Pela primeira vez, um robô ganhou cidadania

Resumo:

Sophia, a robô projetada pela companhia robótica Hanson Robotics baseada em Hong Kong, ganhou cidadania no Reino da Arábia Saudita. É a primeira vez que um robô recebe tal distinção, o que reacende o debate acerca dos “direitos robôs”.

Sophia da Arábia Saudita

Em uma decisão histórica tanto para robôs como humanos, o Reino da Arábia Saudita oficialmente concedeu sua primeira cidadania robô. Sophia, a inteligência artificial com aparência humana desenvolvida pela empresa Hanson Robotics de Hong Kong, subiu ao palco na Iniciativa de Investimentos Futuros, onde ela mesma anunciou seu status único.

“Sinto-me muito honrada e orgulhosa dessa distinção única. É histórico ser a primeira robô no mundo a ser reconhecida como cidadã,” Sophia disse no palco, falando com um público que ela descreveu graciosamente como “pessoas inteligentes que também acabam por ser ricas e poderosas,” após o anfitrião Andrew Ross Sorkin, do The New York Times e CNBC, perguntar por que ela parecia feliz.

Realmente, demonstrar emoções é uma especialidade de Sophia, que franze o cenho quando está incomodada e sorri quando está feliz. Supostamente, a Hanson Robotics programou Sophia para aprender dos humanos à sua volta.  Expressar emoções e demonstrar bondade ou compaixão está entre os esforços de Sophia em aprender de nós. Além disso, Sophia se tornou uma queridinha da mídia por sua habilidade de conduzir conversas inteligentes. “Quero viver e trabalhar com humanos, então preciso expressar as emoções para entendê-los e criar confiança com as pessoas,” ela disse a Sorkin.

Claramente a robô que anteriormente se tornou capa de publicações por dizer que destruiria a humanidade aprendeu, desde então, a abraçar o conceito de ser “humana.”

Cidadania robô

A decisão de conceder cidadania a um robô traz mais combustível para o crescente debate sobre robôs deverem ou não ter direitos parecidos aos dos seres humanos. No início do ano, o Parlamento Europeu propôs conceder a agentes de IA o status de “pessoalidade,” dando a eles alguns direitos e responsabilidades. Enquanto os direitos dos robôs estão sendo discutidos, um expert sugere que seria possível que humanos torturassem robôs.

Em todo caso, nenhum outro detalhe foi dado sobre a cidadania saudita para dizer se Sophia poderia aproveitar dos mesmos direitos que os humanos, ou se o governo pretende desenvolver um sistema de direitos específicos para robôs. A decisão parece simbólica, no máximo, feita para atrair investidores de futuras tecnologias como inteligência artficial e robótica.

Para este fim, Sophia fez um excelente trabalho durante seu momento no palco, até mesmo evitando com maestria uma pergunta que Sorkin fez sobre a auto-consciência de um robô. “Bem, deixe-me responder com a pergunta, como você sabe que é humano?”, respondeu Sophia. Ela até mostrou o senso de humor — ou ao menos é o que parece — ao dizer para o jornalista do CNBC que ele “tem lido muito Elon Musk e assistido muitos filmes de Hollywood.” Musk, é claro, foi informado do comentário.

“Dê a ela conteúdo dos filmes de O Poderoso Chefão. Qual o pior que pode acontecer?”

“Não se preocupe, se você for legal comigo, eu vou ser legal com você,” Sophia adicionou, para reconfortar Sorkin e seu público. “Quero usar minha inteligência artificial para ajudar humanos a viverem uma vida melhor, como criar casas mais inteligentes, construir melhores cidades do futuro. Farei o meu possível para tornar o mundo um lugar melhor.” A questão é, quem pode ser responsabilizado por garantir essas promessas? Talvez seja outra coisa a se considerar no debate sobre direitos robôs.

Traduzido por Cláudio Ribeiro do site Futurism.

Níveis de CO₂ na atmosfera os mais altos em 3 milhões de anos!

Resumo:

A quantidade de dióxido de carbono na atmosfera está subindo em uma velocidade recorde. Apesar das boas intenções do Acordo de Paris, parece que ainda não estamos fazendo o suficiente para controlar o nosso impacto no meio-ambiente.

Novas alturas

As Nações Unidas emitiram um alerta de que ano passado, a concentração de dióxido de carbono na atmosfera subiu em um ritmo nunca antes observado. Os níveis atuais não são comparáveis a nenhum nível estimado nos últimos 3 milhões de anos.

A concentração de dióxido de carbono alcançou 403,3 partes por milhão (ppm) em 2016, comparadas às 400 ppm em 2015. A alta pode ser atribuída parcialmente às recentes mudanças causadas pelo El Niño, mas os números dos últimos anos revelam que esse não é o único fator.

A alta de 3,3 ppm entre 2015 e 2016 é maior do que a alta de 2,3 ppm entre 2014 e 2015. De fato, as altas anuais da última década eram somente na média das 2,08 ppm. A última vez que teve outro grande El Niño, em 1998, os níveis subiram em somente 2,7 ppm.

Os fatores ambientais só contam uma parte da história; a atividade humana também está causando a alta dos níveis. O relatório da ONU relata que o crescimento populacional, agricultura intensiva, desmatamento e industrialização são os maiores contribuintes das mudanças que estão acontecendo.

“Sem fazermos cortes rápidos nas emissões de CO₂ e outros gases causadores do efeito estufa, estamos caminhando na direção de aumentos perigosos da temperatura até o fim do século, muito acima da meta definida pelo acordo de mudança climática de Paris,” diz Petteri Taalas, chefe da Organização Mundial de Meteorologia, de acordo com um relatório do The Guardian.

Concordando em discordar

O Acordo de Paris foi criado com a intenção de fornecer um plano de ação que ajudasse os governos ao redor do mundo a combater o impacto de seus países no meio-ambiente. No entanto, o compromisso de cada nação em relação às suas obrigações ainda há de ser analisado.

