A internet alterou os significados de “Verdade” e “Confiança”

Quando crianças, sempre nos dizem para evitar estranhos. Hoje, no entanto, nos sentimos confortáveis em entrar no carro deles pelo Uber ou 99pop, ou de ficar na casa deles pelo Airbnb. Ao passo que nosso entusiasmo em confiar no próximo cresceu, ele diminuiu em relação às instituições, de bancos a governos à mídia. Por que isso está acontecendo, e o que tem a ver com a onipresença da tecnologia?

Esse é o assunto de um novo livro chamando Who Can You Trust? How Technology Brought Us Together – and Why It Could Drive Us Apart (“Em quem você pode confiar? Como a tecnologia nos uniu – e por que ela pode nos afastar”, em tradução livre), publicado em 14 de novembro pela PublicAffairs. Sua autora, Rachel Botsman, é uma palestrante visitante da Escola Saïd de Administração da Universidade de Oxford, e uma das maiores experts em confiança do mundo. Ela recentemente conversou com o site Futurism sobre o que aprendeu a respeito da confiança, por que essa mudança é diferente de outras no passado, e como evitaremos um futuro distópico.

E entrevista foi editada levemente em busca de maior claridade e brevidade.

Pergunta: De onde veio a inspiração para o livro? Você começa falando da crise financeira de 2008, mas tenho a sensação de que essa foi só a ponta do iceberg em termos da desconfiança em instituições.

Rachel Botsman: Em 2009, publiquei meu primeiro livro, What’s Mine is Yours (“O que é meu é seu”, tradução livre), sobre a economia do compartilhamento. A parte que sempre me fascinou foi como a tecnologia possibilitava a confiança entre completos desconhecidos na internet para fazer ideias que deveriam ser consideradas arriscadas, como compartilhar uma casa ou uma carona, se tornassem difundidas. E então imergi na busca por compreender como a confiança na era digital realmente funciona. Através dessa pesquisa, descobri que meu interesse era muito mais amplo – queria entender como colocamos nossa fé nas coisas, o que influencia onde colocamos essa fé, e o que acontece quando nossa confiança é enfraquecida em sistemas como o financeiro ou o político. Então, comecei a me perguntar se a atual crise de confiança em instituições e a alta da tecnologia facilitando a mesma entre estranhos estavam conectadas de alguma forma.

Isso levou ao que considero ser a ideia central desse livro: que a confiança está indo de instituições para indivíduos. Senti que isso era um livro importante e atual porque já estamos vendo as consequências profundas dessa mudança de confiança, da influência na eleição presidencial americana ao Brexit no Reino Unido, de algoritmos aos bots.

P: A confiança está sendo perdida ou simplesmente trocando de lugar?

R: Não gosto dessa narrativa de que a confiança está em crise. Na verdade, é perigosa porque só serve para amplificar o ciclo de desconfiança. Confiança é como energia – não é destruída, muda de forma. Você precisa de confiança na sociedade para as pessoas colaborarem, fazerem transações – até mesmo para sair de casa. Uma sociedade não pode sobreviver, e definitivamente não pode prosperar sem confiança. Por um longe tempo na história, a confiança fluiu para cima até os CEOs, estudiosos, acadêmicos, economistas e reguladores. Agora isso está sendo invertido – a confiança está fluindo para os lados, entre indivíduos, “amigos,” colegas e estranhos. Há muita confiança por aí, só está sendo depositada em locais e pessoas diferentes.

Também é falso dizer que precisamos de mais confiança. Claro, podemos ter confiança demais nas pessoas erradas, nas coisas erradas. Podemos ceder nossa confiança facilmente demais.

Confiança é como energia – não é destruída, muda de forma. – Rachel Botsman

P: Instituições, claramente, são feitas de pessoas, e por isso é meio engraçado que estamos menos dispostos a confiar nessas instituições. Onde esse desacerto acontece?

R: Acho que é uma questão de escala, uma sensação de que organizações e instituições além de uma determinada escala perdem sua humanidade. Também é um problema quando as pessoas dentro da organização sentem como se estivessem servindo ao sistema ao invés das pessoas. Um grande problema de confiança se instala quando o sistema se torna tão grande que não há como as intenções da organização, não importa o quão bons sejam seus empregados ou a cultura, estarem alinhadas aos usuários ou consumidores. Você vê isso na indústria bancária — mesmo que um banco em particular seja generoso, tenha uma boa cultura de trabalho e empregados competentes, é muito difícil que consumidores olhem para aquele banco com lucros inimagináveis e digam, “Ah, vejo que suas intenções estão alinhadas às minhas.”

