Americanos realmente bebem cerveja quente como fica parecendo em alguns seriados?

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Não, os americanos também gostam de tomar a cerveja gelada, como os brasileiros. Quem toma cerveja na temperatura ambiente, muitas vezes, são alguns europeus, como os alemães. Em muitos casos, a cerveja continua gostosa mesmo na temperatura ambiente, e em outros casos, ela já fica gelada com a própria temperatura do ar, já que os europeus tendem a beber mais na rua (como os brasileiros), ao passo que americanos costumam ter que ir para lugares fechados para beber na maior parte dos estados.

Os seriados e filmes provavelmente mostram a cerveja parecendo quente para facilitar uma cena. Fica subentendido que a cerveja esteja gelada, ou que estivesse em um cooler ou freezer antes. Não se preocupam em fazer as garrafas parecerem “suadas” antes das cenas.

Pergunte a qualquer americano, e ele também achará estranho, provavelmente na próxima vez vai reparar, e aí, como eu e você, nunca mais vai conseguir deixar de perceber isso quando tiver alguma cena com cerveja! 😛

Qual foi a experiência mais inapropriada que você teve com um professor?

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Eu fiz intercâmbio de julho de 2008 a junho de 2009 em Boulder, no Colorado, EUA. Quando cheguei, tentei achar todas as matérias que tinha no Brasil para poder transferir meus créditos quando voltasse, mas a Biologia tinha problemas de horário com outras matérias e acabei fazendo AP Environmental Science, ou seja, Ciência Ambiental avançada.

Essa era minha aula preferida com meu professor preferido. Eu gostava de tudo que ele ensinava, dos laboratórios, das pesquisas e dos trabalhos de campo, e adorava ainda mais o tanto que as aulas eram dinâmicas. Gostava do modelo de educação, totalmente diferente da coisa formulaica e rígida que existia nas minhas escolas no Brasil. Também ajudava que ele era lindo!

Enfim, não tem nada a ver com meu crush adolescente essa história, eu só achava ele bonito mesmo. O que aconteceu foi que um dia ele chegou bem estressado, com a cara fechada e falando rápido. Devia ter tido um dia bem ruim. Eu não lembro exatamente o que aconteceu, mas teve uma hora que ele disse alguma coisa bem irritado, tentei interpelar, e ele me mandou ficar quieto para continuar dando a matéria. E mandei:

— Why are you so pissed off?
(Por que você está tão puto?)

Eu fiz cinco anos de inglês antes de viajar, cheguei lá capaz de conversar com todo mundo, sabia ler de tudo e conseguia até fazer discursos. Só que meu inglês é conversacional, ou seja, eu aprendi muito bem a ouvir, falar, ler e escrever de forma natural, sem formalismos e gramática. Até hoje não sei direito o que significa a diferença entre “Simple Past” e “Past Perfect”.

Para mim, “pissed off” era informal, mas não ofensivo. Eu usava direto com a minha família (a que me hospedava) e com meus amigos. Mas com o professor, pegou mal. Bem mal. Ele, que já estava estressado, fechou a cara mais ainda e não olhou mais para mim. Lembro que disse algumas coisas sobre detenção e que estava decepcionado. Eu não entendi na hora, e ninguém queria me explicar.

Depois da aula, quando ele saiu (sem falar com ninguém direito — o dia devia ter sido ruim mesmo!), eu perguntei para uma colega e ela me explicou que isso não é um termo que pode ser usado com figuras de autoridade. Entendi e caiu a ficha.

Corri na sala dele para pedir desculpas… No dia, ele não aceitou muito bem, acho que ficou achando que eu estava usando justificativa esfarrapada para voltar atrás no que falei. Mas acho que depois entendeu.

Acabou que no fim do meu período lá, ficamos amigos e eu conheci a família dele, fomos na casa dele deixar um bolo e agradecer pelo ano ótimo que tivemos… Ele conheceu minha irmã e minha avó, que foram visitar. Só ficou a situação meio boba para trás! 🙂

Com o que os Brasileiros mais se surpreendem quando chegam a Portugal?