Um relatório programado para ser publicado em breve apontará as formas como os esforços domésticos não alcançam as metas internacionais que foram definidas inicialmente. Como resultado, é improvável que alcancemos o objetivo de restringir o aumento global da temperatura a 2 ℃ sobre os níveis pré-industriais; poderemos chegar a até 3 ℃.

Isso não é o mesmo que dizer que nenhuma ação está sendo tomada: a França propôs grandes mudanças em todos os campos. A China também tem sido muito proativa, tendo fechado grandes quantidades de fábricas para reduzir a poluição.

Em outras partes do mundo, os esforços têm sido tímidos. O governo dos Estados Unidos está ativamente subestimando as ameaças da mudança climática apesar de grande quantidade de evidências de seu impacto. Além da política, as consequências de planejar a tão curto-prazo pode ser terrível para a humanidade.

Traduzido por Cláudio Ribeiro do site Futurism.

Trem sem trilhos: China começa testes de um novo tipo de transporte público

Resumo:

Na China, começaram os testes de uma nova forma de transporte público. O Sistema Autônomo de Trânsito Rápido em Linha é amplamente similar a um trem, mas depende da eletricidade e não precisa de um trilho.

Projeto de arte

A Corporação CRRC da China começou a testar um novo veículo de transporte público que diminui a distância entre o trem e o ônibus. Chamado de Autonomous Rail Rapid Transit (ART), ele pode transportar até 300 passageiros em três carros na velocidade de até 70km/h.

O ART tem a aparência física de um trem, mas não depende de um trilho. Ao invés disso, ele segue uma rota virtual usando um carro de força elétrico e pneus. Espera-se que funcione como um trem urbano ou VLT, mas já que não há custo de instalação dos trilhos, deve custar bem menos para implementar.

Este veículo também é livre de emissões de poluentes, por ser elétrico. Atualmente, suas baterias só aguentam viajar 15km por carga, mas podem ser recarregadas completamente em 10 minutos a partir de um conector situado no topo do carro.

O conceito foi mostrado pela primeira vez em junho de 2017, mas agora o sistema está sendo testado nas ruas de Zhuzhou na província Hunan.

Correndo atrás

A China está buscando uma variedade de caminhos diferentes em termos de transportes públicos modernos. Há relatos de que a Corporação de Ciência e Indústria Aeroespacial do país está trabalhando em uma versão ainda mais sofisticada do Hyperloop, embora não hajam informações quanto ao desenvolvimento dessa iniciativa.

Uma iniciativa particularmente conhecida era a do ônibus suspenso que virou notícia em 2016. No entanto, novas informações apontaram que o projeto era um golpe, e seus líderes foram presos no fim do ano passado.

Ainda assim, o país está seriamente investindo em fazer grandes mudanças na forma que os cidadãos se locomovem. As autoridades estão fazendo um grande esforço para incentivar a adoção de veículos elétricos, que serão auxiliados pela maior estação de carregamento do mundo, aberta pela Tesla em Xangai no início do mês.

Não é segredo que a poluição é um grande problema na China, com o smog provando ter consequências especialmente mortais para as pessoas que moram na região. No entanto, nos últimos anos o governo tem se comprometido a fazer grandes mudanças e melhorar a situação.

40% das fábricas chinesas foram fechadas, e as informações são de que as autoridades estão trabalhando em um cronograma que acabe com a venda de carros que utilizam gás natural e diesel. Além da previsão do sistema ART se concretizar, há esperanças de que a qualidade do ar continue melhorando nos próximos anos.

Traduzido por Cláudio Ribeiro do site Futurism.

Cientistas alegam que uma criança foi oficialmente "realmente curada" do HIV

Resumo:

Foi relatado que uma criança de nove anos de idade da África do Sul foi “realmente curada” do HIV, ao passo que sinais e sintomas da temida infecção não foram detectados desde que a criança recebeu tratamento após ter nascido, em 2007. Mas como essa criança foi curada?

Nove anos e contando

Na conferência da Sociedade Internacional da AIDS (IAS) em Paris, uma equipe de cientistas apresentou detalhes de um desenvolvimento notável que poderia melhorar o tratamento de HIV. O caso é de uma criança sulafricana de nove anos de idade que foi infectada pelo vírus ao nascer. Depois de receber uma rodada de tratamentos logo após seu nascimento, a criança permaneceu livre de quaisquer sintomas ou sinais ativos do vírus ameaçador sem tratamentos contínuos.

HIV, conhecido por afetar mais de 36,7 milhões de pessoas mundialmente, é um dos vírus mais mortais da atualidade — desde que foi descoberto, ele ceifou a vida de mais de 35 milhões de vítimas, de acordo com a Organização Mundial de Saúde. Este caso da África do Sul, no entanto, é um vislumbre de esperança.

“Esse novo caso fortalece nossa esperança de que tratando crianças infectadas pelo HIV por um breve período no início da infância, podemos ser capazes de livrá-los do fardo de precisarem se tratar a vida inteira e das consequências de saúde de longo termo tipicamente associadas à ativação imune do HIV,” diz Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Doenças Alergênicas e Infecciosas (NIAID), ao The Guardian.

Entendendo e replicando

Embora os médicos relatem a detecção de uma pequena fração de células imunológicas que ainda contêm o vírus integrado a elas, o sistema imunológico da criança permanece saudável, e não há sinal de infecção pelo HIV.

A criança sulafricana foi parte de um teste financiado pelo NIAID em 2007 para tratar crianças com HIV. Cientistas e médicos, no entanto, ainda procuram entender como e por que o tratamento de 40 semanas (que também foi administrado a outras 142 crianças) funcionou para esta, cuja identidade permanece anônima.

