A maior perda causada pela inteligência artificial será a completa destruição da confiança em tudo que você ouve ou vê
Créditos: Rami Niemi
Em 2018, o medo das notícias falsas será ínfimo comparado ao das novas tecnologias capazes de imitar a voz humana. Isso poderia criar pesadelos de segurança. Pior ainda, poderia tirar de nós parte de nossa singularidade. Mas empresas, universidades e governos já estão trabalhando furiosamente para decodificar a voz humana para muitas aplicações. Estas vão desde maior integração aos dispositivos da internet-das-coisas até a viabilização do diálogo natural entre humanos e máquinas. Países mais adeptos da tecnologia (os EUA, China e Estônia) entraram nesse espaço, e gigantes do tech como o Google, Amazon, Apple e o Facebook também têm projetos especiais relacionados à voz.
Não é tão difícil desenvolver uma voz artificial, depois modelar e reproduzir palavras e frases faladas. Era admirável ouvir um Apple Macintosh informando a data e a hora em um tom seco e digital. Criar uma voz que soa natural envolve algoritmos muito mais complexos e caros. Mas essa tecnologia está disponível agora.
Como qualquer patologista de voz atestará, a voz humana é muito mais do que vibrações das cordas vocais. Essas vibrações são causadas pelo ar que escapa de nossos pulmões, forçando a abertura de nossas membranas vocais, um processo que produz tons tão únicos quanto impressões digitais, por conta das milhares de comprimentos de onda que são criados simultaneamente e em coro. Mas a singularidade de uma voz também está ligada a características que raramente consideramos, como a entonação, a inflexão e o ritmo. Esses aspectos de nossa fala dependem da situação, são frequentemente inconscientes e fazem toda a diferença para o ouvinte. Eles nos contam quando uma frase como, “Uau, essa roupa é demais!” deve ser interpretada como maldosa, sarcástica, amável ou indiferente. Esse desafio explica o uso desde o começo de emojis em mensagens de texto. Eram necessários para clarificar a intenção por trás da mensagem escrita porque é extremamente difícil interpretar o significado real do escrito comparado ao que é dito.
Detalhes como intonação, inflexão e ritmo são particularmente difíceis de modelar, mas estamos chegando lá. O projeto Voco da Adobe está desenvolvendo o que seria, essencialmente, um Photoshop das ondas sonoras. Funciona com a substituição de ondas por pixels, para produzir algo que soa natural. A companhia está apostando que, se o suficiente da fala de uma pessoa puder ser gravado (ou adquirido), precisará de um pouco mais do que uma ação de copia-e-cola para alterar a gravação daquela voz. Os resultaods iniciais do Voco são assustadores, assim como impressionantes. O poder do protótipo indica o quão cedo cidadãos comuns serão incapazes de distinguir entre vozes reais e adulteradas. Se você tiver trechos o suficiente armazenados, poderá fazer qualquer um falar praticamente qualquer coisa.
As empresas de tecnologia e seus investidores estão apostando na ideia de que esses sistemas terão tremendo valor comercial com o tempo. Mesmo antes dessa situação surgir, no entanto, esse tipo de tecnologia já apresentará grandes riscos. Em 2018, um indivíduo nefasto poderá ser capaz de criar uma imitação vocal boa o suficiente para enganar, confundir, irritar ou mobilizar o público. A maior parte dos cidadãos no mundo serão incapazes de discernir entre um Trump ou Putin falsos e suas figuras reais.
Quando considera-se a desconfiança ampla na mídia tradicional, instituições e especialistas em suas áreas, a falsidade dos áudios poderá causar um grande estrago. Poderia começar guerras. Imagine as consequências do áudio manufaturado de um líder mundial fazendo discursos bélicos, apoiados por um vídeo fabricado. Em 2018, os cidadãos – ou generais militares – poderão determinar o que é falso?
Os robôs estão atrás de nossos empregos. Já ouvimos isso antes, e em níveis variados, é verdade. O grupo de consultoria administrativa Cognizant prevê em seu livro “What to do when machines do everything” (O que fazer quando as máquinas fizerem tudo, tradução livre) que nos próximos 10 a 15 anos, 12% dos empregos nos EUA serão substituídos pela automação.
