais criados sobre casas de baralho tecnológicas feitas em casa.

“Vai ser uma batalha sem fim entre hackers e defensores, assim como já acontece,” diz Christos Cassandras, professor de Engenharia Elétrica, Engenharia de Computação e diretor da divisão de Engenharia de Sistemas na Universidade de Boston. Empresas privadas e instituições municipais provavelmente precisarão ter se coordenar melhor nos esforços de segurança.

Hackers são uma ameaça perpétua, e tudo conectado à internet é vulnerável. Ratti aponta que hackear sempre foi parte da introdução à tecnologia de telecomunicações; em 1903, durante uma das primeiras demonstrações da tecnologia de transmissão a rádio entre Cornwall e Londres, um mágico de um café-concerto hackeou o sistema para transmitir várias mensagens chulas ao público esperando — e logo se escandalizando — da Academia Real das Ciências.

A melhor ferramenta para enfrentar hackers em cidades inteligentes, diz Ratti, pode ser a que muitas equipes de segurança computacional usam hoje: hackers do chapéu branco (white hat). Engenheiros tentam infiltrar um sistema como um hacker faria para identificarem vulnerabilidades que hackers de fato poderiam explorar (não para conseguir informações, como o hacker faria).

Cingapura. Fonte: LivingInSingapore

“[Hackers do chapéu branco] podem se tornar a prática padrão — uma espécie de simulação de incêndio cibernética — para governos e empresas, mesmo enquanto as pesquisas acadêmica e industrial focam no desenvolvimento de defesas técnicas mais avançadas nos anos subsequentes,” disse Ratti.

Por fim, há a ameaça de que os próprios governos usem os dados com propósitos nefastos. Como a Engadget aponta, o avaliador de democracia Freedom House classifica Cingapura como apenas “parcialmente livre” devido ao histórico do partido detentor do poder de suprimir dissidentes.

Há receio, portanto, de que dados coletados pelo governo possam ser usados contra dissidentes políticos. A instituição de caridade de defesa da privacidade Privacy International expressou preocupações com a falta de leis de privacidade em Cingapura em 2015, particularmente por conta da constituição de lá não garantir o direito à privacidade, e o fato do governo não haver ratificado o Pacto Internacional de Direitos Políticos e Civis que inclui uma cláusula que protege a privacidade. Analistas de políticas e estudiosos da indústria ecoam estas considerações, tanto sobre Cingapura quanto cidades inteligentes de forma geral.

Preocupações como essas são amplificadas em países com registros ainda mais manchados de direitos humanos e liberdades civis, como os Emirados Árabes Unidos.

Boston. Fonte: Michael Langlois

Cingapura tem feito esforços para mitigar estes medos e garantir aos cidadãos que sua segurança será protegida. Vivian Balakrishnan, o ministro de relações exteriores e líder da Iniciativa da Nação Inteligente do país, disse à Engadget que sob o Plano de Nação Inteligente, somente “dados de trânsito anonimizados serão coletados e agregados” de estradas com pedágio, e que oficiais irão “empreender consultores independentes de segurança” para testar o sistema contra vulnerabilidades. Ele adiciona que o governo cingaporeano está dedicado a tornar a nação em “uma sociedade open-source que é caracterizada por altos níveis de confiança, transparência e receptividade.”

No fim das contas, no entanto, dependerá de cada cidadão — em Cingapura e outras cidades inteligentes do mundo — ficar de olho nesses novos programas enquanto são implementados. Os cidadãos só podem cobrar as promessas de segurança dos governos se souberem quais dados estão sendo coletados sobre eles.

Na velocidade da tecnologia

Há alguns anos, quando Cassandras começou a fazer palestras sobre cidades inteligentes, ele costumava contar à sua plateia que achava que a maior parte da tecnologia que discutia estaria presente entre 10 e 15 anos depois. Hoje, ele admite que estava errado — a tecnologia chegou muito antes. Agora ele antecipa que o progresso será ainda mais rápido.

