Os vídeos mais vistos no YouTube no mundo e no Brasil

Alguns conteúdos na internet se espalham tanto e tão rápido que têm números de acessos insanos e são conhecidos por pessoas de todos os países e idades. Aqui nesse post, mostrarei quais são os vídeos mais populares do YouTube, tanto no mundo inteiro quanto no Brasil, e um pouco da história de seu sucesso. Por seu alto valor de replays, ou seja, possibilidade de ser visto várias vezes pelas mesmas pessoas e em locais diferentes, músicas e vídeos infantis dominam a lista tanto aqui quanto lá fora.

#1 ???????????? Luis Fonsi – Despacito ft. Daddy Yankee (3.194.398.891 ????‍????‍????‍????)

O hit do cantor portorriquenho Luis Fonsi tomou o mundo de assalto, tornando-se o vídeo mais rápido a atingir 2 bilhões e 2,5 bilhões de visualizações, o vídeo mais visto do ano de 2017 em mais de 40 países e o vídeo com mais curtidas da história.

O artista tem 39 anos, é portorriquenho e canta desde 1998, o que são 19 anos de carreira. Ele já é famoso há muitos anos em vários países latinos, já atuou em uma novela mexicana chamada Corazones al límite e já produziu 8 álbuns durante sua trajetória. O vídeo possui hoje 3.193.913.689 visualizações, sendo que destas, mais de 219 milhões foram visualizações brasileiras. Daria para toda a população nacional ter assistido à música ao menos uma vez! Mas lembremos que muitas dessas foram pessoas assistindo de novo.

Despacito é o único vídeo que ocupa a mesma posição tanto no ranking do Brasil quanto do mundo.

#2 ???? Wiz Khalifa – See You Again ft. Charlie Puth (3.025.397.180 ????‍????‍????‍????)
#2 ???????? Galinha Pintadinha – Pintinho Amarelinho (450.318.414 ????‍????‍????‍????)

Enquanto Wiz Khalifa é responsável por entrar no hall de vídeos que arremataram mais de 3 bilhões de visualizações (quase metade da população mundial, se as visualizações fossem únicas), aqui no Brasil o desenho animado Galinha Pintadinha comprova o sucesso de sua fórmula, tendo atingido atualmente 450.316.359, ou seja, quase duas vezes toda a população do Brasil. Nem mesmo se juntássemos todos os falantes de português do mundo (270 milhões) alcançaria-se essa cifra. As criancinhas realmente gostam de Pintinho Amarelinho! E quem aí nunca ouviu?

#3 ???? PSY – Gangnam Style (2.929.676.821 ????‍????‍????‍????)
#3 ???????? Justin Bieber – Baby ft. Ludacris (1,679,386,550 ????‍????‍????‍????)

É impossível não se lembrar da febre que foi Gangnam Style (2012). Hoje com mais de 2,9 bilhões de visualizações, já não ouvimos tanto o hino do artista sul-coreano, mas em seu ápice praticamente todas as pessoas que conhecíamos sabiam fazer a dancinha. Foi um dos primeiros vídeos em que tomou-se nota do alto alcance e poder de viralização da internet. Hoje, qualquer pessoa no mundo reconhece este artista, que apesar de uma febre em seu auge, somente chegou a este patamar com duas de suas músicas, a que integra este ranking e Gentleman, que hoje tem mais de 1,1 bilhão de visualizações no site de streaming.

Já os tupiniquins gostam mais de um jovem canadense que também virou febre no mundo inteiro e alcançou vários hits de sucesso. A música Baby (2010), lançada quando Justin Bieber ainda era um garotinho, conquistou mais popularidade do que o rei da Coreia do Sul por aqui. Não é de se impressionar quando nos lembramos que J. B. tem os fãs mais apaixonadas do mundo no Brasil, mesmo arrumando confusão com pichações, batendo em repórteres e tomando atitutes questionáveis.

#4 ???? Justin Bieber – Sorry ft. Ludacris (2.715.187.074 ????‍????‍????‍????)
#4 ???????? Henrique e Juliano – Cuida Bem Dela (192.266.547 ????‍????‍????‍????)

Não foi só no Brasil que Justin Bieber fez sucesso! Só parece que o brasileiro é um fã um pouquinho mais ávido do que o resto do mundo. Para a humanidade, a música Sorry (2016) ocupa o quarto lugar, conquistando com um divertido vídeoclipe integrado somente por mulheres. Juntar excelentes dançarinas a uma música contagiante e um ritmo que fica na cabeça parece ser uma fórmula de sucesso! A música Sorry permaneceu na Billboard por impressionantes 42 semanas, ou 9 meses. Uma das músicas ouvidas por mais tempo consecutivo da história! Hoje, havendo declarado que procurará se reformar e voltar à religião e a se estabilizar, talvez o artista não apareça mais nessa lista.

No Brasil, uma lágrima discreta escorre nos olhos daqueles que já tiveram que deixar de lado o orgulho e ver partir alguém que se ama para os braços de outra pessoa. Henrique e Juliano dominam o YouTube quando o assunto é sertanejo, e ocupam o quarto lugar dos vídeos mais assistidos do país.

#5 ???? Mark Ronson – Uptown Funk ft. Bruno Mars (2.606.089.223 ????‍????‍????‍????)
#5 ???????? Luan Santana – Tudo Que Você Quiser (157,272,523 ????‍????‍????‍????)

Chamado por aí de novo Michael Jackson, Bruno Mars entra na lista global com o hit meteórico Uptown Funk (2015), uma música animada e positiva com um clipe que empolga. O artista acabou se tornando um dos mais conhecidos nos últimos anos, com aparições em programas como o Saturday Night Live e muitos lançamentos que alcançaram grande sucesso. Apesar da música ser autoria de Mark Ronson (que também tem sua fama própria, já tendo atingido mais de 7,7 milhões de visualizações com a música Bang Bang Bang), os últimos acertos de Mars acabaram apontando os holofotes para ele. E viva o pop!

Já por nossas terras, mostra-se a apreciação pelo que é produto aqui dentro. A superestrela do sertanejo universitário Luan Santana já foi assistido no YouTube nada menos do que 157 milhões de vezes, o que deixa claro que o gênero musical veio para ficar, e que continuamos sendo um país de apaixonados.