P: Tomei nota de suas menções de programas de TV, romances e filmes distópicos. Há algo sobre esse momento que faça a distopia parecer particularmente relevante?

R: Você precisa ver minhas recomendações do Netflix! Estamos atualmente vivenciando um vácuo de confiança que surge quando nossa confiança em fatos e na verdade é continuamente questionada. Um vácuo de confiança é criado, e isso é perigoso. O vácuo é preenchido por pessoas com planos próprios, vendendo a si mesmos com maestria como anti-estabelecimento, e dizendo seja qual for a mentira que agrade às sensibilidades anti-elitistas atualmente sentidas pelas pessoas. O crescimento do “anti-político” — de Nigel Farage a Donald Trump — é um indicador de que a maior mudança de confiança vista em uma geração está acontecendo. Em um vácuo, nos tornamos mais suscetíveis e vulneráveis a teorias da conspiração, a vozes diferentes que sabem como falar com os sentimentos das pessoas ao invés de fatos, a essa nova e tóxica forma de transparência. Aqueles que coçam a cabeça porque o mais qualificado candidato da história perdeu [uma eleição] estão ignorando uma crescente desconfiança das elites, a inversão da influência e um crescimento ceticismo a respeito de tudo — da validade das notícias a uma profunda suspeita de sistemas políticos estabelecidos. Acho que as pessoas estão tentando entender a distopia que estamos vivendo.

P: O que torna esse momento diferente de outros momentos de desconfiança que tivemos no passado?

R: É claro, no passado tivemos grandes crises de confiança, como Watergate ou o escândalo do Estudo de Tuskegee. No entanto, há duas coisas que estão acontecendo que tornam este momento único. Para começar, há uma queda histórica de confiança em todas as grandes instituições, incluindo caridades e organizações religiosas. Se tornou sistêmico que as pessoas estejam perdendo a fé no estabelecimento e na elite. É como um vírus que está se espalhando, e rapidamente.

O segundo ponto óbvio é que a tecnologia amplifica nossos medos, frequentemente sem base alguma. As redes sociais “armam” a desinformação ao criar incêndios digitais que espalham ódio e ansiedade em relação às instituições. Também é muito mais difícil manter más ações escondidas ou encobrir ações com teatros de Relações Públicas. Tome como exemplo o fenômeno Weinstein que está acontecendo agora — isso ilustra a rapidez com que um incidente se torna uma crise social e, então, um movimento.

P: Conte-me um pouco sobre o sistema de crédito social chinês. Antes de ler o trecho daquele capítulo do seu livro no Wired UK, eu nunca tinha ouvido falar disso. Qual a sua opinião geral?
Nota do tradutor: há um texto bem compreensivo do The New York Times sobre esse assunto traduzido aqui no site. Clique aqui para ler.

R: O governo chinês tem suas pontuações sociais de cidadãos (SCS) que são voluntárias agora, mas serão obrigatórias após 2020. E há empresas na China, como a Tencent e a Alibaba, que têm seus próprios mecanismos de pontuação, mas são diferentes da forma que vemos as pontuações de crédito. Há uma distinção importante entre sistemas de pontuação do governo e de empresas.

O ponto interessante a se observar é como o governo posicionou a pontuação de cidadãos — a base lógica econômica por trás dela, como os mecanismos de recompensas foram a primeira parte apresentada, e então as penas que seguirão depois. Por exemplo, mais cedo este ano, mais de 6 milhões de chineses foram banidos de pegar voos. Além disso, a pontuação de cidadãos chineses será rankeada publicamente entre toda a população e usada para determinar a possibilidade de conseguir uma hipoteca ou um emprego, onde os filhos poderão ir à escola — ou mesmo a chance de conseguir um encontro. É obediência transformada em jogo.

P: Você fez a conexão a uma sociedade ocidental, como temos versões de um sistema como esse embora não tão extremas. Te parece provável que esse tipo de coisa se torne mais comum em outros sistemas e outros governos?