Cassandras acredita que a competitividade resultou nesse crescimento. “As empresas privadas estão sob muita pressão na competição global,” diz ele. Adiciona que “tudo que leva são dois ou três jogadores indo um mais rápido que o outro” para avançar rapidamente a indústria inteira.

Dubai. Fonte: Drinkpreneur

As cidades, similarmente, estão sob pressão para se tornar muito mais sofisticadas em um espaço curto de tempo. Muitas regiões metropolitanas estão se expandindo muito rapidamente, então alguns governantes podem escolher tecnologias inteligentes para evitar problemas como poluição, superlotações perigosas e ruas com pouca segurança. Uma cidade que falha em encarar esses problemas podem ser infestadas de problemas de saúde, desafios legais e uma queda na população — cidadãos e empresas podem se sentir tentados a realocar para centros mais limpos e modernos.

“Com mais frequência do que não, nesse processo há muitos riscos.”

Cassandras vê riscos na velocidade desse crescimento. “Com mais frequência do que não, nesse processo há muitos riscos,” diz ele. “Algumas vezes o desenvolvimento comercial tende a colocar esses riscos, esses perigos, preocupações de lado no esforço de chegar primeiro e ter lucro primeiro.”

Ainda assim, ele não acha os dados coletados por cidades inteligentes mais preocupante do que o que já é coletado online. “Estou mais preocupado com minha privacidade quando compro algo na Amazon ou informo meu cartão de crédito por uma passagem de avião”, diz ele. Cassandras e muitos estudiosos dessas tecnologias emergentes acabam vendo as cidades inteligentes como uma evolução da vida humana, no fim das contas. Se feito da forma certa, as cidades inteligentes conferirão aos seus cidadãos vidas mais limpas, seguras e eficientes — desde que os dados em nosso ambiente de convivência seja administrado da mesma forma que defendemos nossas casas e ruas.

Texto traduzido do site Futurism.

A polarização do Brasil está te assustando? Tenho uma sugestão.

Para ambos os lados das correntes de pensamento em nosso país e no mundo, há uma sensação de insegurança. Enquanto aqueles ditos “esquerdistas” se preocupam com o bem-estar de minorias historicamente amordaçadas, os “conservadores” se preocupam com a manutenção da sociedade dita padrão. Os argumentos e as acusações criaram um sentimento de cabo-de-guerra, onde todos acusam os outros com um “Vocês!” Em pouco tempo, pelos acontecimentos e mudanças de foco, os dois grupos foram se fragmentando entre outros mais específicos que também brigam entre si.

De um lado, existe a feminista que não aceita os LGBT como aliados, afinal transexuais invadem banheiros femininos e gays só pensam em si mesmos. Do outro, há liberais amantes do sistema capitalista que veem os evangélicos como uma ameaça tão grande ou pior do que a dos muçulmanos. Em uma página no Facebook critica-se a propaganda da Dove como uma das maiores ofensas já feitas a negros em um comercial em muito tempo. Na página ao lado, vários dizem que “a maldade está nos olhos de quem vê”. A respeito do fato que se sucedeu no MAM de São Paulo, basta inverter: os ditos conservadores veem aquilo como uma das maiores afrontas da arte moderna de todos os tempos, os de esquerda veem como uma manifestação da liberdade individual e artística.

A questão é que nem todos. Nem todas as pessoas de esquerda levaram como pouca coisa a exibição artística, e condenam a mãe da menina e o artista de permitir a entrada livre. Nem todos os conservadores estão despreocupados com ofensas raciais. Nem todos os evangélicos acham que o país inteiro deve converter-se. Nem todos os homossexuais ignoram a dificuldade que as mulheres passam. A questão é que todos estes movimentos, grupos, pensamentos, têm esquerda e direita dentro deles, têm pensamentos individuais, têm pontos de vista e senso crítico inseridas neles, se confluem em locais de trabalho, em rodas de amigos e em encontros familiares, e é assim, com contato, convivência e entendimento, que opiniões mais fortes e bem formadas se criam.