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Algumas das coisas que vêm à cabeça:

  • O grande número de brasileiros trabalhando como garçons nos restaurantes de Lisboa.
  • A quantidade imensa de ciganos e africanos que realmente perseguem e enganam turistas (no Brasil temos muitos vendedores de rua, mas eles sabem respeitar o “não, obrigado!”).
  • A imediata identificação com todos os lugares pelo fato de a arquitetura ser tão próxima à das cidades históricas do Brasil, assim como as famosas pedras portuguesas nas calçadas — temos muito delas também.
  • Pessoas oferecendo maconha e outras drogas livremente em esquinas e becos — brasileiros até se assustam, achando que é armadilha da polícia ou é droga estragada.
  • A quantidade de estrangeiros nas ruas falando várias línguas e conversando em inglês com funcionários — o Brasil tem MUITO menos turistas, só pessoas do Rio de Janeiro realmente estão acostumadas com “gringos” por todos os lados.
  • O trânsito nas horas de pico — brasileiros são levados a acreditar que esse problema já foi solucionado na Europa, mas não é bem assim.
  • O preço baixíssimo do vinho.
  • Portugueses reclamando que recebem mal. É algo que faz os brasileiros ou rirem ou sentirem-se extremamente desconcertados.

Tem mais coisa que eu notei logo de cara quando visitei Lisboa e Cascais, mas não estou me lembrando. Amei Portugal!

Já que havia muito mais oxigênio na atmosfera milhões de anos atrás, o fogo se comportava de forma diferente?

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Sim, o fogo queimava de forma diferente por conta do excesso de oxigênio. Durante o período Carbonífero, cerca de 300 a 350 milhões de anos atrás, os níveis de oxigênio chegaram a até 35%, enquanto hoje temos menos de 20%. Isso permitia que incêndios começassem em lugares que não costumamos esperar (lugares com alta umidade, e durante chuvas fortes). Hoje, encontramos carvão fossilizado em sedimentos depositados em regiões pantanosas, o que nos permite crer na ideia de que incêndios começavam muito mais facilmente durante esse período. Com isso, você pode se perguntar: como as plantas sobreviviam ao constante risco de incêndio?

Adaptando-se, graças à evolução. Por exemplo, as plantas desse período tinham raízes muito mais profundas do que suas parentes de hoje em dia, e as folhas das árvores ficavam em pontos mais altos, o que ajudava a evitar que pegassem fogo durante um incêndio de arbustos.

O motivo pelo qual tanto carvão (grande parte sendo fossilizada) permanece desde esse período é graças a dois fatores: primeiro, o material estrutural das plantas, a lignina, não queima tão rapidamente — normalmente retira-se a lignina do papel, motivo pelo qual ele queima tão facilmente — ele tende a crepitar (como troncos em uma fogueira), então os incêndios deixavam grande quantidade de carvão para trás, e não seus subprodutos habituais (dióxido de carbono, monóxido de carbono — quando queima mais lentamente — e água).

Segundo, a lignina é difícil de digerir. Até mesmo fungos e bactérias de hoje em dia têm dificuldade para digeri-la. 300 milhões de anos atrás, a taxa de decomposição era praticamente zero.

Em resumo, praticamente todo o carvão de hoje vem de plantas que, milhões de anos atrás, morreram e foram enterradas sem terem nunca passado pelo processo da decomposição.

O que é ainda mais interessante é que, durante esses tempos, insetos gigantescos caminhavam pela terra, e acredita-se que isso tenha relação com metabolismos mais rápidos que a alta porcentagem de oxigênio permitia.

Onde fica a diferença entre celebrar uma cultura e apropriar-se dela?

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Pessoalmente, vejo dessa forma: se uma pessoa viajou para a África e comprou uma dashiki porque achou belo e gostaria de exaltar a cultura africana — avisando para outras pessoas de onde aquilo vem, por que é do jeito que é e onde foi comprado — enxergo como uma celebração. Da mesma forma, pode-se ir ao México e comprar um sombrero ou levar uma calça de capoeira do Brasil para fora e todos os usos serem uma forma de exaltar a cultura dos locais de origem.

O que eu considero apropriação cultural é o que a Kim Kardashian tentou fazer. Ela lançou uma linha de espartilhos e roupas que emagrecem a figura feminina. Até aí, tudo bem. Mas qual o nome do produto? Kimono!

Não satisfeita em tentar usar o nome de uma das roupas mais tradicionais do Japão, ela ainda tentou patentear o nome. Os japoneses, entrevistados por um canal de YouTube, acharam graça e ridículo que uma ocidental fosse tentar fazer algo do tipo, mas não se importaram muito. Já outras pessoas, que realmente monitoram o que seria considerado apropriação cultural, criticaram muito a ideia da Kim.