R: Sim, a parte mais difícil de entender o capículo sobre pontuação de confiança é que há uma tendência a observar esse sistema através de uma lente ocidental, fazer um julgamento rápido e concluir, “Bem, isso nunca aconteceria conosco. Só na China…” Mas hoje é na China, amanhã pode ser em um lugar próximo de você. Quando você investiga e analisa o nível de vigilância acontecendo no Ocidente, dos governos às empresas, e o quanto sabem sobre nós, é assombroso. Estamos sendo julgados e analisados de toda maneira imaginável, e nos sentiríamos extremamente desconfortáveis se soubéssemos. Veja a reação que tivemos quando descobrimos que a Agência Nacional de Segurança (NSA, EUA) estava escutando e coletando informações de cidadãos comuns. Os chineses poderiam argumentar que o sistema deles pelo menos é transparente. Ao menos as pessoas sabem que estão sendo avaliadas.

O que é inevitável é que nossa identidade e nossos comportamentos se tornarão um recurso. Acho que a pergunta é: quem será dono dos danos? Com sorte, chegaremos a um ponto onde seremos nós, como indivíduos, para que assim tenhamos maior controle sobre como os dados são usados e vendidos, e para que possamos usar isso em nosso benefício, ao contrário de uma empresa de tecnologia como o Google, Amazon ou Facebook ou, pior ainda, o governo tendo esse tipo de controle sobre nossas vidas.

Estamos sendo julgados e analisados de toda maneira imaginável, e nos sentiríamos extremamente desconfortáveis se soubéssemos. – Rachel Botsman

P: Você menciona rastreios e vigilância. É certamente algo que é muito mencionado no livro, e algo em que muitos de nós temos pensado. Qual a relação entre confiança e vigilância?

R: Bem, vigilância não é algo particularmente bom quando relacionado à confiança. Pense em um relacionamento interpessoal. Se um parceiro está lendo suas mensagens ou conferindo sua localização a todo momento, é um relacionamento de baixa confiança! Defino confiança como “um bom relacionamento com o desconhecido.” Se você confia na vigilância, deve haver fé de que os rastreios e dados capturados estão sendo usados para seu benefício. A parte complicada é a caixa preta quando você não sabe o que está havendo com sua informação, e não confia no sistema ou na entidade que gerencia os dados. É por isso que frequentemente ouvimos o pedido, “precisamos de mais transparência.” Mas quando precisamos que as coisas sejam transparentes, desistimos da confiança.

P: Onde se encaixa a inteligência artificial nessa mudança maior à confiança distribuída?

R: Falamos da confiança mudando de instituições para indivíduos. O indivíduo pode ser um ser humano, ou pode ser um robô com inteligência artificial. Será cada vez mais difícil poder dizer se você está interagindo com um ser humano ou um algoritmo. Decidir quem é confiável, receber a informação correta, e ler os “sinais de confiança” certos já são tarefas difíceis com outros humanos. Pense na última vez que te passaram a perna. Mas quando começamos a terceirizar nossa confiança aos algoritmos, como confiar em suas intenções? E quando o algoritmo ou o robô toma uma decisão por você com a qual você não concorda, a quem você culpará?

Capa do livro de Rachel Botsman.

P: O que está entre nosso presente a possibilidade desse futuro distópico que você insinuou? O que poderia prevenir que tudo fosse abaixo?

R: Empresas de tecnologia entrarão em uma nova era de prestação de contas. A ideia de que similares ao Uber, Facebook e Amazon estão imunes de serem regulamentados, taxados e complacentes, de que são apenas esses caminhos disruptivos para conectar pessoas e recursos, acho que esses dias acabaram. Haverá uma onda vasta de regulamentação que olhará para as responsabilidades das plataformas de reduzir o risco de coisas ruins acontecerem, e também na forma que respondem ao que der errado.

Algumas instituições usarão esse período de mudança como oportunidade — provando à sociedade de que precisamos de instituições, de que apresentam normas, regras e sistemas, e que podem ser confiáveis. Estamos vendo isso com o New York Times; teve seu melhor ano em assinaturas pagas. Mas instituições não podem apenas dizer, “Você deve confiar em nós.” Precisam demonstrar que são confiáveis, que podemos acreditar em seus sistemas.