Há muitos fãs da personalidade Nando Moura no YouTube hoje em dia. Ele é visto por muitos como um fascista da direita, por outros como um líder, e por mais alguns como um simples idiota. O problema do Nando Moura, na minha opinião, não é o posicionamento que ele toma em suas opiniões e na forma de ver o Brasil, mas no fato dele convocar seus seguidores ao boicote e a ignorar todos os outros pontos de vista, usando da mentira e do exagero para isso. Ele instiga pessoas que precisavam absorver mais conhecimentos – de forma plural e isenta – a não assistir, não consumir, não entender coisas com as quais ele não concorda ou não entende. Em um vídeo, ele convida seus seguidores – muitos deles jovens – a nunca mais assistir a Globo por ela fazer lavagem cerebral. Em outro, relaciona a ideia de meninas poderem brincar de superheróis e meninos de boneca a um “pênis de brinquedo” ser o próximo passo, dando a entender que mais liberdade para crianças brincarem estaria relacionado à pedofilia. Esse é o ponto perigoso do fascismo.

O ponto onde quero chegar é que você pode encontrar amigos e conhecimento em qualquer lugar que for, com qualquer brasileiro que houver.

Não considere os pobres do Nordeste como “vocês que votaram na Dilma”. Se tiver oportunidade, conheça alguém de lá que passou por dificuldades e pergunte por que pensa assim. Não precisa concordar, mas entendendo você vai poder formar uma opinião mais completa sobre o motivo pelo qual discorda, além de criar um laço com aquele grupo de pessoas.

Admita, o Nordeste tem estilo.

Não considere os LGBT “vocês degenerados”, procure trocar ideia com o colega ou a colega de trabalho que são gays e pergunte como foi sair do armário pra família, e por que acham tão importante fazer manifestações chamativas. Podem não querer ir na próxima Parada, mas provavelmente conquistarão um amigo e verão que não faz parte dos “planos” do grupo instaurar a pedofilia. Aliás, aqui devo frisar, lembremos que a pedofilia é um problema em todas as classes sociais e sexos da nossa sociedade. Todos devemos estar unidos contra ela, não jogando a culpa em determinados grupos.

Não considere todos os evangélicos “vocês pregadores incansáveis que querem destruir terreiros”. Existem sim pessoas assim, mas existem evangélicos que desafiam suas próprias congregações apoiando filhos LGBT ou criando alianças com terreiros e igrejas católicas em busca de prover mais para pobres, viciados e serem solidários. Existem missões benéficas que não agridem ninguém, e existem pastores que gastam até o último centavo para ajudar seus fiéis.

Não considerem todos os negros “vocês sanguessugas do governo”. Procure dados sobre o assunto e a demografia do país, a história das famílias, procure seus amigos negros e pergunte se podem te contar um caso de racismo e como eles se sentiram. Tenho certeza que seu pensamento, mesmo que um pouquinho, pode acabar sendo mudado com o toque da percepção.

Não vejam todos os conservadores como “vocês fascistas da censura”. Existem pessoas que realmente se preocupam com jovens pensando em sexo muito cedo, ou deixando as formalidades de lado, ou deixando de pensar em formar uma família. Entenda que existem conservadores LGBTs, existem conservadores pobres, existem conservadores negros e existem evangélicos liberais. Entenda que até você deve ter algo de conservador aqui ou lá, seja pela criação ou pelos valores próprios que criou com o passar da vida.

Todos nós temos um pouco da esquerda, da direita, do conservadorismo, do liberalismo, do bem-estar social e do individualismo em nós. Em cada um, esses sentimentos são diferentes, e em cada um se manifestam de forma diferente. Nada desses pontos de vista é partidário, é somente nosso. O Brasil não são “vocês”, “vocês”, “vocês”, e sim “nós”, “nós, “nós”. Em cada grupo que você acredita odiar, existe alguém com um inimigo em comum seu.