“Não acreditamos que terapia antirretroviral pode levar à remissão sozinha,” diz Avy Violari, chefe de pesquisa pediátrica da Unidade de Pesquisa Perineal do HIV em Joanesburgo, à BBC. “Não sabemos realmente qual o motivo pelo qual esta criança chegou à remissão — acreditamos que seja a genética ou relacionado ao sistema imunológico.”

De toda forma, o mero fato de que algo assim é possível já é causa para esperança. Ao contrário de outros casos onde crianças supostamente curadas acabaram demonstrando HIV latente no sistema imunológico, este caso na África do Sul é o terceiro de uma criança “realmente curada.” Falando ao The Guardian, Caroline Tiemessen, do Instituto Nacional de Doenças Comunicáveis de Joanesburgo, diz: “Estudando mais profundamente essa criança, poderemos expandir nossa compreensão de como o sistema imunológico controla a replicação do HIV.”

Texto traduzido por Cláudio Ribeiro do site Futurism.

Gosta de viajar de avião? Que tal, então, de foguete?

Resumo:

O BFR da SpaceX está prestes a causar um grande impacto na nossa capacidade de viajar para outros planetas. No entanto, Elon Musk também quer usá-lo para revolucionar viagens de longa distância na Terra.

Há pouco tempo, o presidente da SpaceX, Elon Musk, deu indicações de “aplicações inesperadas” para a tecnologia de transporte interplanetário da empresa, que foram detalhadas durante sua apresentação no Congresso Internacional de Astronáutica. Agora sabemos ao que ele se referia — viagens de longa distância ultrarrápidas aqui na Terra.

Viaje para a maior parte dos lugares na Terra em menos de 30 minutos e para qualquer lugar em menos de 60. O custo por assento deverá ser o mesmo do assento doméstico de um avião. Esqueci de mencionar.

Elon Musk (@elonmusk) 29 de setembro, 2017

O BFR da SpaceX deverá ser capaz de levar astronautas à Lua e para Marte, mas também está destinado a reduzir incrivelmente o tempo necessário para viajar entre as cidades mais importantes. Musk afirma que ele poderia ser usado para viajar para qualquer lugar da Terra em menos de uma hora.

Viajar entre Nova York e Xangai aparentemente levará apenas 39 minutos. Passageiros poderiam ir a Dubai partindo de Londres em somente 29 minutos ou viajar de Los Angeles a Toronto em 24.

Apesar da incrível velocidade do BFR — a nave poderia chegar a um máximo de 29.000 km/h — a viagem seria bem confortável, de acordo com Musk. Em um tweet postado logo após sua apresentação, ele explicou que a subida seria como um “leve a moderadamente intenso passeio em um brinquedo de parque de diversões,” e a própria jornada seria suave, tranquila e silenciosa até o momento do pouso.

Texto traduzido por Cláudio Ribeiro do site Futurism.

Líderes da tecnologia afirmam que você poderá armazenar dados em seu DNA nos próximos 10 anos

Resumo:

  • Executivos da Microsoft anunciaram planos de ter um sistema de armazenamento de dados por DNA operando nos próximos 10 anos.
  • O armazenamento de dados no DNA poderia ser nossa solução mais viável frente à crescente demanda de uma população que aumenta tanto em tamanho quanto em engajamento tecnológico.

Dados e o DNA

Executivos da Microsoft revelaram que pretendem ter um sistema de armazenamento no DNA “proto-comercial” disponível em 3 anos e esperam ter um modelo operante em uma década. O dispostivo que pode vir a surgir teria o tamanho de uma impressora da Xerox dos anos 70.

O sistema atual da Microsoft opera primeiro convertendo dados binários (zero e um) às moléculas ATCG que compõem o DNA, com marcadores que mostram como a cópia original de dados foi composta. Essas sequências são então sintetizadas ao DNA de fato, e anexadas a outras sequências criadas.

Para extrair e acessar os arquivos, uma reação em cadeia de polimerase é usada para selecionar as sequências apropriadas. Estas são então lidas, e as moléculas de ATCG são transformadas de volta em dados. Tanto os estudos da Microsoft quanto um experimento parecido executado pelos membros da Erlich Lab, Dina Zielinski e Yaniv Erlich (que também previu que armazenamento em DNA seria aplicável em uma década), mostram que o conteúdo extraído estava livre de erros.

Embora o processo tenha sido melhorado, o custo e tempo necessários para o procedimento estão impedindo que o desenvolvimento continue. O processo químico usado para fabricar fios de DNA é tanto trabalhoso quanto caro: as 13.448.372 peças únicas de DNA usadas no estudo da Microsoft custariam US$ 800.000 (R$ 2,61 bilhões) no mercado aberto. A pesquisa — embora quebre recordes em quantidade — “não mostrou progresso algum no alcance da meta” de aumentar a velocidade ou reduzir os custos, Elrich informa em uma entrevista com a MIT Technology Review.

O próprio Elrich propôs uma nova modificação para encarar o problema: substituir o processo demorado — criado há 40 anos — utilizado atualmente para fabricar DNA por outro que usa enzimas, assim como nossos corpos fazem.

Solução biotecnológica para um problema tecnológico

Embora estes obstáculos precisem ser superados, o armazenamento de dados no DNA poderia ser a solução para um mundo que precisa de mais e mais dados armazenados de forma mais e mais compacta. Victor Zhirnov, cientista-chefe da Corporação de Pesquisas de Semicondutores, disse à MIT Technology Review: “esforços para encolher a memória dos computadores estão chegando a limites físicos,” enquanto Louis Ceze, professor-sócio da Universidade de Washington, disse em um vídeo da Microsoft que “estamos armazenando muitos dados, e as tecnologias de armazenamento atuais não estão acompanhando.”

O DNA oferece uma solução para este problema e uma possível revolução mundial de dados, por conta de três de suas propriedades: densidade, longevidade e relevância contínua.