Eu, pessoalmente, considero isso uma palhaçada.

Outro ponto de vista sobre a apropriação cultural é a percepção por algumas pessoas de que certos estilos e atributos de culturas minoritárias sejam somente considerados bacanas quando pessoas brancas as fazem virar moda.

É por isso que, quando você pesquisava “afros bonitos” no Google, a maior parte dos resultados era de mulheres bonitas fazendo tranças, e ao pesquisar “afros feios”, só apareciam mulheres negras usando os mesmos estilos.

Felizmente, com a onda de valorização dos cabelos negros e vários penteados se popularizando, essa realidade mudou. Infelizmente, em inglês a diferença ainda é evidente (basta buscar por “pretty braids” / “ugly braids” e você verá esse efeito).

Pode realmente machucar uma pessoa quando ela vê parte da cultura de seu povo recebendo elogios apenas quando é reproduzida por pessoas que não fazem parte dela, enquanto você é visto(a) como alguém que enfeia a mesma cultura. Passa a mensagem de que seu povo não merece atenção ou respeito.

Quais são os países que as pessoas costumam não gostar?

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Bangladesh tem uma população quase da do tamanho do Brasil, e que segue crescendo sem o maior controle em um espaço que é fração do tamanho do nosso país. Existe congestionamento, drogas, esgoto e uma completa falta de infraestrutura que faz os pelos dos braços ficarem em pé. Uma tristeza, mesmo, generalizado. Só o turista aventuroso gostaria de ir.

Iêmen

O Iêmen é um dos países mais lindos do mundo, pelas suas construções históricas e um povo muito receptivo, mas está lacrado em uma região péssima e impossibilitado de receber recursos, importar ou exportar. Estão sendo esganados, e por isso o crime cresce, a fome aumenta e tudo está definhando. Se acha que damos pouca atenção aos venezuelanos, imagina este povo…!

Níger

O Níger tem o pior IDH do mundo: só 0,354. Gangues, milícia, descontrole total do governo, conflitos étnicos, religiosos, falta de produção, educação, estruturas básicas. É o que deu errado da nova civilização. Talvez fossem mais felizes ainda em tribos. É o foco da comunidade mundial, hoje, tentar ajudar este país a ter um pouquinho de progresso.

Tem muito mais! Somália, Haiti, Samoa

Até a Rússia, e o Brasil, dependendo de onde você for, não vão ser suas melhores férias.

Por que alguns portugueses preferem ler um livro em inglês a ler o mesmo livro em português do Brasil?

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Pensei um pouquinho aqui, me coloquei no lugar dos portugueses e decidi por duas hipóteses. Creio que alguns portugueses tenham a resposta em uma, e outros em outra. Espero que a 2 seja a mais popular!

Hipótese 1

Preciosismo… Na minha faculdade de Letras lemos vários autores portugueses: Fernando Pessoa, Eça de Queirós, Camilo Castelo Branco… Todos excelentes e muito bem comentados.

É difícil? Às vezes, especialmente se o autor é de muito tempo atrás. Depois de umas duas páginas, dá para começar a acostumar com as pequenas diferenças e, aliás, começa a ficar até prazeroso ao invés de irritante. É refrescante ver uma variação da língua, observar as sutilezas e os pequenos detalhes diferentes. Até a emoção é descrita de forma diferente.

Não sei por que os portugueses não gostam de fazer a mesma coisa. Só toleram os autores clássicos e consagrados do Brasil. Na minha opinião, eles que saem perdendo.

Hipótese 2

Eu prefiro assistir uma série em inglês no áudio original. Se for um inglês que eu não tenho costume de ouvir, como o irlandês ou o australiano, assisto com legenda em inglês. Se alguém estiver comigo, vejo com legenda em português. O original é sempre melhor.

É a mesma coisa com livros. Ler as palavras do autor, originais, do jeitinho que ele pensou e escreveu, sempre é melhor do que ler uma tradução. Tem tradutores muito bons que conseguem trazer para outra língua algo extremamente próximo das obras originais, mas nunca vai ser a mesma coisa.

Já que os portugueses falam inglês muito bem e aprendem desde cedo, fica fácil para eles acessar a escrita em inglês. E, assim, com certeza vai ser melhor ler o original.

Seria por essa prioridade: Original -> Português de Portugal -> Português do Brasil.