Minha sugestão, minha dica para dias mais calmos, menos pessimismo e maior abertura para dialogar com as pessoas ao seu redor e se sentir menos em perigo é que você procure as pessoas e atitudes que realmente não adicionam nada a ninguém e se afaste. Se você percebe que a pessoa mente para manipular outros, pesquise aquilo que parece loucura demais (“Gays comem criancinhas!!”) antes de acreditar e levar adiante. Há muitos agentes do mal por todos os lados, do feminismo ao califado.

Se quer chamar alguém para conversar e te entender quando percebe que a pessoa não conviveu com algo que te define, não acuse-a de ser algo ou fazer parte de algum grupo. Apenas entenda que em determinado ponto vocês não concordam. E se for para continuarem não concordando, apenas tente entender por quê. E não tente impedi-la de nada, apenas deixe-a seguir a vida.

No calor do momento, quando queremos que nosso time vença mais que tudo, repetimos discursos sem realmente defendê-los porque entendemos que há força em números. Condenamos grupos inteiros de brasileiros porque alguém nos disse que eles querem instaurar o caos. Nos fechamos em grupos isolados porque não queremos ouvir outros pontos de vista. É isso que nos dá aflição e faz o diferente parecer tão ameaçador e violento.

Sei que ainda cometerei muitas vezes o erro de enxergar um grupo e vê-lo com maus olhos ou achar que estão contra mim, mas é um exercício que estou fazendo de tentar evitar essa forma de ver as coisas e pensar em como alcançar pessoas que não concordam com minha forma de ser ou minhas opiniões e entendê-las, para quem sabe estarmos juntas no futuro. Precisamos estar unidos se vamos fazer boas escolhas no ano que vem. Se não…

Não sei “vocês”, mas é como penso. Deixem suas opiniões nos comentários!

A porta da frente da internet: já ouviu falar do Reddit?

Se você nasceu nos anos 90, provavelmente passou boa parte do seu tempo online em fóruns de discussão sobre os mais diversos assuntos de que gostava. Havia o Grimmauld Place, um fórum brasileiro enorme sobre Harry Potter, os fóruns de Jogos do portal UOL que até hoje veem certo movimento, entre outros milhares de temas. Com o tempo, os fóruns foram perdendo um pouco a popularidade e as pessoas passaram a consumir e discutir mais pelo Facebook, usando dos grupos do site e das páginas.

No entanto, fora do Brasil existe um site que incorporou a magia dos fóruns e a adaptou para um consumo mais rápido e ordenado, de acordo com o caminho por onde caminhou a internet. Este site se chama Reddit.

PS: Caso você não saiba inglês, a lista de subreddits em português encontrados está no final do post!

Temas infinitos

No Reddit, praticamente tudo que você imaginar provavelmente já tem um subreddit. Assim são chamados os subgrupos que agrupam os interesses dos usuários, que reúnem textos, imagens, vídeos e animações sobre o interesse em questão. Há um subreddit para cachorros, para músicas, marcas, jogos, seriados. Você pode passar o dia conversando com outras pessoas sobre os episódios dos Simpsons ou comentar notícias de vários lugares diferentes do mundo no /r/worldnews.

Alcance impressionante

Agora você já deve estar entendendo melhor o que o site faz, mas também deve estar se perguntando o porquê do Reddit ser considerado a porta de entrada na internet. Bem, isso se dá graças à possibilidade de qualquer usuário criar seu subreddit. Por exemplo, se você gostaria de conversar com outras pessoas de Belo Horizonte sobre a cidade, compartilhar uma foto bonita que tirou da praça, reclamar de uma obra ou marcar um encontro com outras pessoas que usam o site, mas descobre que não existe um subreddit para BH, basta criar um. Isso deu espaço para que pessoas do mundo inteiro pudessem compartilhar dos menores aos maiores interesses, e deu completa abertura para a criatividade dos mesmos de encontrar interesses diferentes que unem pessoas com gostos parecidos.