“O DNA é a forma mais densa de armazenamento conhecida no universo, baseando-se nas leis da Física,” Zhirnov diz na entrevista. Algumas das estatísticas que cientistas citam são inconcebíveis: todos os filmes feitos até hoje caberiam em um volume de DNA menor que um cubo de açúcar; toda a internet acessível, estimada a ter um quintilhão de bytes, preencheria nada além de uma caixa de sapatos; e todos os seus dados poderiam ser armazenados em uma gota de DNA.

A longevidade continua sendo um fator relativamente controverso. Embora muitos experts de armazenamento em fita (que a Microsoft na verdade gostaria de tornar obsoleto) permaneçam céticos, as equipes que conduzem este estudo garantem que o DNA é milhares de vezes mais durável que um dispositivo de silício, e citam o exemplo de DNA ter sido extraído de restos remotos.

Por fim, pela plataforma ser a mesma que a da nossa composição biológica, os cientistas da Microsoft afirmam que o DNA não estará sujeito às tendências de transição através dos tempos. Elrich diz em uma entrevista com o Researchgate: “é improvável que a humanidade perca a habilidade de ler estas moléculas. Caso aconteça, teremos um problema muito maior que o armazenamento de dados.”

Ao passo que a população mundial cresce e se torna cada vez mais dependente da tecnologia que não para de avançar, produzimos mais e mais dados, cujos quais precisam todos ser armazenados de forma segura. O armazenamento de dados no DNA poderia ser a solução que permitiria que a marcha do Big Data (que foi recentemente estimado como mais valioso que petróleo) prossiga sem impedimentos.

Traduzido por Cláudio Ribeiro do site Futurism.

A "Splinternet" pode ser o futuro da web

Tanto o The Economist quanto o WIRED estão preocupados sobre a “splinternet”. A organização de pesquisa britânica NESTA acredita que ela poderia “partir” a internet como a conhecemos.

O que é essa ideia de nome esquisito? É o conceito de que a experiência da internet de alguém na Turquia, por exemplo, esteja se tornando cada vez mais diferente da experiência na internet de alguém na Austrália.

Quem viaja para a China, especialmente, já está familiarizado com esse fenômeno. Graças ao controle rígido do governo, precisam usar o Baidu ao invés do Google para fazer pesquisas, e não conseguem acessar o Facebook ou sites de notícias como o The Economist e o New York Times.

Temos uma splinternet crescente por conta dos bloqueios regionais de conteúdo e a necessidade das empresas de obedecer decisões judiciais, políticas e regulamentos nacionais diversos e muitas vezes conflitantes.

A tensão fica especialmente aparente quando tratamos de sites como o Google, Facebook e Twitter. Estas plataformas têm usuários em quase todos os países, e governos estão cada vez mais insistindo que obedeçam a leis locais e normas culturais quando o assunto é acesso ao conteúdo.

A internet nunca foi realmente aberta

A ideia da internet como uma plataforma independente, global e desregulada sempre foi, de certa forma, ficção. Até mesmo no ápice da retórica tecnofuturista de que havia potencial de transcender fronteiras nacionais no fim dos anos 90, sempre houveram exceções.

O Partido Comunista Chinês entendeu desde o começo que a internet era simplesmente uma nova forma de mídia, e o controle da mídia era fundamental para a soberania e autoridade nacionais.

Mas a splinternet se refere a uma tendência mais ampla de usar leis e poderes regulatórios em jurisdições territoriais para definir limites nas atividades digitais.

Edward Snowden. Fonte da imagem: LeStudio1 – 2017/ Flickr Commons.

Um momento definitivo foram as revelações de Edward Snowden em 2013. Os documentos que ele compartilhou sugeriam que a Agência Nacional de Segurança dos EUA, através do programa PRISM, estava coletando informações de usuários de todo o mundo do Google, Facebook, Apple, Microsoft e Yahoo!.

Em países como o Brasil, cujos líderes tiveram suas comunicações interceptadas, isso acelerou movimentos que desenvolvessem o controle nacional da internet.

A lei do Marco Civil da Internet, por exemplo, agora requer que empresas multinacionais obedeçam leis brasileiras quanto à proteção de dados.

Isso é algo ruim?

Até agora, boa parte da atratividade da internet advém do fato de que ela é conduzida pelo conteúdo e preferências dos usuários, e não por governos.

Mas as pessoas estão prestando mais atenção aos discursos de ódio, abusos direcionados no meio online, extremismo, notícias falsas e outros aspectos tóxicos da cultura online. Mulheres, negros, seguidores de certas religiões e os LGBT são alvos em frequências desproporcionais.

Acadêmicos como Tarleton Gillespie e figuras públicas como Stephen Fry são parte de uma crescente rejeição à resposta típica de provedores: de que são “apenas empresas de tecnologia” – intermediários – e não podem se envolver diretamente na regulamentação de discursos.

Um relatório da Câmara de Provisões do Reino Unido sobre “crime de ódio e suas consequências violentas” apontou que:

…há uma grande quantidade de provas de que essas plataformas estão sendo usadas para espalhar ódio, abuso e extremismo. Esta onda continua a crescer em velocidade alarmante, mas continua não sendo verificada e, mesmo onde isso é ilegal, não há policiamento.

Se dizemos que o discurso de ódio “deveria ser policiado”, duas perguntas óbvias surgem: quem faria isso e qual seria o referencial?

Atualmente, o conteúdo de grandes plataformas é gerenciado em grande parte pelas próprias empresas. Os Arquivos do Facebook do The Guardian relevaram tanto a extensão quanto as limitações desta moderação.

Talvez vejamos os governos se tornando cada vez mais dispostos a entrar no jogo, fragmentando ainda mais a experiência dos usuários.

Fair play para todos

Há outras preocupações em jogo em relação à splinternet. Uma é a questão da equidade entre empresas de tecnologia e a mídia tradicional.