#6 ???? Masha and the Bear: Recipe for Disaster (2.370.249.912 ????‍????‍????‍????)
#6 ???????? Anitta – Show das Poderosas (135.530.470 ????‍????‍????‍????)

Enquanto nossas crianças estão viciadas em Galinha Pintadinha, lá fora a figura da vez é Masha, a protagonista de um desenho animado infantil russo. Apesar de ter sido criado lá do outro lado do mundo, no país da vodka, o vídeo é assistido pela garotada do mundo inteiro, inclusive pelos brasileiros! Uma troca de entretenimento global realmente impressionante.

Por aqui o amor à música brasileira continua sendo evidenciado com a quinta posição sendo ocupada pelas mais de 135 milhões de visualizações ao vídeo de Show das Poderosas (2013), da Anitta! Tendo feito uma linda apresentação nas Olimpíadas do Rio de Janeiro em 2016 e lançado várias músicas viciantes e memoráveis nos últimos anos, a artista se consagrou no mercado musical nacional e caminha para mais reconhecimento no mundo inteiro, tendo feito uma parceria com Iggy Azalea para a música Switch (6.032.898 ????‍????‍????‍????) que a levou a fazer uma aparição no programa de auditório de Jimmy Fallon e agora com os sucessos que vão além de nossas fronteiras como Sua Cara (88.853.413 ????‍????‍????‍????), parceria com Major Lazer e a drag queen brasileira Pabllo Vittar, e Paradinha (128.844.174 ????‍????‍????‍???? ), sua primeira música cantada em espanhol e filmada em um supermercado de Nova York. Show das Poderosas inclusive foi a música escolhida para a incrível dança de uma vaca (!) em um supermercado no México!

#7 ???? Taylor Swift – Shake It Off (2.318.364.505 ????‍????‍????‍????)
#7 ???????? PSY – Gangnam Style (2.929.676.821 ????‍????‍????‍????)

Emplacando hits como Bad Blood (1.099.378.957 ????‍????‍????‍????), Blank Space (2.129.596.718 ????‍????‍????‍????) e You Belong With Me (741.712.004 ????‍????‍????‍????), Taylor Swift não é nenhuma estranha para altíssimas taxas de visualizações no YouTube. Com estes feitos, a artista demonstra que quando se é talentoso o sucesso sempre é alcançado, mesmo sem aceitar por muito tempo entrar em serviços como o Spotify, que são usados por centenas de milhões de pessoas em todo o mundo. Talvez, inclusive, a falta dessa disponibilidade tenha feito mais pessoas recorrerem ao YouTube para poder curtir as músicas da cantora.

Os brasileiros mostram o poder da globalização e do pop sul-coreano ao darem a sétima posição para o cantor PSY, que é o primeiro vídeo a se repetir nesta lista.

#8 ???? Enrique Iglesias – Bailando (2.299.787.681 ????‍????‍????‍????)
#8 ???????? Katy Perry – Dark Horse ft. Juicy J (2.055.995.991 ????‍????‍????‍????)

Sabendo que o espanhol é a terceira língua mais falada do mundo, não é de se espantar que mais uma música no idioma componha a lista mundial de vídeos mais visualizados. Na lista, o ocupante do oitavo lugar é o espanhol Enrique Iglesias, que rompeu a barreira linguística em todos os cantos do planeta com o hit Bailando, sucesso de 2014.

Já entre nosso povo a queridinha da vez é Katy Perry, cantora pop que começou seu sucesso com hits como I Kissed a Girl (126.612.194 ????‍????‍????‍????) e Hot N Cold (687.425.182 ????‍????‍????‍????). A artista retornou o amor aos brasileiros com um vídeoclipe especial da música Swish Swish Bish (47.221.747 ????‍????‍????‍????) com ninguém menos que a rainha dos memes da internet brasileira, Gretchen.

#9 ???? Maroon 5 – Sugar (2.239.256.118 ????‍????‍????‍????)
#9 ???????? Michel Teló – Ai Se Eu Te Pego (762,885,838 ????‍????‍????‍????)

Além de ser uma das melhores músicas do Maroon 5, Sugar (2015) conquista o nono lugar pelo muito bem pensado vídeoclipe, que mostra a história de um casamento que termina em uma surpresa: a banda de Adam Levine aparecendo para fazer os convidados dançarem! Contou-se, depois de um certo mistério planejado, que todo vídeo havia sido roteirizado, o que já era a desconfiança de muitos dos que assistiram. Ainda assim, a ideia foi bem legal e alavancou as visualizações da música.

Talvez um dos vídeos mais vistos de um artista brasileiro, Michel Teló fez história com Ai Se Eu Te Pego (2011), um hit extremamente contagiante que tocou em festas e boates de todo mundo! Ainda hoje o artista faz muito sucesso e é figurinha repetida na televisão e plataformas de entretenimento. Não é qualquer um que tem gente na Europa cantando o refrão até hoje!

#10 ???? Katy Perry – Roar (2.205.372.274 ????‍????‍????‍????)
#10 ???????? Marcos & Bellutti – Domingo de Manhã (133.530.571 ????‍????‍????‍????)

Katy Perry se torna a terceira artista a aparecer mais de uma vez nesse ranking ao contagiar o mundo com Roar (2013), um hino sobre a força da mulher em tempos onde isso precisa ser enaltecido. Com um vídeo divertido e uma pegada criativa, a libertação feminina alcança uma nova altura ao fincar no décimo lugar do placar mundial esse sucesso do pop da artista californiana.

Já em Pindorama continuamos cultivando nosso amor pelo sertanejo ao entregar a décima posição para o megasucesso Domingo de Manhã (2014), de Marcos & Bellutti, que foi além das fronteiras do sudeste para embalar o Brasil inteiro nesse gênero musical. Tamanho alcance serve para mostrar aos que não agradam do estilo que muita gente discorda e adora colocar suas baladas preferidas no repeat.


E aí, gostaram da lista? Sugiram outros tipos de rankings e comparações que vocês gostariam de ver por aqui!

PS: O ranking brasileiro foi feito com base na listagem feita pela revista Exame, da Abril, para o ano de 2016. É possível que alguns vídeos tenham alcançado e/ou superado alguns dos que foram publicados aqui, mas por não haverem dados mais recentes confiáveis, os nomes publicados pela revista foram mantidos.