É o que mais faz sentido para mim. Tomara que eu esteja certo 🙂

Agora, se a obra original for, por exemplo, em finlandês, e o português preferir comprar a versão traduzida para o inglês antes de comprar a em português do Brasil, aí a hipótese 1 está correta e dá vontade de mandar aquele emoji virando os olhos para cima… heheh

Como é viver no Norte do Brasil?

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O Norte é enorme, então não posso responder por todos, mas vou te contar minha experiência em Monte Dourado, no Pará, uma vila pertencente ao município de Almeirim. Morei lá dos 7 aos 9 anos de idade, totalizando quase três anos.

Monte Dourado foi uma “cidade” formada para alojar os engenheiros e funcionários da Cadam, uma empresa de caulim que trabalhava em conjunto com a Jari, de celulose. Muitas casas tinham um estilo que lembra o americano, embora mais simples.

Eu morava na Vila Cadam, que era onde os engenheiros moravam. A entrada para a vila tinha umas casas mais chiques, onde moravam alguns executivos. Quando chegamos, praticamente todas as ruas da cidade eram de terra, mas quando eu fui embora, boa parte tinha sido asfaltada.

Eu e as crianças do bairro gozávamos de alguns privilégios a mais do que a maior parte da população, como o saneamento, oferecimento de energia, e lazer. Tinha um parquinho bem grande para nós, uma quadra de volêi de praia e uma churrasqueira para os adultos. Todas as casas tinham quintais espaçosos e a oferta de frutas da região era farta.

(Clube Jariloca, no Centro da cidade)

O clube Jariloca era um ponto de encontro importante na cidade, e oferecia tudo que um bom clube tem: aulas de tênis com boas quadras, uma piscina com temperatura amena (Monte Dourado nem precisa de aquecimento) com toboágua funcionando, sauna, lanchonete, chalés para churrascos…

Eu fiz artes marciais e tênis aqui, com bons professores.

A cidade também contava com três escolas particulares para o Ensino Fundamental e uma (Positivo) para o Ensino Médio. Estudei nas três, não sei exatamente o porquê, mas no geral a educação era adequada. Achei a melhor sendo a do Positivo. Ainda assim, quando minha irmã tinha idade para fazer o primeiro ano do Ensino Médio, meus pais acharam melhor mandá-la de volta para Belo Horizonte para terminar sua educação. Ela achou ruim na época, pois tinha um namoradinho na cidade, mas hoje em dia é agradecida!

Existiam duas escolas de inglês, uma delas sendo a Wizard, em que comecei meu aprendizado da língua. Outra coisa pela qual agradeço meus pais, começar na infância é o melhor caminho para a verdadeira fluência 🙂

Outra curiosidade sobre Monte Dourado é que ela ficava colada na divisa com o Amapá, e atravessávamos o Rio Jari de catraca (um pequeno barco motorizado) como se fossem ferry boats, para chegar à Laranjal do Jari, uma cidade com mercados de peixes suspensos sobre os rios e vários outros artigos baratos. Era um mercadinho para os habitantes de Munguba, Almeirim e Monte Dourado.

(Vista de Laranjal do Jari a partir do lado de Monte Dourado. Nada formoso, mas nunca comi peixes melhores!)

Ouvia-se pouco sobre crimes. A maior parte era violência doméstica, com alguns casos fatais, infelizmente. A cultura do machismo e o abuso do álcool eram comuns entre os habitantes mais simples. Eu, como criança, nunca presenciei nenhum problema com indígenas nem nada do tipo, mas é possível que meus pais e seus colegas tivessem tido experiências diferentes.

Também por ser criança, minha liberdade era incrível. Eu ia e voltava de bicicleta todos os dias da escola, construí casas na árvore, explorei a floresta amazônica com meus amigos, vimos e filmamos cobras, macacos, tartarugas, conhecemos madeireiros ilegais em uma de nossas excursões (e alguns de nós apanharam muito por conta disso!), e como curiosidade, em uma certa época do ano besouros gigantes apareciam no chão da cidade inteira, e não se moviam durante a manhã. Usávamos como apetrecho em nossas roupas, e deixávamos onde havíamos encontrado depois que começavam a se mexer.

(Besouro Hércules, uma de minhas peças de roupa preferidas!)

