Bangladesh tem uma população quase da do tamanho do Brasil, e que segue crescendo sem o maior controle em um espaço que é fração do tamanho do nosso país. Existe congestionamento, drogas, esgoto e uma completa falta de infraestrutura que faz os pelos dos braços ficarem em pé. Uma tristeza, mesmo, generalizado. Só o turista aventuroso gostaria de ir.
O Iêmen é um dos países mais lindos do mundo, pelas suas construções históricas e um povo muito receptivo, mas está lacrado em uma região péssima e impossibilitado de receber recursos, importar ou exportar. Estão sendo esganados, e por isso o crime cresce, a fome aumenta e tudo está definhando. Se acha que damos pouca atenção aos venezuelanos, imagina este povo…!
O Níger tem o pior IDH do mundo: só 0,354. Gangues, milícia, descontrole total do governo, conflitos étnicos, religiosos, falta de produção, educação, estruturas básicas. É o que deu errado da nova civilização. Talvez fossem mais felizes ainda em tribos. É o foco da comunidade mundial, hoje, tentar ajudar este país a ter um pouquinho de progresso.
Tem muito mais! Somália, Haiti, Samoa…
Até a Rússia, e o Brasil, dependendo de onde você for, não vão ser suas melhores férias.
O Norte é enorme, então não posso responder por todos, mas vou te contar minha experiência em Monte Dourado, no Pará, uma vila pertencente ao município de Almeirim. Morei lá dos 7 aos 9 anos de idade, totalizando quase três anos.
Monte Dourado foi uma “cidade” formada para alojar os engenheiros e funcionários da Cadam, uma empresa de caulim que trabalhava em conjunto com a Jari, de celulose. Muitas casas tinham um estilo que lembra o americano, embora mais simples.
Eu morava na Vila Cadam, que era onde os engenheiros moravam. A entrada para a vila tinha umas casas mais chiques, onde moravam alguns executivos. Quando chegamos, praticamente todas as ruas da cidade eram de terra, mas quando eu fui embora, boa parte tinha sido asfaltada.
Eu e as crianças do bairro gozávamos de alguns privilégios a mais do que a maior parte da população, como o saneamento, oferecimento de energia, e lazer. Tinha um parquinho bem grande para nós, uma quadra de volêi de praia e uma churrasqueira para os adultos. Todas as casas tinham quintais espaçosos e a oferta de frutas da região era farta.
(Clube Jariloca, no Centro da cidade)
O clube Jariloca era um ponto de encontro importante na cidade, e oferecia tudo que um bom clube tem: aulas de tênis com boas quadras, uma piscina com temperatura amena (Monte Dourado nem precisa de aquecimento) com toboágua funcionando, sauna, lanchonete, chalés para churrascos…
Eu fiz artes marciais e tênis aqui, com bons professores.
A cidade também contava com três escolas particulares para o Ensino Fundamental e uma (Positivo) para o Ensino Médio. Estudei nas três, não sei exatamente o porquê, mas no geral a educação era adequada. Achei a melhor sendo a do Positivo. Ainda assim, quando minha irmã tinha idade para fazer o primeiro ano do Ensino Médio, meus pais acharam melhor mandá-la de volta para Belo Horizonte para terminar sua educação. Ela achou ruim na época, pois tinha um namoradinho na cidade, mas hoje em dia é agradecida!
Existiam duas escolas de inglês, uma delas sendo a Wizard, em que comecei meu aprendizado da língua. Outra coisa pela qual agradeço meus pais, começar na infância é o melhor caminho para a verdadeira fluência 🙂
Outra curiosidade sobre Monte Dourado é que ela ficava colada na divisa com o Amapá, e atravessávamos o Rio Jari de catraca (um pequeno barco motorizado) como se fossem ferry boats, para chegar à Laranjal do Jari, uma cidade com mercados de peixes suspensos sobre os rios e vários outros artigos baratos. Era um mercadinho para os habitantes de Munguba, Almeirim e Monte Dourado.
(Vista de Laranjal do Jari a partir do lado de Monte Dourado. Nada formoso, mas nunca comi peixes melhores!)
Ouvia-se pouco sobre crimes. A maior parte era violência doméstica, com alguns casos fatais, infelizmente. A cultura do machismo e o abuso do álcool eram comuns entre os habitantes mais simples. Eu, como criança, nunca presenciei nenhum problema com indígenas nem nada do tipo, mas é possível que meus pais e seus colegas tivessem tido experiências diferentes.
Também por ser criança, minha liberdade era incrível. Eu ia e voltava de bicicleta todos os dias da escola, construí casas na árvore, explorei a floresta amazônica com meus amigos, vimos e filmamos cobras, macacos, tartarugas, conhecemos madeireiros ilegais em uma de nossas excursões (e alguns de nós apanharam muito por conta disso!), e como curiosidade, em uma certa época do ano besouros gigantes apareciam no chão da cidade inteira, e não se moviam durante a manhã. Usávamos como apetrecho em nossas roupas, e deixávamos onde havíamos encontrado depois que começavam a se mexer.
(Besouro Hércules, uma de minhas peças de roupa preferidas!)
Além de todas essas coisas sobre Monte Dourado, meu pai sempre gostou de acompanhar a tecnologia, e compramos computador cedo lá em casa. Aprendi a mexer em computadores com o Windows 95, e nasci em 1992! Por conta disso, sempre tive contato com a internet. Meu pai foi um dos primeiros a assinar a AT&T em Monte Dourado (quando a empresa ainda existia no Brasil), e vários dos meus amigos iam na minha casa para lermos coisas online e jogarmos jogos de Gameboy através de um emulador.
Enfim, aproveitei diversas frutas que nunca mais vi, conheci animais incríveis, conheci a nossa linda floresta amazônica, tive amigos ótimos (alguns que mantenho até hoje), pude viver uma autêntica experiência de criança na cidade pequena, de pé descalço e brincando de bente-altas na rua. Tive dois cachorros fantásticos e uma tartaruga.
Eu adorava o sotaque (gostaria de continuar usando “Égua!” no dia-a-dia!) e adorava como as pessoas eram humildes, felizes e cúmplices. Parecia que toda a cidade estava se esforçando para melhorar junta e cuidar dos seus. Eu não tinha um conceito de racismo ou de classes sociais, todos os meus amigos eram iguais para mim. E, bem ou mal, Monte Dourado era até bastante desenvolvida para o interior paraense.
Acho que isso ficou longo demais, mas aqui está minha experiência no Norte do Brasil. Eu não trocaria por nada, e sempre será uma segunda casa para mim. Também pude visitar Belém, Santarém e Porto de Moz, e amei todos os lugares e pessoas por que passei.