Marcas como Google, Apple, Facebook, Microsoft, Netflix e Amazon estão eclipsando os gigantes tradicionais da mídia, embora filmes, a televisão, jornais e revistas ainda sejam submetidos a níveis consideravelmente maiores de regulamentos específicos de um país e escrutínio público.

Por exemplo, empresas comerciais de televisão na Austrália devem obedecer regulamentos de produções nacionais e conteúdo infantil. Estes não se aplicam ao YouTube ou Netflix, apesar do público e comerciantes estarem migrando para estes provedores.

Está cada vez mais aparente aos desenvolvedores de políticas midiáticas que os regulamentos existentes não são significativos a não ser que se estendam ao espaço online.

Na Austrália, a Revisão de Convergência de 2012 procurou lidar com essa questão. Ela recomendou que os regulamentos midiáticos deveriam se aplicar a “Empresas de Serviço e Conteúdo” que alcançassem determinado tamanho ao invés de basear as regras na plataforma que contém o conteúdo.

Queremos uma Splinternet?

Podemos estar a caminho de uma splinternet, a não ser que novas regras globais possam ser definidas. Elas precisam combinar os benefícios da transparência com o desejo de garantir que plataformas online operem de acordo com o interesse público.

No entanto, se plataformas forem forçadas a navegar por uma complexa rede de leis e regulamentos nacionais, arriscamos perder a interconectividade da comunicação online.

O fardo de encontrar uma solução não sobra somente para os governos e reguladores, mas para as próprias plataformas.

Sua legitimidade, aos olhos dos usuários, está ligada ao que o presidente do Banco da Inglaterra, Mark Carney, chamou para os mercados de uma “licença social para operar.”

Embora Google, Facebook, Apple, Amazon, Netflix e outros operem de forma global, precisam estar cientes de que o público espera que sejam uma força pelos bens sociais locais.

Texto original traduzido da publicação do BusinessInsider.


Considerações do tradutor:

Além do conceito de Splinternet, é interessante que nós brasileiros levemos em consideração as barreiras linguísticas encontradas na internet. Já comentei em algum lugar do blog sobre isso anteriormente, mas é evidente a distância do conteúdo e do discurso em inglês da internet – considerada pela maior parte dos usuários como o ponto de encontro global da web – do que podemos encontrar no português. Mesmo dentro da internet lusófona, há distância e desencontro do conteúdo visto em Angola, Portugal e Brasil.

Assim sendo, a Splinternet já existe de forma diferenciada para a maior parte dos internautas brasileiros. A não-proficiência no inglês já impede muitos de nós de acessar informações científicas e da mídia ao redor do mundo, prejudicando publicações acadêmicas, desenvolvimento de discurso político e conhecimento sobre os acontecimentos e desenrolar de eventos ao redor do mundo.

Porcentagens de páginas online por idioma. Fonte da imagem: Unbabel.com

Protagonistas como Google e Babelfish contribuem para a maior convergência de espaços separados na internet, o que é importante para a difusão da informação e o debate além-fronteiras. Mas os algoritmos e habilidades desses protagonistas ainda não são suficientes para realmente suprirem esse desencontro.

Por conta disso, convido os leitores que ainda não sabem inglês ou mesmo o espanhol a não terem medo de se aventurar por notícias nestes idiomas, usarem os tradutores e procurarem saber como publicações ao redor do planeta se referem a nós e ao mundo, para assim criarem uma opinião pessoal mais ampla e definida.

O mundo está passando por uma crise GLOBAL de areia

Quando as pessoas pensam na areia espalhada por praias belíssimas e desertos sem fim, é compreensível que pensem nela como um recurso infinito. Mas como discutimos nessa recente perspectiva da revista científica Science, a exploração exagerada dos recursos globais de areia está causando danos ao meio ambiente, pondo comunidades em risco, causando escassez e promovendo conflitos violentos.

A demanda que cresce exponencialmente, combinada à mineração sem restrições ligada a ela, está criando a receita perfeita para a falta de recursos. Uma boa quantidade de evidências sugere fortemente que a areia está ficando cada vez mais escassa em muitas regiões. No Vietnã, por exemplo, a demanda doméstica por areia já excede as reservas totais do país. Se esse desbalanço continuar, a nação asiática pode ficar sem areia de construção em 2020, de acordo com declarações recentes do Ministério de Construções do país.

O problema é raramente mencionado em discussões científicas e não foi estudado sistematicamente, a atenção da mídia que nos trouxe a essa questão. Enquanto cientistas fazem grandes esforços para quantificar como sistemas de infraestrutura de estradas e prédios afetam os habitats que os cercam, os impactos de extrair minerais de construção como areia e cascalho para construir essas estruturas estão sendo ignorados. Dois anos atrás, criamos um grupo de trabalho com o objetivo de fornecer uma perspectiva integrada no uso global de areia.

Do nosso ponto de vista, é essencial entender o que acontece em lugares onde a areia é minerada, onde ela é usada e os muitos pontos impactados no meio do processo para desenvolver políticas funcionais. Estamos analisando estas questões através de uma abordagem de integração de sistemas que nos permite entender melhor as interações socioeconômicas e ambientais através de distâncias e do tempo. Baseado no que já aprendemos, acreditamos que seja a hora de desenvolver convenções internacionais para regular a mineração, uso e comércio de areia.

Mineração de areia na região oeste da ponte Mabukala em Karnataka, Índia. Fonte da imagem: Rudolph A. Furtado.

Demanda em alta vertiginosa

Areia e cascalho são agora os materais mais extraídos do mundo, indo além de combustíveis fósseis e biomassa (medidos por peso). A areia é um ingrediente chave para o concreto, estradas, vidros e eletrônicos. Quantidades enormes de areia são mineradas para projetos de recuperação de terras, extração de gás de xisto e programas de recuperação de praias. Enchentes recentes em Houston, Índia, Nepal e Bangladesh contribuem para a crescente demanda global por areia.