Além de todas essas coisas sobre Monte Dourado, meu pai sempre gostou de acompanhar a tecnologia, e compramos computador cedo lá em casa. Aprendi a mexer em computadores com o Windows 95, e nasci em 1992! Por conta disso, sempre tive contato com a internet. Meu pai foi um dos primeiros a assinar a AT&T em Monte Dourado (quando a empresa ainda existia no Brasil), e vários dos meus amigos iam na minha casa para lermos coisas online e jogarmos jogos de Gameboy através de um emulador.

Enfim, aproveitei diversas frutas que nunca mais vi, conheci animais incríveis, conheci a nossa linda floresta amazônica, tive amigos ótimos (alguns que mantenho até hoje), pude viver uma autêntica experiência de criança na cidade pequena, de pé descalço e brincando de bente-altas na rua. Tive dois cachorros fantásticos e uma tartaruga.

Eu adorava o sotaque (gostaria de continuar usando “Égua!” no dia-a-dia!) e adorava como as pessoas eram humildes, felizes e cúmplices. Parecia que toda a cidade estava se esforçando para melhorar junta e cuidar dos seus. Eu não tinha um conceito de racismo ou de classes sociais, todos os meus amigos eram iguais para mim. E, bem ou mal, Monte Dourado era até bastante desenvolvida para o interior paraense.

Acho que isso ficou longo demais, mas aqui está minha experiência no Norte do Brasil. Eu não trocaria por nada, e sempre será uma segunda casa para mim. Também pude visitar Belém, Santarém e Porto de Moz, e amei todos os lugares e pessoas por que passei.

Como que algumas pessoas, supostamente fluentes em português, não enxergam, por exemplo, num determinado trecho do texto traduzido por elas, a completa falta de nexo?

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Porque quando estamos traduzindo, o cérebro se confunde e começa a traçar paralelos na língua que está sendo lida e analisada.

Por exemplo, hoje, durante o almoço, eu queria dizer para a minha vó que uma situação era absurda, inaceitável. Eu estava traduzindo um livro do inglês há pouco tempo antes, então ficou surgindo na minha cabeça a palavra preposterous, que traduz diretamente para absurdo. Mas eu queria uma intensidade maior do que absurdo, e por isso fiquei tentando traduzir o preposterous. Acabei inventando uma palavra: prepóstero. Não existe em português. Minha vó não entendeu.

Isso acontece o tempo todo, com expressões e palavras. A expressão faz sentido pra gente em inglês, ou outro idioma, e quando colocamos no português ela continua fazendo sentido, porque estamos tão envolvidos na língua sendo traduzida que a expressão em português parece ser comum. Só depois de revisarmos, com a cabeça fresca e de volta ao português pleno, que percebemos o tanto que a tradução ficou esquisita.

Isso pode ser mitigado (aí, outra coisa que a gente usa pouco no português, mas que no inglês é usado toda hora e influencia no meu raciocínio!) com a revisão. Aliás, mais de uma revisão. O ideal é que você mesmo(a) revise sua tradução umas duas vezes, e depois passe para outra pessoa revisar de novo. Isso sim configura uma tradução profissional.

Claro que, se você estiver perguntando sobre o Quora em específico, tem outro motivo bem grave: o Google Tradutor. Não sei se tem gente querendo se fazer de mais safa, esperta, ou se querem legitimamente ajudar, ou se acham que ninguém percebe, mas tem muita gente por aqui fingindo que sabe inglês e tentando traduzir texto usando o Google, e isso simplesmente não dá certo.

Estou dizendo que o Google Tradutor é ruim? Não. Que um dia ele não possa ser suficiente para traduções do Quora? Também não, ninguém sabe até onde vai a habilidade da Inteligência Artificial nos próximos anos. Mas, por enquanto, isso não é suficiente, e acaba atrapalhando a todos.

Fico me perguntando se tem gente recebendo nas traduções para fazer essa barbeiragem, ou sei lá. Não entendo a motivação dessa galera.

Mas taí. Nossa cabeça não divide tão bem assim as línguas. Não são como pastas independentes que você acessa em um arquivo. Elas se entrelaçam, e os sinônimos também. Às vezes, sabemos na ponta da língua o termo para uma coisa em um idioma secundário, mas não lembramos como dizê-lo no nosso.

Estou desde 15h da tarde tentando lembrar o nome em português para a moldura em volta da porta, mas tenho completamente claro na minha cabeça que, em inglês, se chama doorframe.