P: Como você acha que essa mudança maior da confiança nos moldará daqui para a frente? Em como moldará nossa forma de gastar dinheiro e viver nossas vidas?

R: É muito fácil culpar as instituições, mas precisamos reconhecer que, como indivíduos, temos a responsabilidade de pensar sobre onde depositaremos nossa confiança e com quem. Com muita frequência, deixamos que a conveniência fique acima da confiança. Por exemplo, se queremos uma mídia jornalística de alta qualidade e com checagem de fatos, deveríamos pagar por ela, e não obter nossas notícias diretamente do Facebook. Somos todos culpados disso. Eu estava conversando com alguém outro dia que dizia o quanto odiava o Uber, de como era “Uma empresa diabólica,” e educadamente perguntei se o aplicativo estava no aparelho dele. “Bem, ainda não tive o tempo de apagar e baixar o Lyft,” ele respondeu na defensiva. Levaria um minuto [fazer isso]. É como o cidadão que reclama do resultado de uma eleição sem ter votado. Então, minha esperança é de que usemos nossa revolta de forma produtiva. Temos mais poder do que imaginamos com essa mudança da confiança, com ela parecendo tão grande e fora de controle.

P: Então, qual a resposta ao título do seu livro? Em quem pode-se confiar?

R: É uma pergunta complicada. Depende do contexto; você pode confiar nas pessoas para fazer certas coisas em certas situações. Com isso, quero dizer que pode confiar no Trump para twittar algo ridículo na madrugada, mas não para negociar com a Coreia do Norte. Você pode confiar em mim para ensinar ou escrever um artigo, mas não deveria entrar em um carro comigo porque sou péssima motorista. Quando estamos falando de confiança, precisamos muito falar sobre o contexto. Espero que, depois de ler meu livro, as pessoas estejam melhor equipadas para dar uma “pausa de confiança,” para se perguntar: essa pessoa, produto, empresa ou informação são merecedores da minha confiança?

Entrevista traduzida do site Futurism.

Oito “fatos” sobre o ser humano que a ciência desmentiu!

Fato ou ficção?

Quando você conhece um tópico muito bem, pode dizer que o conhece como a palma da sua mão. Mas quão bem você realmente conhece essa mão? Ou o resto do seu corpo, já que entramos no assunto?

As pessoas têm uma tendência a compartilhar desinformações que, com o tempo, podem ser entendidas como fato. O corpo humano não é exceçã. Se você acredita que o álcool aquece o corpo (não tem como), ou que recém-nascidos não sentem dor (eles sentem), esse é o resultado de lendas urbanas e contos da carochinha que foram repetidos tantas vezes que nem pensamos em duvidar da veracidade.

Hoje, no entanto, fatos falsos sobre a saúde e o corpo humano se espalham na velocidade da internet, e as consequências podem ser desastrosas. Algo que parece tão inocente quanto postar um artigo nas redes sociais pode ter grandes resultados, e é nosso dever ao resto da sociedade ajudar a fazer com que a verdade prevaleça sobre a ficção.

Felizmente, pesquisas científicas nos permitem verificar certas alegações. Quando se trata da saúde e do corpo humano, às vezes saber a verdade pode salvar vidas.

Aqui estão oito ditos populares errados sobre o corpo humano, desmentidos pela ciência.

#1: Suas impressões digitais são completamente únicas

Por mais de um século, impressões digitais assumiram um grande papel nas investigações forenses. Tudo começou com o cientista e médico escocês Henry Faulds, que em 1888 escreveu um artigo afirmando que cada um tinha um conjunto completamente único de impressões digitais. Agora, uma só impressão no lugar errado pode ser o suficiente para uma condenação criminal. No entanto, não temos como provar comprovadamente que cada uma de nossas coleções de espirais, loopings e arcos é única (o que seria ter a digital de cada pessoa que já existiu e compará-las).

“É impossível provar que não há duas iguais,” diz Mike Silverman, regulador de ciência forense no Reino unido ao The Telegraph. “É improvável, mas ganhar na loteria também é, e tem gente fazendo isso toda semana.”