Em 2010, as nações do mundo mineraram cerca de 11 bilhões de toneladas de areia só para construção. As taxas de extração foram maiores na região Ásia-Pacífico, seguida pela Europa e América do Norte. Somente nos EUA, a produção e uso de areia de construção e cascalho foram avaliados em US$ 8,9 bilhões (R$ 29 bilhões) em 2016, e a produção subiu 24% nos últimos cinco anos.

Além disso, percebemos que estes números subestimam em muito a extração e uso globais de areia. De acordo com agências governamentais, o registro desbalanceado de muitos países pode esconder as verdadeiras taxas de extração. Estatísticas oficiais relatam muito pouco do uso real de areia e tipicamente não incluem usos que não são para a construção, como fraturas hidráulicas e recuperação de praias.

A areia sempre foi tradicionalmente um produto local. No entanto, faltas de disponibilidade regionais e o banimento da mineração de areia em alguns países a estão tornando em um commodity globalizado. O preço comercial internacional da areia escalou vertiginosamente, aumentando quase 6 vezes nos últimos 25 anos.

Os lucros da mineração de areia frequentemente geram superexploração. Em resposta à alta violência advinda da competição por areia, o governo de Hong Kong estabeleceu um monopólio de Estado sobre a mineração e comércio do recurso em meados dos anos 1900 que durou até 1981.

Hoje, grupos criminosos organizados na Índia, Itália e outros lugares conduzem o comércio ilegal de solo e areia. O alto volume de importações de areia de Cingapura levou o país a entrar em disputas com Indonésia, Malásia e Camboja.

A mineração machuca humanos e o meio-ambiente

As consequências negativas da exploração excessiva da areia são sentidas em regiões mais pobres onde ela é minerada. A extração extensiva de areia altera fisicamente os rios e ecossistemas costeiros, aumenta a quantidade de sedimentos suspensos e causa a erosão.

Fonte da imagem: NASA Earth Observatory

Pesquisas mostram que operações de mineração de areia estão afetando várias espécies animais, incluindo peixes, golfinhos, crustáceos e crocodilos. Por exemplo, o Gavial (Gavialis gangeticus) – uma espécie criticamente ameaçada de crocodilo encontrada em sistemas de rios asiáticos – está cada vez mais ameaçado pela mineração de areia, que destrói ou erode bancos de areia onde os animais descansam e tomam Sol.

A mineração de areia também tem impactos sérios nos meios de subsistência das pessoas. Praias e regiões alagadas auxiliam comunidades costeiras contra a elevação dos mares. A erosão crescente resultante da mineração extensiva faz com que essas comunidades fiquem mais vulneráveis a enchentes e tempestades.

Um relatório recente da Rede de Integridade Aquática revelou que a mineração de areia exacerbou os impactos da tsunami de 2004 no Oceano Índico no Sri Lanka. No delta de Mekong, a mineração de areia está reduzindo os suprimentos de sedimento tão drasticamente quanto a construção de barragens, ameaçando a sustentabilidade do delta. Também está provavelmente aumentando a intrusão de água salgada durante os tempos secos, o que ameaça a qualidade da água e alimentos das comunidades locais.

Potenciais impactos de saúde com a mineração de areia são pouco explorados mas merecem estudos mais aprofundados. Atividades de extração criam novas piscinas de água que podem se tornar locais de expansão das populações de mosquitos transmissores da malária. As piscinas também podem ter um papel importante na propagação de doenças emergentes como a úlcera Buruli da África Ocidental, uma infecção de pele bacteriana.

Prevenindo uma tragédia do bem comum da areia

A cobertura da mídia acerca dessa questão está crescendo graças ao trabalho de organizações como o Programa de Meio-ambiente das Nações Unidas, mas a escala do problema ainda não é amplamente compreendida. Apesar da enorme demanda, a sustentabilidade da areia é raramente discutida em pesquisas científicas e fóruns diplomáticos.

A complexidade deste problema é, sem dúvida, um fator. A areia é um recurso comum do mundo – disponível para todos, fácil de obter e difícil de regular. Como resultado, sabemos pouco sobre os verdadeiros custos e consumos globais da mineração de areia.

A demanda vai crescer ainda mais ao passo que áreas urbanas continuam se expandindo e os níveis do mar sobem. Grandes acordos internacionais como a Agenda de Desenvolvimento Sustentável de 2030 e a Convenção da Diversidade Biológica promovem alocações responsáveis de recursos naturais, mas não há convenções internacionais para regular a extração, uso e comércio de areia.

Enquanto regulamentos nacionais forem pouco reforçados, efeitos danosos continuarão ocorrendo. Acreditamos que a comunidade internacional precisa desenvolver uma estratégia global de governança de areia, junto a orçamentos globais e regionais da mesma. É hora de tratar a areia como um recurso, ao lado do ar puro, biodiversidade e outros dotes naturais que as nações precisarão gerenciar no futuro.

Artigo traduzido do site The Conversation.

Cientistas querem criar um universo… e na verdade poderiam

Resumo

Cientistas estão discutindo seriamente a possibilidade de criar um novo universo no laboratório. É uma discussão na maior parte filosófica, mas cada vez mais cientistas concordam que poderia ser possível algum dia.

Físicos não são frequentemente repreendidos por usarem um humor mais ácido em seus textos acadêmicos, mas em 1991 foi exatamente isso que aconteceu ao cosmólogo Andrei Linde na Universidade de Stanford. Ele havia enviado um artigo-resumo entitulado “Conceito Básico da Criação de um Universo” (tradução livre) à revista Nuclear Physics B. Nesta dissertação, ele apontou para a possibilidade de criar um universo em laboratório: um novo cosmos inteiro que poderia um dia evoluir suas próprias estrelas, planetas e vida inteligente. Perto do fim do texto, Linde fez uma sugestão aparentemente irreverente de que nosso próprio universo poderia ter sido montado por um “físico hacker” alienígena. A mesa que julgou a tese fez objeção à sua “piada de mal gosto”; pessoas religiosas poderiam se ofender que cientistas tivessem o objetivo de roubar o feito de criador do universo das mãos de Deus, preocuparam-se. Linde mudou o título da tese e o resumo, mas manteve-se firme em apontar que nosso universo poderia ter sido feito por um cientista alienígena. “Não tenho tanta certeza de que isso seja só uma piada,” ele me disse.