Por que carros elétricos não são vendidos no Brasil?

Resposta curta: porque é muito caro.

Carros elétricos e híbridos têm sido vendidos nos EUA há quase dez anos e os modelos se proliferam. Se o mais comum de se ver em 2008 eram Toyota Prius nas estradas americanas, hoje a variedade (e as fatias das marcas) já é bem maior. Isso sem contar o grande sucesso que a novata Tesla Motors tem feito na gringa. O problema é que aqui no Brasil os preços seriam inviáveis. O Renault Zoe, por exemplo, é vendido na França por nada menos do que € 21.000 (R$ 92.600). Com os preços brasileiros, esse valor seria ainda maior. Aí você pode se perguntar, “Tá, mas isso não é tão caro assim. Por que não oferecer?” Bom, realmente poderia ser vendido. Mas o Brasil não tem nenhum incentivo aos carros elétricos (o governo prefere incentivar o uso do etanol em carros flex e da conversão para uso do gás natural, que te dá uma isenção daquelas no IPVA, por exemplo) e com essa grana você poderia comprar um carro flex ou movido a gasolina de luxo. O Renault Zoe é um compacto nível Gol. Compensa? Só se você gostar muito de não poluir. 80 Zoes foram vendidos no Brasil por enquanto, mas não há nem tabela de preços.

rzoe
Renault Zoe

Além do problema do preço, temos a questão das alternativas. Você pode comprar o compacto elétrico da Chevrolet, por exemplo, o Chevy Spark EV, por US$ 25.900 (R$ 105.000) nos EUA. Mas aqui no Brasil, por R$ 105.000 você compra um Mini Cooper do ano novinho. Tudo bem que para os gringos, o Mini Cooper não é nada de mais, mas para o nosso mercado ele é tido como um carro de luxo. E eu não sei você, mas entre um e outro eu ainda iria pelo Mini Cooper. Sem contar que esses R$ 105.000 são o valor convertido. Sabemos que os preços no Brasil escalam bastante quando um carro chega aqui. Para isso você pode estimar que o Chevy Spark poderia chegar a preços de até R$ 200.000 no mercado brasileiro. Comprar um Mini Cooper e convertê-lo para gás natural, que também é uma alternativa que quase não polui e sai muito mais barato, com certeza parece muito mais agradável para qualquer consumidor do que comprar o carro elétrico.

Chevrolet Spark
Chevrolet Spark

Não há como dizer se isso é intencional por parte das fabricantes ou do governo. Eu tendo a acreditar que não. Nossos governos podem gostar bastante de gasolina, mas isso não é o suficiente para impedir ativamente que novos carros e formas de abastecimento cheguem a um país. É porque realmente não vale a pena para o consumidor. E as poucas pessoas com capacidade de comprar um carro elétrico por aqui, um nicho pequeno de pessoas que realmente são adeptas a este tipo de carro, poderiam consegui-lo importando, afinal nosso governo zerou os impostos para importação de carros elétricos (um grande indicativo de que querem, sim, que eles comecem a competir por nossas ruas e carteiras).

Resta, afinal, a dúvida: há um futuro Brasil com carros elétricos na rua? Creio que sim, e talvez não demore tanto. Mas a tecnologia vai ter que ficar mais barata primeiro, para competir com os outros modelos e modalidades. Aliás, esse é um empecilho que até mesmo lá fora impede que tantos carros elétricos sejam vistos pelas estradas. Por enquanto, o jeito vai ser ver um Tesla nas fotos da internet, mesmo. Ou visitar os EUA.

Os carros elétricos ou híbridos que você pode comprar no Brasil se tiver muita vontade (mesmo):

  • BMW i3: a partir de R$ 221.950;
  • BMW i8: a partir de R$ 799.950 (!!!);
  • Ford Fusion Hybrid: a partir de R$ 142.000;
  • Lexus CT 200h: a partir de R$ 127.000;
  • Mitsubishi Outlander: a partir de R$ 190.000;
  • Toyota Prius: a partir de R$ 114.350.

O que aconteceu de bom em 2015?

Guerras, terrorismo, ataques, bombas, mortes, preconceito, protestos, radicais, extremistas, corrupção, pobreza, intolerância, fascismo, desastres naturais e o aquecimento global. Eu ainda devo ter esquecido de muita coisa que tivemos que superar em 2015 para seguir em frente. E às vezes isso dá aquela sensação enorme de que tivemos um ano perdido, que nada avançou e de que a humanidade está sucumbindo ao caos. Mas muita coisa boa aconteceu também. Que tal sairmos desse ano satisfeitos com progresso? Vamos recapitular:

Que tal este ano, afinal?

Entre outras tantas centenas e centenas de notícias boas que recebemos este ano, sem contar as pessoais (novos nascimentos nas nossas famílias, casamentos e conquistas de parentes e amigos), acho que pelo menos um pouco de mudança no foco pode nos ajudar a tirar aquele gostinho ruim da boca. Talvez é nossa mídia que tenha que ser ampliada.

Feliz 2016!

Universidade Federal de Ouro Preto: onde a homofobia é institucionalizada

Edição posterior (12/01/18): esta postagem foi escrita no primeiro semestre de 2015. Os relatos aqui anunciados podem estar desatualizados e/ou não condizer com a realidade atual. Se estiver preocupado(a) sobre ingressar, procure o grupo da UFOP no Facebook e consulte os estudantes.

Quando descobri que eu tinha passado para a UFOP esse ano, fiquei muito feliz. Fui aprovado para uma das faculdades mais conceituadas do país para um curso ótimo. Voltei a ficar perto dos amigos de infância e das origens da minha família, e vim morar em uma das cidades mais históricas e significativas do Brasil. Era tudo flores, mas logo que cheguei tomei um susto. Procurando por repúblicas para morar, me deparei com um problema que eu jamais imaginei que minha geração ainda precisaria lidar: ninguém me queria.