A possibilidade de ser o próprio criador de uma comunidade, a versatilidade de mídia permitida e a variedade das criações dos usuários foi atraindo cada vez mais pessoas para as discussões do site, o que tornou sua visibilidade gigantesca. Qualquer meme, vídeo ou conteúdo que você vê sendo postado no Facebook provavelmente apareceu primeiro no Reddit. Por isso todos que querem as novidades fresquinhas, sejam elas o último vídeo engraçado ou a última notícia sobre a Síria, acabam conferindo o que está rolando por lá. Para juntar todos os interesses e fazer um ranking dinâmico das coisas populares na internet atualmente, o site criou o subreddit /r/all, que mistura tudo. Mas se você for um usuário, pode se tornar seguidor de cada subreddit e, assim, ir criando uma lista pessoal que vai unir todos os subgrupos em uma só timeline. Sim, como o Facebook. Só que, ao invés de também ter coisas que não te interessam e que você não quer ver, a timeline do Reddit te faz um periódico especialmente para o que você resolveu seguir. E ao invés do conteúdo ser limitado a seus amigos, está aberto para todas as pessoas que também seguem e postam no subreddit em questão.

Assim, o Reddit passa a ser muito mais amplo do que qualquer outra rede social, permitindo novamente na internet atual que tenhamos interações com desconhecidos e possamos nos aproximar deles a partir de coisas em comum.

De tudo MESMO

Não são só subreddits com assuntos tranquilos que existem, mas vocês já devem ter imaginado isso quando ficaram sabendo que qualquer um pode fazer a sua criação. No sub /r/ladybonersgonewild, por exemplo, homens podem publicar nudes de si mesmos para que as mulheres e homens gays do site comentem suas opiniões, ao passo que o /r/watchpeopledie mostra aos seguidores vídeos pelo mundo inteiro de pessoas morrendo das mais variadas formas. Há também o /r/letsnotmeet, com histórias macabras de encontros com pessoas tenebrosas na vida real que aconteceram com os outros redditors, nome dado aos usuários do site.

Onde há liberdade, há polêmica

Com a possibilidade de tudo ser discutido em seu nicho, o Reddit abriu espaço para alguns casos inusitados e outros vergonhosos. O extinto subreddit chamado /r/coontown mostrava pessoas negras agindo de forma inconsequente ou fazendo algo que seria considerado burrice, e os usuários caçoavam e eram abertamente racistas. Outro que seguia o mesmo estilo era o /r/fatpeoplehate, que mostrava exemplos de por que os gordos eram um problema, preguiçosos entre outras acusações e zoações. O Reddit teve que tomar atitude e vetar certos discursos e congregações, o que resultou em muitos usuários preocupados com a liberdade de expressão, assim como os próprios preconceitusos, a migrarem para o site clone chamado Voat.

Entre acusar erroneamente uma pessoa de ser o responsável pela bomba da corrida de Boston e receber acusações de beneficiar certos moderadores e subreddits mais influentes (o /r/politics, por exemplo, tem mais de 3 milhões de redditors), o Reddit já passou por várias situações complicadas.

Após extensa investigação por vários usuários do Reddit, Sunil Tripathi foi indicado como o autor do ataque terrorista em Boston. Descobriu-se posteriormente que ele havia desaparecido e estava morto, e as acusações causaram muitos problemas e tristeza para a família do garoto.