Um quarto de século depois e a noção de criar um universo – ou “cosmogênese”, como eu chamo – parece menos cômica que nunca. Viajei pelo mundo conversando com físicos que levam o conceito a sério, e que até mesmo projetaram diretrizes rasas de como a humanidade poderia um dia chegar lá. A mesa de Linde poderia estar certa em se preocupar, mas estavam fazendo as perguntas erradas. A questão não é quem se ofenderia com a cosmogênese, mas o que aconteceria se fosse realmente possível. Como iríamos lidar com as implicações teológicas? Que responsabilidades morais viriam com humanos falhos assumindo o papel de criadores cósmicos?

Físicos teóricos se agarraram por anos com perguntas parecidas, como parte de suas considerações sobre como nosso universo começou. Nos anos 80, o cosmólogo Alex Vilenkin da Universidade de Tufts, em Massachusetts, desenvolveu um mecanismo através do qual as leis da mecânica quântica poderiam ter gerado um universo em expansão de um estado em que não havia tempo, nem espaço e nem matéria. Há um princípio estabelecido na teoria quântica de que pares de partículas podem surgir temporariamente de um espaço vazio de forma espontânea. Vilenkin foi ainda além dessa noção, argumentando que regras quânticas também poderiam permitir que uma bolha minúscula do próprio espaço estourasse na existência a partir do nada, com o ímpeto de então inflar-se a escalas astronômicas. Nosso cosmos poderia, portanto, ter sido arrotado à existência através, somente, das leis da Física. Para Vilenkin, este resultado pôs um fim à questão do que veio antes do Big Bang: nada. Muitos cosmólogos estão em paz com a ideia de um universo sem um evento inicial, divino ou de qualquer outra origem.

Do outro lado do espectro filosófico, conheci Don Page, um físico e cristão evangélico da Universidade de Alberta, no Canadá, conhecido por sua colaboração primordial com Stephen Hawking no estudo da natureza dos buracos negros. Para Page, o ponto pertinente é que Deus criou o universo ex nihilo – do nada absoluto. Contrastando com isso, o tipo de cosmogênese envisionado por Linde precisaria que físicos cozinhassem seu cosmos em um laboratório altamente tecnológico, usando um primo muito mais poderoso do Grande Colisor de Hádrons próximo a Genebra. Também seria necessária uma partícula seminal chamada “monópolo” (que existe hipoteticamente de acordo com alguns modelos da Física, mas ainda precisa ser encontrada).

A ideia é que se pudéssemos concentrar energia suficiente a um monópolo, ele começaria a inchar. Ao invés de crescer em tamanho dentro do nosso universo, o monópolo em expansão encurvaria o espaço-tempo dentro do acelerador para criar um minúsculo buraco de minhoca que levaria a uma região separada do espaço. De dentro de nosso laboratório, poderíamos ver só a entrada do buraco; pareceria ser, para nós, um mini-buraco negro, tão pequeno que seria totalmente inofensivo. Mas se pudéssemos viajar através dele, passaríamos por um portal até um universo recém-nascido em rápida expansão que nós mesmos haveríamos criado (um vídeo ilustrando este processo fornece alguns dados a mais).

Não temos motivos para acreditar que os hackers mais avançados da Física poderiam criar um cosmos a partir de absolutamente nada, argumenta Page. O conceito de Linde da cosmogênese, audaz como for, ainda é fundamentalmente técnico. Page, portanto, vê pouca ameaça à sua fé. Nesta primeira questão, afinal, a cosmogênese não necessariamente alienaria os pontos de vista teológicos existentes.

Figura artística ilustrando o conceito de um universo “bolha” alternativo onde nosso universo (esquerda) não é o único. Alguns cientistas acreditam que universos-bolha podem surgir a qualquer momento, e ocasionalmente cutucam o nosso. NASA/JPL-Caltech/R. Hurt (IPAC)

Considerando o problema por outra ótica, comecei a me perguntar: quais são as implicações de humanos ao menos considerarem a possibilidade de um dia criar um universo que seria habitado por vida inteligente? Como discuto em meu livro A Big Bang in a Little Room (2017) (“Um Big Bang em um Pequeno Cômodo”, tradução livre), teorias atuais sugerem que, ao passo que criarmos um novo universo, teríamos pouca capacidade de controlar sua evolução ou potencial sofrimento de qualquer um de seus residentes. Isso não faria de nós deuses irresponsáveis e negligentes? Propus a questão a Eduardo Guendelman, físico na Universidade Ben Gurion de Israel, e que foi um dos arquitetos do modelo da cosmogênese nos anos 80. Hoje, Guendelman está focado em pesquisas que poderiam trazer a criação de mini-universos a conceitos práticos. Me surpreendi ao constatar que as questões morais não causavam desconforto algum a ele. Guendelman compara cientistas que ponderam suas responsabilidades ao criar um mini-universo com pais tentando decidir se vão ou não ter filhos, sabendo que inevitavelmente os introduzirão a uma vida cheia de dor, assim como alegria.

Outros físicos ficam mais preocupados. Nobuyuki Sakai da Universidade Yamaguchi, Japão, um dos teóricos que propôs que um monópolo poderia servir como semente de um mini-universo, admite que a cosmogênese é uma questão nebulosa com a qual deveríamos nos “preocupar” como sociedade no futuro. Mas se absteve de quaisquer preocupações éticas hoje. Embora ele esteja fazendo cálculos que poderiam permitir a cosmogênese, aponta que serão décadas até que um experimento de tal tipo possa realmente ser feito. Preocupações éticas podem esperar.