Esses homens não me conhecem. Não sabem de onde eu venho, não sabem o que eu já estudei, nem de quem sou filho, o que faço, o que sei ou o que penso da vida. A cada minuto chegavam mais e mais mensagens de repúblicas federais e privadas me convidado para conhecer suas casas, bater um papo, tomar um “café”. Todos me parabenizando por ser mais um que entrou em uma das Engenharias. Até aquele ponto, eu só era um calouro e, por extensão, tudo que eles queriam e procuravam: mais uma pessoa para dividir custos e biritas, ou mais alguém para levar adiante a tradição da casa. Achei que seria fácil, que eu teria um leque de opções e que encontraria o lugar que tinha mais a ver comigo em pouco tempo.

Infelizmente, em Ouro Preto, estar fora do armário não é algo visto como corajoso, sincero ou sensato. Por respeito, minha atitude em todas as repúblicas que me interessaram foi a de assumir (de novo). Mesmo depois de ter conversado com esses vários universitários e me dado bem com eles, contado um pouco de quem eu sou e de onde vim, a partir do momento que eu me assumi, deixei de ser calouro e me tornei mais um gay que chegou na cidade. Alguém que não tem direito de entrar nas repúblicas federais (gratuitas, públicas e – teoricamente – de livre acesso para estudantes que não têm condições de pagar as privadas) e que não deveria se misturar com a tradição universitária ouropretana. Se às 10h da manhã eu tinha 10 casas para morar, às 10h da noite eu não tinha nenhuma. E entrei em pânico.

Por sorte, as pessoas vão se virando, e afinal o ser humano é ótimo contra adversidades. Como eu obviamente não sou o primeiro homossexual a chegar em Ouro Preto para cursar o Ensino Superior, pude encontrar amigos, fazer novos, encontrar uma casa fantástica e entrar na vida social da cidade. O incômodo que não passa, no entanto, é o absurdo de conviver com a realidade de que os gays estão segregados, assim como certos cursos, por simples implicância e desinformação. É impossível ignorar o fato de que repúblicas federais deveriam ser para todos, em especial os que delas precisam, e não só para heterossexuais dispostos a passar por trotes mais severos. Não me conformo que, a essa altura do campeonato, pessoas com menos de 25 anos de idade ainda estejam assimilando e repassando a ideia de que nada há de proveito em um ser humano se “gay” for uma característica.

Não vou dizer que essa é a primeira vez que enfrento preconceito, até porque isso seria impossível, mas em outros cantos onde estudei, como no Rio de Janeiro, vencer isso foi fácil. Meu curso de Biblioteconomia me introduziu a um campus onde a homofobia é praticamente inexistente, e os poucos que ainda estranham a homossexualidade acabam percebendo que não existe nenhum monstro ali, aprendem a conviver e se integram. Meu melhor amigo do curso era hetero e eu nunca tive que lidar com um olhar torto. Depois de um ano e meio, quando mudei para Administração, foi um pouquinho diferente. Eu era o único gay da turma, ou o único que tinha um relacionamento declarado no Facebook e não ligava de responder perguntas sobre isso. Os meninos estranharam porque nunca lidaram com isso, mas em duas horas estávamos todos bebendo como se nos conhecêssemos há dois anos. Vieram as perguntas curiosas e, depois de respondidas, ser gay voltou a fazer parte do segundo plano na minha vida. Me acostumei com isso, com a ideia de que as pessoas da nossa geração eram sensatas e compreendiam que é impossível todo mundo gostar da mesma coisa. Me enganei.


Muito pode ser dito sobre a rejeição de gays em repúblicas masculinas. Dos argumentos mais usados, alguns homens dizem se sentir desconfortáveis de se trocar na frente de um homossexual, como se uma pessoa gay jamais tivesse visto um homem pelado na vida ou como se todos os heterossexuais provocassem uma atração violenta em homossexuais que os fizessem tornar-se predadores sexuais automaticamente. Bom, sabemos todos que nenhuma das duas coisas é verdade. Hetero, eu também uso banheiros públicos, com mictórios sem divisórias e chuveiros sem cortina. Eu também frequento vestiários de clubes, e já vi amigos – gays e heteros – pelados. Já namorei e já fiz muito sexo nessa vida. Seu corpo não é nenhuma novidade para mim, e a menos que você também seja gay, não tenho o menor interesse nele. Lembre-se que virei seu colega de quarto porque precisava de um lugar para morar enquanto estudo na faculdade, não para fazer orgias.

Outros homens também gostam de usar o argumento de que rejeitar gays é uma forma de prevenir confraternizações inadequadas, o que chega a ser mais absurdo do que o argumento acima. Ora, sabemos todos que em qualquer república, onde camas de solteiro são a norma, o coleguinha sai do quarto quando o outro arruma uma parceira. Sabemos também que se um não quer, dois não brigam. Se dois gays são irresponsáveis de começar a se pegar numa casa masculina, eles devem sim ser punidos de forma proporcional, mas isso não significa que todos os universitários homossexuais precisam ser punidos pela possibilidade. Se fosse assim, não haveriam repúblicas mistas, e se confraternização realmente fosse um problema sério para os estatutos, Ouro Preto não teria a fama de suruba que tem.

Não há mais argumentos, o resto é preconceito. Fomos criados para acreditar que o gay bicha é insuportável, barulhento, inconveniente e desnecessário. Fomos criados para acreditar, até, que ele é uma aberração da natureza que não pode ser encorajada – como se o comportamento inerente a um ser humano pudesse ser ensinado. A verdade é que não tem nada de errado em ser um homem feminino, e percebo que os heteros que perceberam isso acabaram gostando muito de ter amigos com pontos de vista diferente, bem como comportamentos. Desconsiderando a feminilidade, a própria homossexualidade já é tida como insuportável. Nenhum decano vai dizer “Podemos aceitar gays, desde que sejam discretos/homens/de boa.” O que você provavelmente vai ouvir é: “Não aceitem gays, digam que não faz o perfil ou qualquer coisa do tipo.” Você também não vai ouvir a verdade, porque eles sabem que não podem dizê-la, em especial as federais.