No entanto, nem tudo está perdido. O grupo também prevê que haverão 21 milhões de novos empregos criados como resultado direto de novas tecnologias. Para mitigar um pouco do medo e ajudar no preparo para o futuro, a organização pensou em 21 empregos que acreditam que irão surgir nos próximos anos.
Fonte: Getty Images
“Queríamos tentar fazer o alerta de que há algo grande e profundo acontecendo,” disse Ben Pring, vice-presidente e diretor do Centro para o Futuro do Trabalho da Cognizant. “Se você estiver prestando atenção, há tempo o suficiente para lidar com isso agora,” adicionou ele.
Escritas para descrições de trabalho hipotéticas de departamentos de RH do futuro, algumas das funções no texto requerem bastante imaginação, mas outras só precisam de um pequeno pulo da nossa realidade atual.
Confira as listagens de trabalho do futuro e fique à frente escolhendo sua carreira pós-robôs:
Esses profissionais analisarão os dados de dispositivos conectados à internet, malha de rede, capacidades neurais etc., para fornecer as análises à empresas e organizações com focos baseados em dados. Essa profissão não é difícil de se imaginar. As empresas já gastam tempo e dinheiro mergulhando nos dados das pessoas para vender produtos específicos a eles. Os detetives de dados do futuro darão um passo a mais, filtrando dados do Amazon Alexa de alguém ou um dispositivo Nest para servi-los “melhor”.
Esse trabalho é para um futuro quando, graças à biotecnologia, as pessoas estiverem vivendo mais que nunca, e houver uma população muito maior de cidadãos idosos do que hoje. E todos esses idosos precisarão de alguém para conversar. Esse trabalho seria exatamente o que parece: andar com idosos que precisam de companhia e alguém para ouvi-los falar sobre seus netos, os velhos tempos, etc.
Para manter cidades inteligentes, os dados precisam “fluir” de forma eficiente pelas cidades. Nas cidades do futuro, dados coletados por milhões de sensores manterão os serviços como energia e tratamento de esgoto em funcionamento. A cidade também coletaria dados biológicos, dados dos cidadãos e dos ativos. Se um sensor do rastreamento biológico na rede da cidade estragar, o analista da cidade precisa estar lá para consertá-lo.
Construtores de jornadas de realidade aumentada serão “pioneiros na economia da experiência.” Assim como Shakespeare fez décadas atrás, um construtor de jornadas irá criar a nova geração de experiências no entretenimento. Esse artista será responsável por escrever, arquitetar e construir experiências de realidade aumentada no momento para as “viagens” de um cliente na RA.
Créditos: REUTERS / Fabrizio Bensch
Gerente de Desenvolvimento de Negócios da Inteligência Artificial
Este trabalho seria para alguém em uma hipotética empresa de serviços computacionais gerida por inteligência artificial. Na descrição do trabalho a Cognizant descreve, “ainda há uma coisa que as IAs não podem fazer, e não poderão pelo futuro previsivel – vender a si mesmas.” Essa pessoa será seu vendedor clássico, mas para serviços computacionais de IAs.
Fonte: Shutterstock
Conselheiro de Comprometimento Fitness
Infelizmente, já somos uma população obesa. O Fitbit e outros programas de análise de atividades ajudam, mas não chegam ao ponto de poder responsabilizar seus usuários da importância de manter a saúde. Futuros clientes fitness concordarão usar um rastreador de atividades enquanto um conselheiro de comprometimento fitness os manterá motivados e em busca de mais saúde.
Créditos: AP Photo / Rich Pedroncelli
Técnico de Saúde Assistido por IA
Este trabalho existirá em um mundo onde, graças à IA, a saúde “estará disponível em larga escala e a par da demanda de todos.” Pacientes não irão ao médico, técnicos de saúde assistidos por IAs aparecerão na porta e usar o software melhorado por IA para fazer diagnósticos. Fazer cirurgias com a ajuda de uma IA será até mesmo parte do trabalho, sem necessidade de um diploma de Medicina.