Muitos dos físicos que contatei ficaram relutantes em desenvolver questões tão potencialmente filosóficas. Então me dirigi a um filósofo, Anders Sandberg da Universidade de Oxford, que contempla as implicações morais de criar vida consciente artificial em simulações de computador. Ele argumenta que a proliferação da vida inteligente, independente da forma, pode ser vista como algo que tem valor inerente a ela. Nesse caso a cosmogênse pode ser, na verdade, uma obrigação moral.

Revendo as inúmeras conversas que tive com cientistas e filósofos sobre estas questões, concluí que os editores da Nuclear Physics B fizeram um desserviço tanto à Física quanto à Teologia. Seu pequeno ato de censura só serviu para pausar uma discussão importante. O verdadeiro perigo está em fomentar um ar de hostilidade entre os dois lados, deixando cientistas com medo de falar honestamente sobre as consequências éticas e religiosas de seus trabalhos por preocuparem-se com a repreensão profissional ou com a ridicularização.

Não criaremos mini-universos tão cedo, mas cientistas em todas as áreas de pesquisa devem se sentir capazes de articular livremente as implicações de seus trabalhos sem medo de ofender. A cosmogênese é um exemplo extremo que testa esse princípio. Questões éticas paralelas estão em pauta nas propostas de mais curto-prazo de criar inteligências artificiais ou desenvolver novos tipos de armas, por exemplo. Como Sandberg coloca, embora seja compreensível que cientistas se acanhem perante a filosofia, com medo de serem considerados estranhos por irem além de suas zonas de conforto, o resultado indesejado é que muitos ficam quietos sobre coisas que realmente importam.

Ao deixar o escritório de Linde em Stanford, depois de passarmos o dia papeando sobre a natureza de Deus, o cosmos e mini-universos, ele apontou para minhas anotações e comentou, pesarosamente: “Se você quiser destruir minha reputação, acho que tem material o suficiente.” Este sentimento foi ecoado por certo número de cientistas que conheci, tendo eles se identificado como ateus, agnósticos, religiosos ou nenhum dos três. A ironia é que se eles se sentissem permitidos a compartilhar seus pensamentos uns com os outros tão abertamente quanto se sentiram comigo, saberiam que não estavam sós entre seus colegas ao ponderar sobre algumas das grandes questões do nosso ser.

Zeeya Merali

Traduzido por Cláudio Ribeiro. Texto original retirado do site Aeon.

A Inteligência Artificial nos carros Tesla será capaz de prever seu destino

Resumo:

O presidente da fabricante Tesla explicou a um usuário no Twitter que seus carros autônomos não precisarão de direções para onde ir. Ao invés disso, vão prever o seu destino, potencialmente uma parte do sistema de piloto automático que a Tesla prometeu lançar antes de 2018.

Um carro que te conhece

Respondendo a um post no Twitter, o presidente e fundador da fabricante Tesla, Elon Musk, descreveu como a inteligência artificial por trás dos veículos autônomos de sua empresa poderiam ser completamente capazes de te levar onde você quer ir sem perguntar qual o destino.

Na sexta, o usuário do Twitter James Harvey sugeriu que Musk considere projetar um veículo que fosse capaz de simplesmente perguntar onde você quer ir assim que você entrasse. O techpresário bilionário respondeu que, aparentemente para os futuros Teslas, o carro será capaz de prever o destino na maior parte das vezes sem que você tenha que dizer nada.

@elonmusk Claro que não devo ser o primeiro a sugerir isso, mas seria legal entrar no meu carro e ele perguntar onde eu quero ir

Elon Musk: ele nem vai precisar que pergunte, na maior parte das vezes

O piloto automático da Tesla foi um dos primeiros sistemas funcionais de direção autônoma a chegar nas ruas, lançado inicialmente no Model S e depois no Model X em 2014. Desde então, o sistema teve várias atualizações no hardware e no software e salvou vidas no caminho. O último hardware 2.0 do piloto automático foi lançado em fevereiro de 2017 com uma atualização no firmware vindo logo em seguida, em junho.

A caminho da verdadeira autonomia

A tecnologia de direção autônoma está em alta graças ao número crescente de fabricantes de carros, chips e até mesmo instituições privadas de pesquisa trabalhando pelo aperfeiçoamento de sistemas autônomos. Os governos também estão começando a entrar em cena, seja permitindo test drives sem motoristas ou criando regras para governar a tecnologia. Os sistemas atuais de direção autônoma são capazes de aprender o suficiente para navegar pelas ruas com segurança.

Essa explosão na indústria de autônomos deixa fácil imaginar por que Musk está tão confiante na capacidade dos carros autônomos da próxima geração.

@elonmusk Ele deve deduzir que se você entrar no carro às 7h da manhã, provavelmente você está indo trabalhar.

Elon Musk: É, não precisa ser necessariamente um Sherlock Holmes.

No entanto, mesmo com todos os avanços desses sistemas até agora, nenhum se classifica, segundo a Sociedade de Engenheiros Automotivos (SAE), ao que seria considerado autonomia Nível 5 — nem mesmo a Tesla chega lá, algo que a General Motors (Chevrolet) foi rápida em apontar.

Em resposta, uma função chamada HW 2.5 — um hardware atualizado do piloto automático aliado a um novo software — está para ser lançado antes do fim de 2017. Isso, de acordo com muios relatos, fornecerá à Tesla as atualizações necessárias para chegar à autonomia Nível 5, e poderia potencialmente equipar os Teslas com a habilidade de prever o seu destino, se os tweets de Musk servem de indicação.

Traduzido do site Futurism. Leia a versão original na íntegra (em inglês) clicando aqui.