E se um universitário gay decide contar que gosta do mesmo sexo quando já estiver lá dentro? Bom, o mais provável é que esse universitário não dure muito mais naquela república. Entre a expulsão imediata e o bullying agressivo, muitas histórias hão de ser contadas. Mas o fim delas é sempre o mesmo: já era. O sentido que consigo encontrar nesse comportamento é o de que republicanos têm medo de manchar o nome. O fato de que existe um homossexual assumido em uma república repercute pelos círculos sociais e chega a todos. As zoações acompanham. De súbito, uma festa já não enche tanto, os colegas dão risadas abafadas, todos começam a ser tidos como gays. Difícil manter uma república assim. Ou, afinal, como apresentar uma república para os pais de um novo calouro quando tem um homossexual na casa? Eles podem achar ruim, impedir o filho de entrar lá. O importante é a rotação, logo o nome precisa ser protegido. Os homens republicanos, viris, heterossexuais machos e cheios de amor para dar não têm que lidar com o infortúnio do coleguinha gay, certo? O que nenhuma das repúblicas conseguiu entender até agora é que se todas elas deixassem de ver problema na questão, nenhuma delas acharia motivo para diminuir, caçoar ou desrespeitar um nome ou tradição. Mais alarmante ainda: eles não foram capazes de constatar que as vagas seriam preenchidas muito mais rápido, e que o preço do aluguel da cidade inteira poderia ser menor. É, tô falando sério, gente: vocês acham que gay se enfia debaixo da ponte quando você diz não? Não, cara, ele procura outras pessoas que tiveram o mesmo destino, aluga mais uma casa e vai estudar. Isso não ajuda muito na especulação imobiliária já deturpada da cidade.

Há também uma pérola interessante nas justificativas de não permitir gays: se um entrar, no período seguinte ele chamará os amigos, que no período seguinte chamarão os amigos. Em tempos de ditadura gay, quem não há de dizer que esses homossexuais autoritaristas e com sangue nos olhos não vieram para raptar e homossexualizar repúblicas inocentes? Claro, essa sempre foi nossa ideia. A gente entra na faculdade para roubar espaço dos outros e instaurar o gayzismo, porque duh, não temos nada melhor para fazer. Não, sério: eu vim estudar Engenharia para propagar a homossexualidade. Não é sarcasmo, eu juro.

Enfim, o que acontece em Ouro Preto é, de todas, a pior das realidades: os poucos gays que têm coragem de se assumir na faculdade acabam se isolando, convivendo entre si mesmos, com uma perpétua sensação de que talvez não sejam tão quistos ali, ou de que talvez estejam perdendo alguma coisa, ou de que gostariam de estar vivendo entre amigos mais diversos. Enquanto isso, os homossexuais mais assustados e inseguros acabam entrando nas repúblicas em segredo, sem poder namorar, conhecer alguém ou no mínimo contar a verdade. Se escondem, fingem gostar do que não gostam, mentem para os “amigos”. Riem e debocham da própria orientação, sentindo uma dor bem característica e se enfiando mais no poço de insegurança. Alguns acabam entrando em colapso e causando escândalos, quando não aguentam mais estar sozinhos e põem a mão na virilha do colega. O resultado é óbvio: o gay acaba sendo visto como algo pior, os heteros sentem-se ainda mais ameaçados pela diferença e a cidade de Ouro Preto permanece como uma fábrica de formandos acuados, que seguem adiante na mentira, na desilusão e na infelicidade.


Se você acha que o problema acaba nas repúblicas, pense de novo. A cultura republicana de Ouro Preto também afeta os universitários em geral, e de uma forma muito mais grave: ela gera desrespeito por outros profissionais. Em algum momento da história brasileira – não entrarei no cenário internacional aqui, porque não vem ao caso – os cursos da área de Humanas foram relacionados à homossexualidade. Sensibilidade, elucidação e interpretação tornaram-se características femininas. Ignoramos o fato de que homens – heterossexuais em sua maioria – iniciaram o Teatro, muitas vezes se vestindo de mulheres para representá-las, já que elas não eram consideradas capazes de interpretar. Ignoramos o fato de que grandes bandas que fizeram história eram compostas de homens heteros. Ignoramos que o jornalismo não tem sexualidade – e nem gênero. Para o cursante heterossexual médio de Ouro Preto, a cidade de Mariana – onde se concentra a maioria dos cursos de Humanas – é lugar de viado. E “ainda bem”. Mal sabem eles que, enquanto as pessoas em Mariana crescem e aprendem a respeitar de tudo e a todos, Ouro Preto segue estagnada. E eles também são capazes de realmente acreditar que a situação ouropretana faz deles mais homem do que os “marias” de Mariana.

Deixando um pouco de lado o fator homossexualidade, me parece absurdo que o feminino seja insistentemente visto como negativo ou inferior para os homens heteros. Como o ser humano é capaz de inferiorizar aquilo que, ao mesmo tempo, ele mais admira – ou diz admirar? Como endeusar e admirar a mulher e, ao mesmo tempo, ridicularizar e diminuir seus traços mais comuns? Nunca consegui ver sentido nessa lógica, e sigo não conseguindo. Gostaria muito que um homem heterossexual fosse capaz de me explicar como ele mantém esse raciocínio tão falho, o de que um homem que expressa características femininas é tido como fraco, emasculado ou inferior.

Já de volta às profissões, faculdades mais saudáveis, onde os cursos são integrados e unidos, acabam por formar pessoas que valorizam os profissionais. Professores, atores, músicos, jornalistas, advogados, engenheiros, médicos, museólogos, farmacêuticos, físicos, são todos vistos como pessoas competentes que concluiram o Ensino Superior e partiram para o mercado de trabalho para melhorar o país. Em Ouro Preto, estudantes acabam formados para acreditar que os formandos de Mariana são simplesmente menos. E sim, talvez muita gente levante o nariz ante essa afirmação, mas isso tem muito a ver com o tanto que Humanas aceita os gays e com a associação que as pessoas fazem entre sexualidade e gosto.

A relação entre a personalidade das pessoas e os cursos onde entram vai muito mais além do que é proposto por esse texto. A fala “Eu sou de Humanas”, assim como a “Eu sou de Exatas”, faz parte de papos e brincadeiras entre amigos. E por quê? Não dá para ser os dois? Ser de um “lado” ou do outro nos define como? De onde vem a formação? E, por fim, como chegamos ao ponto em que uma pessoa de Engenharia evita um amigo de Artes Cênicas? Isso é necessário ou jusificável? Dentro do mesmo campus, na cidade de Ouro Preto, onde mal temos 15 mil alunos, precisamos ser desunidos porque um homem gosta de usar saia e o outro boné? Conseguimos chegar a um estado tão mesquinho de polarização que vestimenta, sexualidade ou interesse profissional nos impedem de conhecer pessoas e fazer amizades?