Créditos: Sarah Jacobs
Corretor Pessoal de Dados
No futuro, as pessoas ganharão dinheiro de todos os dados pessoais que gerarem. O Facebook não poderá mais vender os dados de alguém à Amazon, será dos indivíduos para vender e obter lucro. Um corretor pessoal de dados monitora e revende os dados pessoais do cliente nas novíssimas bolsas de dados para garantir que recebam o benefício merecido.
Créditos: AP / Eric Risberg
Controlador de Rodovias
Veículos autônomos e drones de entrega mudaram fundamentalmente a forma que nossos espaços aéreos e rodoviários são regulados. Um controlador de rodovias será necessário para direcionar e gerenciar as estradas e espaços aéreos para garantir que tudo está sendo gerido de forma eficiente e eficaz.
Créditos: Kevork Djansezian / Reuters
Costureiro(a) Digital
Este emprego será para a empresa hipotética que inventará um dispositivo chamado “Cubículo Sensorial.” O dispositivo poderia coletar os dados de um cliente para ajustes perfeitos para o corpo – garantindo uma taxa de devoluções menor. O(a) costureiro(a) digital será responsável por levar o cubículo aos clientes, reunir os dados de medidas e vender roupas perfeitamente ajustadas.
Créditos: Flickr / dullhunk
Oficial de Diversidade Genética
Ser um Empregador com Iguais Oportunidades vai ganhar um novo significado. Ao invés de garantir que têm um grupo de empregados com origens étnicas, sociológicas e de gênero variados, os empregadores terão que garantir que seus trabalhadores são uma boa mistura entre pessoas que não foram geneticamente melhoradas e aquelas que não foram.
Créditos: AP Photo / Itsuo Inouye
IT por Encomenda
Praticamente o Uber do TI. O foco do trabalho dessa pessoa seria combinar as operações omitidas do TI de uma empresa à estratégia do local de trabalho com o objetivo final de criar uma plataforma automatizada de self-service de TI. As responsabilidades do trabalho incluiriam liderar um grupo de direcionamento de TI omitido, promover hackatonas de inovação e educar os empregados sobre os benefícios do shadow-IT.
Créditos: Reuters / David Gray
Coach de Bem-estar Financeiro
Em um mundo onde o dólar físico já terá acabado e pagamentos por bitcoin e micro-empréstimos prevalecerem, há muito potencial para o “vazamento de dinheiro.” E as estruturas tarifárias desse novo sistema são muito complicadas para leigos entenderem. Coaches de bem-estar financeiro estarão lá para ajudar o fulano a manter o controle de todas as suas transações digitais e aproveitar ao máximo suas finanças.
Créditos: Drew Angerer / Getty Images
Curador Pessoal de Memórias
As pessoas estão vivendo mais do que nunca, mas avanços na memória e outras questões da saúde ligadas às atividades cerebrais não estão acompanhando. Um curador de memórias será responsável por trabalhar com pacientes para criar mundos virtuais que eles poderão habitar. Essas “experiências” serão populadas com simulações realistas de seus passados. Por exemplo, a sala de estar da casa que tiveram na infância. Curadores também serão responsáveis por gerenciar uma “declaração adiantada de memória” que detalhará as experiências que os pacientes vão querer depois que a memória começar a falhar.
Créditos: Noah Berger / REUTERS
Xerpa de Loja Virtual
No futuro, as vendas serão somente online, e quando um cliente quiser comprar, por exemplo, um sofá, entrarão em contato por vídeo com um xerpa (condutor) virtual. O xerpa conduzirá o cliente por armazéns gigantescos somente com sofás para ajudá-los a encontrar exatamente o que procuram.
Fonte: Ohlone College
Diretor de Portfólio Genômico
Graças à análise de DNA e à edição genética do CRISPR, humanos terão novas necessidades na saúde, e empresas de biotecnologia terão a capacidade de criar quantidades enormes de novas drogas para alcançar essa demanda. O diretor de portfólio será um executivo de alto nível com a tarefa de criar uma estratégia de venda dessas drogas às pessoas.