Onde há união, há esperança

O Reddit se tornou também um espaço onde as pessoas podem se proteger e se unir, e muitas minorias usam a plataforma para fazer novos amigos, discutir a situação da sociedade, criar movimentos ou simplesmente se divertir. Há o /r/MensLib, subreddit voltado a discutir de forma igualitária as questões, problemas e situações masculinas e também há o /r/TwoXChromosomes, para mulheres e assuntos femininos em geral. Um dos maiores grupos para homossexuais é o /r/gaybros, mas se você quiser falar com todo mundo da classe, também tem o /r/lgbt. Existem também subreddits de países (sim, inclusive o /r/brasil!) e também de regiões, como o /r/europe.

Por que nunca ouvi falar nesse site?

Apesar do Reddit contar com mais de 250 milhões de contas (70 milhões delas ativas), ter mais de 50 mil comunidades vivas e acima de 8 bilhões de visualizações de página por mês, não temos muita notícia do Reddit no Brasil. O motivo se dá pela maior parte do conteúdo do site estar em inglês, idioma dominado pelos que mais frequentam o site, americanos. Vê-se nos fóruns de discussão muitos usuários europeus por mais deles falarem inglês, e infelizmente a presença brasileira acaba sendo menor pela barreira linguística. Os últimos anos, no entanto, têm visto um crescimento cada vez maior de redditors brasileiros e tópicos em português.

Pontuando o conteúdo

Para que as melhores informações e conteúdo sobre cada assunto sejam mais facilmente acessados e vistos, o Reddit conta com um sistema de pontuação que se chama karma. A partir de upvotes (votos para cima) e downvotes (votos para baixo), os usuários têm o poder de pontuar positiva ou negativamente tanto os links e textos publicados por outros redditors como também os comentários das discussões. Isso tem o poder de dar destaque ou enterrar algo postado, o que permite que a própria comunidade controle a qualidade de si e qual a forma que irão conduzir as discussões acerca do assunto. Grandes subreddits acabam sendo mais difíceis para se conseguir uma postagem no alto, ao passo que os downvotes ajudam a impedir que coisas irrelevantes, comentários rudes ou fora de tópico não tomem espaço dos leitores.

Projetos interessantes

Além de todo esse universo de conteúdo e subgrupos, alguns projetos interessantíssimos também surgem a partir do Reddit. Já há muitos anos o site promove um amigo oculto global através do site RedditGifts, e os usuários que participam podem compartilhar os presentes que ganharam e deixar agradecimentos a partir do subreddit /r/SecretSanta, com o nome do jogo. Já participei, enviando um presente para uma mulher dos EUA e um rapaz da Suécia, e gosto de participar todos os anos!

Em 2017, também, no dia 1 de Abril como uma piada o site abriu o /r/place, um subreddit onde cada usuário podia pintar um pixel de um mural de 1000×1000 pixels com a cor que quisesse a cada cinco minutos. Em pouco tempo milhões de pessoas no mundo inteiro juntaram-se para tentar fazer suas imagens e mostrar seus interesses e bandeiras no mural, resultando em uma peça incrível com expressões de vários lugares do mundo. Tem até uma bandeirinha do Brasil!

E em português?

Como dito mais cedo, muito do Reddit não é acessado por brasileiros por muitos não saberem o inglês. Infelizmente muito do conteúdo acaba sendo perdido por não se dominar o idioma. No entanto, com o aumento do acesso no Brasil e mais interesse dos internautas, a comunidade brasileira e em português vem crescendo. Com um maior número de usuários lusófonos e mais pessoas para discutirem diversos assuntos, esses subreddits tendem a crescer tanto em tamanho quanto em variedade. Abaixo, uma lista de vários dos subreddits em existência onde a língua falada é o português.


E então, o que achou? Sente falta, assim como eu, de quando a internet tinha lugares para conhecermos coisas novas? A timeline do seu Facebook está começando a enjoar ou ficar repetitiva, ou você gostaria de ouvir novas opiniões? Sente falta de conversar sobre algo que você gosta muito, mas não tem tantos amigos que gostem também? Talvez você encontre um pouco de diversão e um novo universo de pessoas e aprendizados com o Reddit!