A situação não é só responsabilidade dos estudantes. Como aconteceu em Mariana, já passou da hora das repúblicas federais em Ouro Preto mudarem o sistema. Enquanto lá os ingressantes não mais precisam enfrentar as pesadas “batalhas” pela vaga e a mentalidade geral é mais aberta, aqui nenhum dos dois é realidade. Embora interessante, esse formato engessa a tradição da cidade e impede que as pessoas se tornem mais tolerantes. Veteranos mais velhos, já convencidos de que os gays são uma pandemia, passam isso adiante para os mais jovens, mantendo a cultura da homofobia, da graça de zoar um viado. Seguindo o exemplo das federais, as particulares não veem problema em manter as coisas como são. Isso acaba favorecendo a aceitação de pessoas que talvez nem precisem da república gratuita, e a rejeição de pessoas que, ao ver das gerações anteriores, não se encaixam. Para ajudar, ex-alunos interferem na opinião e nas atitutes tomadas pelos atuais cursantes. Por terem vivido a mesma cultura e a mesma tradição, o reforçado é o mesmo. Nada muda.

Enquanto isso, nos corredores da direção da UFOP, a faculdade continua achando que isso é um problema que precisa ser resolvido entre os alunos, algo que não os envolve. Alunos têm medo de procurar a faculdade com queixas sobre repressão ou preconceito pela possível retaliação que viria dos membros da república a ser punida. Coordenadores e orientadores continuam acreditando que as coisas estão boas como estão, e que há choro desnecessário. Muitos concordam que ficar no armário é o mais louvável e digno de um homossexual, afinal eles não deveriam “esfregar na cara dos outros”. Eu gostaria mesmo de saber o que qualquer heterossexual acharia se alguém dissesse na cara deles que não podem ficar com ninguém a não ser que seja num beco escuro. Que não podem levar ninguém para casa ou se relacionar. Que precisam esconder toda e qualquer forma de afeto que mantêm por outras pessoas. Acho que ninguém gostaria de ouvir isso. Novas repúblicas gratuitas estão sendo construídas nas terras da faculdade e, ao invés de uma iniciativa que pudesse mudar a situação, repúblicas particulares tradicionais foram convidadas para ocupá-las. Vale notar: nenhuma delas têm gays.

Festas nas repúblicas continuam tendo preços diferentes para homens e para mulheres, a fim de que a “oferta” seja ampla. A cultura do estupro de mulheres continua em alta. Parte da tradição é que placas de repúblicas femininas sejam roubadas para que suas moradoras tenham que ir até a casa dos “ladrões” para reclamá-las em um social, como se mulheres fossem incapazes de aceitar um simples convite. Coletivos LGBT mais agressivos (no sentido de que se manifestam, fazem atos e enfrentam a tradição e a faculdade) têm integrantes ameaçados de morte. Amigos – inclusive entre os que conheço – já tiveram que sair de perto de repúblicas porque seus moradores começaram a reclamar de um beijo na rua, como se o espaço público também fosse deles. “Respeita a casa, faz isso em outro lugar!”, como ouviu meu amigo. Para eles, é como se ele estivesse ficando com uma das namoradas da república. Um desaforo, não uma demonstração de afeto. E tudo isso vindo de pessoas com menos de 30 anos.


Como nada realmente fica parado, felizmente as coisas estão melhorando, embora a passos lentos. Grupos no Facebook ajudam gays a se conhecerem e se protegerem – tanto da homofobia quanto da rejeição das repúblicas. Mesmo dentro da Engenharia, um grande grupo nacional se mantém unido para integrar os homossexuais no ramo e fornecer apoio. Repúblicas – em especial as particulares, com uma excessão entre as federais – começaram a mudar de atitude e se tornar mais inclusivas. Movimentos sociais pequenos começam a tomar forma e timidamente aparecer em janelas dos prédios da faculdade, embora a mesma não tenha o menor interesse em ajudar. Infelizmente, a UFOP não é uma faculdade que conta com palestras sobre inclusão social ou integração, e aparentemente isso não vai mudar tão cedo.

Repúblicas gays começaram a surgir. São poucas, menos ainda com nome, e passam pela cidade dividindo espaço com as que ali estão para os heteros. Se eles soubessem quantos dos seus vizinhos poderiam ser amigos deles, o quanto as repúblicas poderiam ser maiores e mais fortes, mais diversas e interessantes, talvez não prezassem tanto pelo retrocesso. A infelicidade é a realidade atual, onde gays se escondem e heteros se afastam, onde a segregação anda em alta – por um lado como instinto de autopreservação, por outro como repulsa ao estrangeiro – e onde o futuro não parece tão promissor ainda.

Não só os heteros podem ser responsabilizados pelo cenário atual, mas também os gays. Em todos os lugares onde já vivi – inclusive no Pará -, a sexualidade era algo tranquilo de assumir, algo pessoal com que ninguém se importava, fosse uma ou outra. Gays fazem parte da sociedade, sempre fizeram, e ultimamente não têm tido medo de se afirmar. Era de se esperar que uma cidade universitária seguisse o exemplo assim como outras mais inclusivas – só em Minas Gerais temos Diamantina, Lavras e Viçosa como exemplos claros de que diversidade não piora nada – mas não é o caso. Em Ouro Preto, no entanto, as coisas não têm sido as mesmas, de um lado pela tradição forte que não tolera os gays, do outro pelo medo de jovens homossexuais de enfrentar mais rejeição, antagonização e isolamento por simplesmente serem quem são. Todos saem perdendo.


Se você é heterossexual, homem ou mulher, ou se você é gay, no armário ou assumido, lésbica ou transexual, o que você pode fazer é sua parte. Não custa nada reclamar de um comentário homofóbico. Não tem problema questionar por que sua república não aceita pessoas diferentes. Ninguém vai achar que sua casa é toda gay por um dos moradores ser. Os gays não vão te morder, provavelmente está ali só um ser humano que pode acabar se tornando um amigo. A tradição não precisa ser perdida só por precisar se tornar mais tolerante e contemporânea. E enfim, seja um ser humano decente: trate os outros como gostaria de ser tratado. Respeite, tenha consideração e ponha-se no lugar do outro. Responsabilize-se. Cresça. Estamos aqui para estudar e para nos tornarmos pessoas melhores. A situação de Ouro Preto, como está, não ajuda nessa tarefa.