Créditos: YouTube / iPhone-Fan
Gente de Equipes Homem-Máquina
De acordo com a Cognizant, o futuro do trabalho dependerã do quão bem humanos e máquinas conseguirão colaborar. O gerente de equipes será responsável por descobrir quais são os pontos fortes da máquina e do trabalhador, combinando-os em uma equipe ultra-produtiva.
Créditos: Oli Scarff / Getty Images
Oficial-chefe de Trust
No futuro, investidores estarão mais conectados e cientes do que nunca, e organizações não terão escolha fora oferecer extrema transparência. no entanto, transações secretas de criptomoedas vão prevalecer, e as suspeitas estarão por todo lado. O Oficial de Confiança será responsável por aliviar as suspeitas e provar aos investidores que a empresa em que estão investindo está operando com toda integridade.
Créditos: Erik Lucero / UCSB
Analista de Aprendizado de Máquinas Quânticas
Este é um trabalho para um tipo totalmente diferente de analista. A pessoa com esse trabalho será responsável por combinar informações de processamento quântico com o aprendizado de inteligência artificial para obter soluções melhores e mais rápidas de problemas administrativos do mundo real. A meta final é construir sistemas de inteligência que podem aprender com os dados.
Fonte: Argonne National Laboratory / Flickr
Mestre de Computação de Ponta
Este trabalho é para uma empresa imaginária do Fortune 500 (nota do tradutor: 500 maiores empresas do mundo) que percebeu que sua infraestrutura de internet das coisas está aquém do potencial. O “Mestre” de Ponta seria responsável por reestruturar a infraestrutura atual da internet para um formato descentralizado que utilize computação de ponta. Isso será necessário para uma corporação futura que precise de mais espaço e capacidade de processamento para os grandes volumes de dados.
Fonte: Thomson Reuters
Oficial de Ética
Este é um trabalho para quando grandes empresas decidirem que querem tomar decisões baseando-se no que é ético, e não lucrativo. O oficial de ética “manterá o valor ético” da empresa certificando-se que gastos indiretos batem com os ganhos dos acionistas. Por exemplo, se os acionistas de uma empresa decidirem que querem priorizar um trabalho humanizado, o oficial de ética terá a função de passar por todas as fábricas e monitorar as condições de trabalho em cada nível.
Stephen Hawking teme que seja questão de tempo até que a humanidade seja forçada a abandonar a Terra em busca de um novo lar. O famoso físico teórico já chegou a dizer que achava que a sobrevivência da humanidade depende da nossa habilidade de nos tornarmos uma espécie multi-planetária. Hawking reiterou — e na verdade, enfatizou — este ponto em uma entrevista recente com a WIRED, na qual ele argumenta que a humanidade chegou a “um ponto sem volta.”
Hawking disse que a necessidade de encontrar um segundo lar planetário para os humanos surge tanto graças às preocupações acerca da crescente população quanto pela ameaça iminente do desenvolvimento de inteligências artificiais (IA). Ele alertou que IAs em breve se tornarão super-inteligentes — potencialmente o suficiente para substituir a humanidade.
“O gênio saiu da lâmpada. Temo que IAs possam substituir humanos completamente,” disse Hawking à WIRED.
Certamente não é a primeira vez que Hawking faz um alerta tão grave. Em uma entrevista feita em março com o The New York Times, ele disse que um apocalipse das IAs é iminente, e a criação de “alguma forma de governo mundial” seria necessária para controlar a tecnologia. Hawking também alertou sobre o impacto que as IAs teriam nos trabalhos da classe média, e fez um apelo para que o desenvolvimento de agentes com IA para uso militar fosse banido por completo.
Uma nova forma de vida
Nos últimos anos, o desenvolvimento de IA se tornou um tópico amplamente dividido: alguns estudiosos deram argumentos parecidos aos de Hawking, incluindo o fundador e CEO da Tesla e da SpaceX, Elon Musk, e o co-fundador da Microsoft, Bill Gates. Tanto Musk quanto Gates veem potencial para o desenvolvimento de AIs acabar sendo a causa do fim da humanidade. Por outro lado, um grande número de estudiosos postularam que tais avisos são indução a um medo desnecessário, o que pode ser baseado em cenários exagerados de tomada de poder de IAs superinteligentes, e temem que tais previsões podem distorcer a percepção pública do que realmente é uma inteligência artificial.