Em cima do muro

Este post é uma música transformada em texto.

Em algum lugar no seu guardarroupa, eu posso apostar que existe uma camisa com a silhueta do Che Guevara. Ele era um revolucionário, é, usava um chapéu bacana, mas por trás do design, acho que você vai acabar percebendo que não é tão simples. Che era meio homofóbico. Um pouquinho homofóbico. É, o Che era meio homofóbico.

Esse texto existe em defesa do muro, uma ode à ambivalência. Quanto mais você sabe, mais complicado é decidir de que lado ficar. Não importa muito se você não consegue descobrir onde a grama é mais verde, é capaz que em nenhum lugar. E, de toda forma, é mais fácil ver a diferença quando você fica em cima do muro.

Em algum lugar na sua casa, eu posso apostar que existe uma foto daquele hippy sorridente do Tibete – o Dalai Lama. Ele é um cara engraçado, amável, claro, cheio de citações e clipes, mas não vamos esquecer que lá no Tibete, aqueles monges interessantes costumavam ferrar com os pobres. Pois é. E a linha budista sobre nossas vidas futuras ilustram uma forma perfeita de impedir os fracos de subir enquanto ele diz que os pobres viverão de novo. Mas agora ele é rico, para ele é fácil falar.

Dividimos o mundo entre terroristas e heróis, normais e os esquisitos, os bons e pedófilos, em coisas que dão câncer, coisas que curam câncer e coisas que não causam câncer, mas que provavelmente vão causar no futuro. Dividimos o mundo para pararmos de sentir medo, entre o certo e o errado, entre o preto e o branco, entre homens de verdade e bichinhas, status quo e miséria. Queremos o mundo binário, bem binário. Mas não é tão simples.

Seu cachorro tem uma emissão de CO² maior do que um carro 4×4. Seu filho também. Talvez você deva trocá-lo por um carro elétrico, que tal?

Dividimos o mundo entre liberais e aficionados em armas, entre ateus e fanáticos, sóbrios e drogados, químico e natural, fictício e fatual, ciência e o supernatural, mas é claro que nada é tão preto e branco. Dividimos o mundo para não sentir medo.

Quanto mais você sabe, mais difícil fica decidir o que é certo, e no final não importa se dá para ver qual grama é mais verde. Provavelmente não é nenhuma.

Não é tão simples.

Essa frustração… Se você ler as notícias dos tabloides, se cometer um erro e acabar lendo algo no topo ou no meio da capa de um jornal, se ler os tabloides, ou as páginas críticas, ou os comentários de qualquer site, será fácil ficar convencido de que a raça humana está em uma missão de dividir as coisas em duas colunas muito bem separadas.
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É um preto no branco muito invasivo, tudo tem que ser do bem ou do mal, saudável ou letal, natural ou químico, sabe? As tropas no Iraque são boas, pedófilos são do mal, ignorando o fato de que alguns soldados gostam de crianças e de que alguns pedófilos têm armas, e… Sabe, se comer essa fruta ou tomar esse suco, você será milagrosamente saudável e viverá para sempre! Mas se ingerir essa toxina ou tomar essa vacina, vai ter câncer e morrerá! Ou será autista e não gostará de receber abraços.
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E então, se tudo orgânico e natural é bom, ignorando o fato de que substâncias orgânicas naturais incluem ácido, cocô e crocodilos, e se tudo químico é do mal, ignorando o fato de que  tudo é químico… TUDO É QUÍMICO!
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O dia em descobrirem que tapetes de ioga são carcinogênicos vai ser o dia mais feliz da minha vida. Enfim, ao invés de ficar me irritando com isso, me senti inspirado por Bono e a forma que ele usou o Pop para atacar a pobreza e, bem… Foi um sucesso total. Imaginei que pudesse ter uma música num estilo Pop explosivo também, e sobre esse muro […] e ela é chamada “The Fence.”