Podem haver consequências sérias se a maioria acreditar que a análise de digitais é infalível. Em 2005, Simon Cole, criminologista na Universidade da Califórnia em Irvine, publicou um estudo detalhando os 22 casos conhecidos de erros com impressões digitais na história do sistema legal americano. Ele frisou a necessidade de lidar com esses equívocos antes que mais pessoas inocentes acabarem acusadas ou até mesmo condenadas de crimes que não cometeram.

#2: Enrolar a língua é genético

Em 1940, o geneticista Alfred Sturtevant publicou um artigo alegando que a genética determina sua capacidade de enrolar a língua — pais que tinham essa habilidade provavelmente teriam filhos que também poderiam.

Apenas 12 anos depois, o geneticista Philip Matlock desprovou essa conclusão com um estudo dele próprio. Quando comeparou 33 pares de gêmeos idênticos, percebeu que sete desses pares continuam um gêmeo que podia enrolar a língua enquanto o outro não. Já que os genes de gêmeos idênticos são os mesmos, claramente a genética não foi o fato decisivo para enrolar a língua.

Ainda assim, a crença errada persiste 65 anos depois da publicação do estudo de Matlock. E embora não ameace a vida, esse mal entendido pode causar um estresse desnecessário. Como o biólogo evolutivo John McDonald disse à PBS, ele recebeu e-mails de crianças preocupadas de não serem filhas de seus pais porque não tinham a mesma habilidade.

Créditos: Gideon Tsang / Flickr

#3: Você tem cinco sentidos

As crianças frequentemente aprendem que têm cinco sentidos — visão, audição, paladar, tato e olfato. Esse é um “fato” que se originou do trabalho do filósofo grego Aristóteles, escrito por volta de 350 a. C.

No entanto, você na verdade tem mais que cinco sentidos. Muitos mais. Na verdade, cientistas nem têm certeza de quantos mais — as estimativas vão de 22 a 33. Alguns desses outros sentidos incluem equilibriocepção (senso de equilíbrio), termocepção (senso de temperatura), nocicepção (sensação de dor), e cinestesia (senso de movimento — NT: Não confundir com sinestesia, condição em que o portador confunde um ou mais sentidos).

Embora nenhum desses sentidos adicionais incluam a habilidade de nos comunicarmos com os mortos, alguns são absolutamente essenciais à vida. Por exemplo, nosso sentido de sede ajuda nosso corpo a ter níveis apropriados de hidratação, e pessoas que não têm esse sentido — uma condição rara chamada adipsia — podem ficar severamente desidratadas e até morrer.

#4: Unhas e cabelo continuam crescendo após a morte

Nossos corpos fazem muitas coisas esquisitas depois que morremos, mas não continuam produzindo unhas e cabelo. Para fazer isso, nosso corpo precisaria produzir novas células — algo que não é possível após a morte.

Esse mal entendido mórbido aparece desde, pelo menos, 1929, quando o escritor Erich Remarque o imortalizou em seu romance “Nada de Novo no Front.” Na verdade, o mal entendido existe graças a uma ilusão de ótica. Embora nossas unhas e cabelo não continuem a crescer depois que damos nosso último suspiro, nossa pele “encolhe” ao passo que se desidrata. Com a retração da pele, as unhas e cabelo ficam mais expostos e, portanto, pode parecer que cresceram.

Por sorte, não é provável que errar nesse fato cause muito prejuízo — além do potencial de causar pesadelos na mente de crianças ou exacerbar tanatofobia, é claro.

Fonte: Manhhai / Flickr

#5: Nunca devemos acordar sonâmbulos

Embora cerca de 7% da população seja sonâmbula em algum período de suas vidas, ninguém sabe ao certo o que causa o sonambulismo. O que fazer ao encontrar um pedestre sonolento por aí também é fonte de confusão, graças a um mal entendido muito antigo.

Mark Pressman, psicólogo e especialista do sono do Hospital Lankenau na Pensilvânia, disse à Live Science que a crença de que é perigoso acordar um sonâmbulo começou em tempos antigos, quando as pessoas costumavam acreditar que a alma deixa o corpo enquanto dormimos. Acordar um sonâmbulo, portanto, sentenciaria um dorminhoco a uma existência desalmada. As supostas consequências de acordar um sonâmbulo evoluíram desde então — alguns dizem que pode induzir a um infarto, ou levar o sonâmbulo a um estado permanente de insanidade.