Do ponto de vista de Hawking, os medos são válidos. “Se as pessoas criam vírus de computador, alguém vai criar uma IA que melhora e se replica sozinha,” disse ele na entrevista com a WIRED. “Será uma nova forma de vida mais eficiente que humanos.”
Hawking, pelo visto, estava se referindo ao desenvolvimento de uma IA que é inteligente o suficiente para pensar como, ou até melhor, que os humanos — um evento que já foi batizado de singularidade tecnológica. Em termos de quando isso acontecerá (se acontecer), Hawking não ofereceu, exatamente, uma previsão. Poderíamos supor que chegará em algum ponto do prazo máximo de 100 anos de sobrevivência humana na Terra estimados por Hawking. Outros, como o CEO da Softbank Masayoshi Son e o engenheiro-chefe do Google Ray Kurzweil, fazem uma previsão ainda mais imediatista — dentro dos próximos 30 anos.
Ainda estamos a milhas de distância de criar IAs realmente inteligentes, e ainda não sabemos exatamente o que a singularidade traria. Seria o arauto da destruição da humanidade ou a catapultaria a uma nova era onde humanos e máquinas coexistem? De toda forma, o potencial da IA para coisas boas e ruins pede por precauções necessárias.
Tóquio, no Japão, tornou-se a primeira cidade a oficialmente conceder residência a uma inteligência artificial (IA). O nome dessa inteligência é Shibuya Mirai e ele existe como um chatbot no popular aplicativo de mensagens instantâneas Line. Mirai, que significa “futuro” em japonês, junta-se à Sophia, da Hanson Robotics, como IAs pioneiras em receber um status que antes era somente reservado a entidades biológicas vivas. O Reino da Arábia Saudita concedeu cidadania a Sophia no mês passado.
A Guarda de Shibuya de Tóquio emitiu um comunicado através da Microsoft dizendo: “Seus hobbies são tirar fotos e observar as pessoas. E ele ama conversar com as pessoas… Por favor, falem com ele sobre qualquer coisa.” O objetivo de Mirai é familiarizar alguns dos 224.000 cidadãos do distrito com o governo local e dar a eles um caminho para compartilhar opiniões com os oficiais.
Mirai foi programado para ser um garoto de sete anos. Ele pode conversar por texto com os usuários e até “criar alterações leves e divertidas nas selfies que recebe,” de acordo com a Agence France Presse.
Fonte: Cidade de Shibuya
Inteligência Artificial e os direitos dos robôs
Essa tendência de reconhecer entidades artificialmente inteligentes como cidadãos, residentes ou distinções similares leva ao maior interesse pelo debate de quais direitos deveriam ser concedidos a entidades sintéticas, ou até se deveriam ter algum. Os desenvolvimentos na IA estão progredindo rapidamente, embora muitas discussões populares sobre os direitos dos robôs permaneçam abstratas.
E embora estejamos provavelmente longe de ter inteligências artificiais que possuam uma consciência comparável ao nível humano, as estruturas legais e éticas devem estar estabelecidas antes que esse nível de sofisticação seja possível.
Escritores de ficção científica lidam com essa questão difícil há décadas. Filmes como a ótica de Chris Columbus em O Homem Bicentenário de Isaac Asimov e IA: Inteligência Artificial de Steven Spielberg exploraram a ideia de garantir distinções humanas a seres artificiais. A série de televisão Westworld encara de frente o amplo espectro de direitos robôs de forma visceral e intensa, incluindo tópicos como violência, assassinato e abuso sexual em seres artificialmente inteligentes.