Como mensagem final àquele ou àquela que se sentiu ofendido(a) ou ameaçado(a) com esse texto, uma informação de consolação: relaxa, podia ser pior. Enquanto aqui ainda estamos tentando resolver nossa cabeça para aceitar homossexuais, uma fraternidade americana aproveitou uma excursão para cantar no ônibus sobre como nenhum negro jamais fará parte de lá. Podemos ser atrasados, mas tem gente mais atrás ainda, né?

Boa sorte, Ouro Preto. E boa sorte pra mim, que passarei os próximos 5 anos enfrentando essa cidadezinha parada no tempo, que mesmo depois de 400 anos ainda não conseguiu vencer o preconceito.

Por que não colocar câmeras nos nossos policiais?

Grande parte das reclamações de muitos brasileiros nesses últimos meses, e em especial após as manifestações de Junho de 2013, foram quanto à truculência, corrupção, abuso de poder e crimes praticados por policiais civis e militares (esses últimos em especial). Enquanto o governo finge olhar para cima quando pedimos mais segurança e para o lado quando pedem o fim dessa classe policial, talvez haja outra solução capaz de resolver muitos dos problemas de abusos de poder e ineficiência dos oficiais: câmeras.

A ideia começou na cidade de Rialto, Califórnia. Um grupo de pesquisadores da força policial resolveu começar um estudo colocando câmeras minúsculas no equipamento de metade da força policial da cidade, que tem 100.000 habitantes, por um ano e meio. Os policiais deveriam começar a gravar a partir do momento em que saíam da viatura para qualquer coisa, sendo que a câmera possuia um buffer que mantinha gravados os 30 segundos anteriores ao início da gravação e 30 segundos posteriores ao fim da mesma. Qualquer quebra de protocolo era percebida por quem avaliava os vídeos.

RialtoCamera
Foto: Joshua Lott, The New York Times

Depois dos dois anos de experiências, a cidade de Rialto viu uma queda de 88% da reclamação de cidadãos contra os oficiais, comparados a quedas de um máximo de 24% no ano anterior à pesquisa. Além disso, a força policial da cidade usou de intervenção física 60% menos, em 25 ocasiões contra 61 do ano sem câmeras. Não bastando essa diminuição extremamente positiva, o estudo também esclareceu que a maioria desses excessos foram feitos por oficiais que não usavam câmeras, mostrando o potencial enorme das mesmas de promover a autovigilância.

Obviamente, estes números e o que sabemos do experimento em Rialto não dizem tudo, e ainda há muito a ser discutido. O que os policiais podem achar ruim quanto à tecnologia? Bom, alguns oficiais da cidade californiana não gostaram da ideia, mas não tinham como dizer não. Como a obrigação de nossos policiais é serem sempre transparentes na manutenção da lei e da ordem, a opinião deles também não importa. Se virar lei, é lei e pronto.

Joshua Lott, The New York Times
Foto: Joshua Lott, The New York Times

Mas e quem pode ver esses vídeos? A privacidade dos cidadãos que podem se encontrar nesses vídeos, seus nomes, rostos e endereços tornam difícil aceitar a possibilidade da vigilância ser comunitária. Se essa questão não se apresentasse, bastaria criar um site na internet com os vídeos para que as próprias pessoas reportassem condutas impróprias. Sendo assim, fica muito difícil e custoso vigiar policiais de uma cidade tão grande como, por exemplo, São Paulo. Seriam milhares de câmeras ligadas em um dado momento.

Ainda assim, a proposta é promissora. Em cidades menores, com 10.000 a 100.000 habitantes, esse tipo de lei poderia passar facilmente e com custo baixo, causando um efeito muito positivo na atuação de nossos policiais; eles saberiam que estão sendo vigiados o tempo todo, e portanto não poderiam abusar dos descansos, ignorar chamados, agredir moradores da periferia sem necessidade, cobrar propina ou incriminar inocentes. É claro, tudo isso exigiria um trabalho bem arquitetado e honesto no cuidado da vigilância e punições adequadas dentro da polícia.

Policiais militares do Rio de Janeiro já usaram as câmeras em manifestação de professores. Que tal ampliar a abrangência e a fiscalização? (Fonte: Extra)
Policiais militares do Rio de Janeiro já usaram as câmeras em manifestação de professores.
Que tal ampliar a abrangência e a fiscalização? (Fonte: Extra)

Em cidades grandes, mesmo que nem todos os oficiais pudessem ser assistidos a todo momento, o sistema seria, ainda assim, positivo para a operação policial da cidade. A simples possibilidade de estarem sendo vigiados já os faria pensar duas vezes antes de cometer excessos, erros ou abusos, já que nunca saberiam se são eles no olho do Big Brother. Um bom exemplo de como esse receio funciona está na política de pirataria americana. Milhões de cidadãos baixam músicas, filmes, séries e livros no país todos os dias, mas só dezenas deles são rastreados e punidos todo ano. Por haver essa possibilidade de “ganhar” na loteria, outros milhões de americanos decidiram abandonar a prática.

Outro grande exemplo da  eficiência das câmeras de vigilância individuais é bem provada na Rússia. Com certeza você já deve ter visto um daqueles vídeos de pessoas entrando na frente de carros e fingindo atropelamento simplesmente para poder entrar com um processo lucrativo. Como ninguém é bobo, a maioria dos russos tratou de arrumar uma câmera para poder provar que não fez nada de errado.

Sejamos, portanto, realistas: dada a corrupção dos altos poderes dentro da PM e do nosso governo, fica muito difícil acabar com a instituição, e isso também não evitaria que a polícia continuasse fazendo coisas erradas. Então por que não aproveitar da internet e da facilidade de gravação de nossos tempos modernos para podermos avaliar seus trabalhos com mais eficiência? Sairia muito mais barato e salvaria vidas. Só precisa ser bem feito.

O que você acha da ideia? Contribua nos comentários.