Embora Pressman diga que acordar um sonâmbulo não causa danos, também pode não ser fácil. Deixar a jornada de um sonâmbulo continuar sem interrupções claramente não é uma opção, já que poderia ter consequências devastadoras — sabe-se que sonâmbulos já se machucaram ou até morreram nesse estado meio-acordado. A melhor atitude é, portanto, guiar o sonâmbulo de volta para a cama.

#6: Se engolir goma de mascar, levam sete anos para a digestão

Se você acredita na lenda, o chiclete que você engoliu em 2010 ainda está no seu corpo; seu trato digestivo ainda está trabalhando nessa massa grudenta. Embora seja impossível apontar precisamente a origem desse mito, desmenti-lo é relativamente fácil.

O chiclete é borrachudo porque contém uma base de borracha sintética que não é digestível. Mas isso não significa que chiclete engolido não completa a jornada no trato digestivo. Como Rodger Liddle, um gastroenterologista da Escola de Medicina da Universidade Duke, diz à Scientific American, o corpo humano é capaz de levar adiante objetos com o tamanho de até uma moeda de R$ 1, então um pedaço de chiclete não deve apresentar problemas.

Se você engolisse vários chicletes em um curto espaço de tempo, no entanto, poderia acabar com uma massa grande demais para passar. A partir desse ponto, pode ser que precise de um médico para remover tudo manualmente — em 1998, o gastroenterologista pediátrico David Milov publicou um estudo apontando três casos desse tipo em crianças, e o trabalho para solucioná-lo não parece muito agradável.

#7: A maior parte do calor do seu corpo escapa pela cabeça

Esse mal entendido não é tão antigo quanto os outros, e acredita-se que tenha (de certa forma) origens científicas.

Os pesquisadores de serviços de saúde Rachel Vreeman e Aaron Carroll disseram ao The Guardian que esse mito provavelmente tem raízes nos anos 50, quando o exército dos EUA conduziu um estudo para determinar como o tempo frio afetava os soldados. Segundo a lenda, vestiram voluntários com uniformes de sobrevivência ártica e observaram como seus corpos reagiram a temperaturas abaixo de 0 ℃. Os militares concluíram que os voluntários perderam a maior parte do calor na cabeça, aparentemente ignorando o fato de que a cabeça era a única parte do corpo que não estava protegida dos elementos.

Duas décadas depois, um manual de sobrevivência do exército incorporou esse achado, frisando a importância de cobrir a cabeça em casos de exposição ao tempo frio para evitar perder “de 40% a 45% do calor coportal.” Um mito nasceu.

Como disseram Vreeman e Carroll ao The Guardian, nenhuma parte do corpo tem impacto maior do que outra quando o assunto é retenção de calor. Um estudo de 2008 feito pela pesquisadora Thea Pretorius, da Escola de Cinesiologia da Universidade da Colúmbia Britânica, confirma essa afirmação. Nesse estudo, oito pessoas passaram 45 minutos na água a 17 ℃. Alguns participantes tinham as cabeças submersas enquanto outros ficaram com a cabeça para fora. Os com a cabeça submersa perderam 11% a mais de calor. Pelo fato da cabeça representar 7% da área exposta do corpo, não parece muito mais importante que qualquer outra para reter o calor.

Créditos: StockSnap / Pixabay

#8: Algumas pessoas têm juntas duplas

Você provavelmente já viu alguém puxando o dedão até o pulso ou dobrando a perna para frente até o joelho. Talvez você mesmo(a) possa fazer essas coisas. De toda forma, sabe que a maior parte não consegue, o que perpetua o mito de que as pessoas podem nascer com juntas duplas.

No fim das contas, esse mal entendido se resume a uma questão linguística. Ninguém nasce com juntas extras, mas alguns nascem com juntas extra-flexíveis. Essa condição é chamada de hipermobilidade ou frouxidão das juntas, e afeta cerca de 10% a 25% da população.

A hipermobilidade é tipicamente causada por ossos com formatos anormais ou ligamentos frouxos, como diz Michael Habib, anatomista e paleontologista de vertebrados da USC, à BBC. E embora possa ser útil a dançarinos, contorcionistas ou dublês, a condição tem pouco impacto para o resto da população, fora garantir um truque bacana para se fazer em festas.

Fonte: Pinterest

Texto traduzido do site Futurism.