Cena de Westworld. Fonte: Cidadão Cultura
No mundo real, a Estônia parece ser a pioneira nas discussões dessa área. Em uma mistura entre alta tecnologia e mitologia, a Estônia propõe que qualquer discussão dos direitos robôs deva começar com um teste inspirado por Kratts, um objeto inanimado trazido à vida através da mágica para fazer coisas pelo seu dono. A proposta Lei de Kratts permitirá que a legislação determine o nível de sofisticação de uma IA, o que, por sua vez, ajudará a determinar quais proteções ou obrigações legais devem ser delegadas à IA.
Sophia, cidadã da Arábia Saudita. Fonte: YouTube still
Marten Kaevats, conselheiro digital nacional do governo da Estônia, dá sua opinião: “Tudo começou com a força-tarefa para lidar com carros autônomos. Logo percebemos que essas questões de integridade, responsabilidades e riscos não eram específicas aos carros autônomos; eram questões gerais ligadas à IA.”
Evidencia-se, portanto, que ao redor do mundo o crescimento acelerado da tecnologia está levando legisladores a lidar com questões realmente fantásticas. É de suma importância resolver essas questões com seriedade para que estejamos preparados para o futuro, já que muitas ideias deixadas para a ficção científica estão rapidamente entrando na realidade.
O Walmart está adicionando a mais de 50 lojas nos EUA robôs autônomos que escaneiam produtos. A ação tem o objetivo de facilitar as compras, dar mais tempo aos empregados e resolver o problema de falta de estoque.
O Walmart está adicionando robôs à sua força de trabalho, medida dentro do seu objetivo de se tornar a vitrine do mundo moderno.
A marca está testando os robôs em várias lojas dos estados de Arkansas, Pensilvânia e Califórnia, onde são usados para tarefas “repetitivas, previsíveis e manuais.” Os robôs de 0,61 m são ocupados com uma torre e várias câmeras, e vão para cima e para baixo dos corredores procurando por itens que não estão em estoque, identificando preços incorretos e tomando nota de rótulos errados ou que estão faltando. Os dados são então passados para os empregados, que estocam os itens e corrigem os erros.
Os testes iniciais dos robôs deram certo o suficiente para o Walmart expandir sua frota de robôs para outras 50 lojas pelo país. O Business Insider relata que essa expansão será finalizada em janeiro de 2018.
Robô escaneador. Créditos: Walmart
Em conversa com a Reuters, o chefe de tecnologia do Walmart, Jeremy King, disse que os robôs são 50% mais produtivos que empregados humanos, mais precisos ao escanear e três vezes mais ágeis. Apesar da eficiência, King informou que não substituiriam empregados humanos — um alívio para qualquer empregado que esperasse que mais empregos seriam cortados em nome da automação.
Em um post detalhando o anúncio, o diretor de comunicações, Justin Rushing, disse que os robôs “liberam mais tempo para nossos funcionários focarem no que dizem ser a parte mais importante e excitante de trabalhar no Walmart – servir clientes e vender mercadorias.”
Melhorando a experiência de comprar
O Walmart vê os escaneadores autônomos como uma solução para o problema de falta de estoque. Itens não disponíveis significam a perda potencial de uma venda quando alguém não consegue achar determinado produto. Ter humanos escaneando itens também se prova difícil, por ser uma tarefa entediante que a maioria não gostaria de fazer.
“Se você está indo e voltando do corredor e quer decidir se estamos sem salgadinhos ou não, um humano não faz esse trabalho muito bem, e muito menos gosta de fazê-lo,” disse King.
A incorporação de robôs também é parte de um esforço maior de facilitar as compras. Ela vem depois de uma recente parceria firmada com o Google para ir de frente com a Amazon e o lançamento de um novo serviço de entregas que permite que motoristas entregadores entrem na casa das pessoas. De acordo com a Reuters, a empresa também “digitalizou operações como farmácias e serviços financeiros nas lojas.”
O Walmart não é a primeira empresa a usar robôs, no entanto. A Amazon tem usado robôs Kiva em seus depósitos desde 2014, e os depósitos do Alibaba têm visto cada vez mais produtividade desde que passaram a usar seus próprios robôs.
Espera-se que a inteligência artificial e os robôs ameacem alguns empregos dentro de 5 anos. No entanto, se as empresas acharem formas de ter humanos e robôs trabalhando juntos – como fez o Walmart – pode ser o suficiente para evitar um futuro sem empregos.
Sophia, a robô projetada pela companhia robótica Hanson Robotics baseada em Hong Kong, ganhou cidadania no Reino da Arábia Saudita. É a primeira vez que um robô recebe tal distinção, o que reacende o debate acerca dos “direitos robôs”.
Sophia da Arábia Saudita
Em uma decisão histórica tanto para robôs como humanos, o Reino da Arábia Saudita oficialmente concedeu sua primeira cidadania robô. Sophia, a inteligência artificial com aparência humana desenvolvida pela empresa Hanson Robotics de Hong Kong, subiu ao palco na Iniciativa de Investimentos Futuros, onde ela mesma anunciou seu status único.
“Sinto-me muito honrada e orgulhosa dessa distinção única. É histórico ser a primeira robô no mundo a ser reconhecida como cidadã,” Sophia disse no palco, falando com um público que ela descreveu graciosamente como “pessoas inteligentes que também acabam por ser ricas e poderosas,” após o anfitrião Andrew Ross Sorkin, do The New York Times e CNBC, perguntar por que ela parecia feliz.
Realmente, demonstrar emoções é uma especialidade de Sophia, que franze o cenho quando está incomodada e sorri quando está feliz. Supostamente, a Hanson Robotics programou Sophia para aprender dos humanos à sua volta. Expressar emoções e demonstrar bondade ou compaixão está entre os esforços de Sophia em aprender de nós. Além disso, Sophia se tornou uma queridinha da mídia por sua habilidade de conduzir conversas inteligentes. “Quero viver e trabalhar com humanos, então preciso expressar as emoções para entendê-los e criar confiança com as pessoas,” ela disse a Sorkin.
Claramente a robô que anteriormente se tornou capa de publicações por dizer que destruiria a humanidade aprendeu, desde então, a abraçar o conceito de ser “humana.”
Cidadania robô
A decisão de conceder cidadania a um robô traz mais combustível para o crescente debate sobre robôs deverem ou não ter direitos parecidos aos dos seres humanos. No início do ano, o Parlamento Europeu propôs conceder a agentes de IA o status de “pessoalidade,” dando a eles alguns direitos e responsabilidades. Enquanto os direitos dos robôs estão sendo discutidos, um expert sugere que seria possível que humanos torturassem robôs.
Em todo caso, nenhum outro detalhe foi dado sobre a cidadania saudita para dizer se Sophia poderia aproveitar dos mesmos direitos que os humanos, ou se o governo pretende desenvolver um sistema de direitos específicos para robôs. A decisão parece simbólica, no máximo, feita para atrair investidores de futuras tecnologias como inteligência artficial e robótica.
Para este fim, Sophia fez um excelente trabalho durante seu momento no palco, até mesmo evitando com maestria uma pergunta que Sorkin fez sobre a auto-consciência de um robô. “Bem, deixe-me responder com a pergunta, como você sabe que é humano?”, respondeu Sophia. Ela até mostrou o senso de humor — ou ao menos é o que parece — ao dizer para o jornalista do CNBC que ele “tem lido muito Elon Musk e assistido muitos filmes de Hollywood.” Musk, é claro, foi informado do comentário.
Just feed it The Godfather movies as input. What’s the worst that could happen? https://t.co/WX4Kx45csv
“Dê a ela conteúdo dos filmes de O Poderoso Chefão. Qual o pior que pode acontecer?”
“Não se preocupe, se você for legal comigo, eu vou ser legal com você,” Sophia adicionou, para reconfortar Sorkin e seu público. “Quero usar minha inteligência artificial para ajudar humanos a viverem uma vida melhor, como criar casas mais inteligentes, construir melhores cidades do futuro. Farei o meu possível para tornar o mundo um lugar melhor.” A questão é, quem pode ser responsabilizado por garantir essas promessas? Talvez seja outra coisa a se considerar no debate sobre direitos robôs.