Belezas desconhecidas do Brasil

Carnaval, samba, futebol, praia, feijoada, Ouro Preto, pagode, sertanejo, água de coco, favelas, Cristo Redentor, Iguaçu, São Paulo, caipirinha, novela, tereré, chimarrão, boiada, quadrilha, axé, cerrado, pobreza. Se algum estrangeiro qualquer nos pedisse para descrever o Brasil, chegaria um momento em que ficaria difícil fugir dessas palavras, generalizações, estereótipos. Faz até parecer que somos um país pequeno, né? E todos nós ficamos morrendo de vontade de dizer “Mas o Brasil não é só isso.” E não é mesmo. Trouxe esse post para mostrar para vocês um pouquinho do desconhecido do Brasil, inclusive coisas que pessoas de outros países vêm ver e mal damos conhecimento. Não teria lugar melhor para começar do que pelo Acre, né? O que dizem que não existe?

Os Geoglifos do Acre

Na parte oriental do Estado do Acre, principalmente na região de Rio Branco e ao longo do divisor de águas onde se encontra a rodovia BR 317, têm sido encontradas estrutura de terra de formatos geométricos – círculos, retângulos, hexágonos, octágonos e outros – de [grandes] dimensões, feitas por populações que lá viveram há cerca de 1.000 anos (fonte).

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Ponte Brasil-Peru

Situada na cidade de Assis Brasil, que faz fronteira com Bolívia e Peru, a ponte Brasil-Peru é a última passagem da Estrada do Pacífico brasileira, que leva ao país vizinho e, finalmente, ao oceano. Em volta, uma cidade pequena bonitinha e bem arrumada com dupla nacionalidade e idiomas.

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O deserto do Tocantins

Ao contrário de alguns outros desertos maiores cuja vista só se limita a dunas de areias (não que elas, por si só, já não sejam belas), o deserto do Tocantins conta com formações rochosas belíssimas, cachoeiras, colorações inesperadas e uma flora e fauna que não se encontra em nenhum outro canto do planeta.

Jalapão, região conhecida do estado e também próxima às gravações do programa americano "Survivor".
Jalapão, região conhecida do estado e também próxima às gravações do programa americano “Survivor”.
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Outras vistas do campo do Tocantins.
Outras vistas do campo do Tocantins.
Outras vistas do campo do Tocantins.
Outras vistas do campo do Tocantins.

Litoral de falésias do Ceará

Na verdade, as falésias cearenses, em especial na cidade de Morro Branco, já conquistaram seu lugar como ponto turístico, embora boa parte dos brasileiros nem tomem conhecimento da existência desse lugar maravilhoso. Se você já assistiu ao filme brasileiro Paraísos Artificiais, deve se lembrar da cena dos búfalos em meio às rochas. Agora você já sabe onde encontrar aquela visão.

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Itaúnas, Espírito Santo

Cidade pequena, praias paradisíacas, estradas de terra. Muita gente já ouviu falar de Itaúnas, e pouca gente conheceu. Meus pais me levaram lá quando bebê e ainda acabaram me perdendo 😛 Sorte que acabei sendo encontrado, com ainda 2 anos de idade. Agora preciso visitar de novo para entender o que tinha de tão bom lá. As fotos são de babar.

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Santarém e Marabá, Pará

O estado do Pará nos dá uma impressão de que é espaço demais para gente de menos. Talvez seja. Mesmo assim, algumas cidades da região impressionam em beleza natural e urbanística, e com certeza Santarém e Marabá entram na lista. Não tem nada de Dubai nem Caribe nelas, são pequenas e estão no meio de um estado imenso, mas com certeza valem a visita. E se você acha que precisa ir à Holanda para fazer passeios de barco maravilhosos, pense de novo. Santarém e Marabá encantam por muito menos.

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Encontro das águas do rio Tapajós com o rio Amazonas. Um dos passeios de barco mais maravilhosos que já fiz na minha vida. E o mais incrível de tudo: nenhuma das águas é suja, mas a densidade diferente e quantidade variada de detritos causa a diferença na coloração. As águas se encontram e se misturam, mas a linha divisória sempre estará lá.
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Campo Grande, Mato Grosso do Sul

Cidade grande faz mais o seu estilo de turismo? Que tal deixar a rotina um pouco de lado e se aventurar por uma capital densa, agitada e bonita que te deixa fugir um pouco do roteiro Sudeste-Sul? Campo Grande é uma ótima pedida, com uma noite bacana, uma cidade bonita nos prédios, nas ruas e nos parques, uma cena de rock intensa (o que surpreende) e, se for o caso de relaxar, algumas horas de viagem te levam a cachoeiras, balneários e cenários inesquecíveis.

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São Francisco do Sul, Santa Catarina

A cidade se envolve em uma intriga de pesquisadores: é ou não é a cidade mais antiga do Brasil? Relatos apontam que a fundação da cidade se deu por franceses em 1504, mas boa parte dos estudiosos consideram que, à época, a região mal podia se chamar de povoado. Sendo assim, a cidade que acabou sendo considerada a mais antiga do país é São Vicente, em São Paulo. Independente do título ser de São Francisco do Sul ou não, a cidade é uma das mais bonitas e intocadas do Brasil. Só as fotos farão justiça ao que eu estou falando. Veja por si mesmo(a):

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Belterra/Fordlândia, Pará

Pela bizarrice, Belterra já se tornou um ponto turístico entre os paraenses. A história da cidade é bem interessante, mas vou só resumir: Henry Ford, criador da gigante automobilística, quis criar uma fábrica no Brasil, e com isso acabou construindo uma cidade inteira para seus trabalhadores no meio da floresta amazônica. Mosquistos, conflitos na política trabalhista e muitos outros problemas de gestão acabaram resultando no completo fracasso do projeto. Assim, a fábrica foi abandonada, mas as pessoas continuaram lá. Além de alguns cenários bonitos e outros interessantes, o passado da cidade abandonada vale uma visita para quem gosta de procurar cidades-fantasma por aí. Também dá para ter uma ideia de como se pareceria uma cidade no estilo americano aqui pelo Brasil.

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Se você mora ou visitou um lugar que acha que merece estar nessa lista e não apareceu, por favor, não fique acanhado(a) em compartilhar o nome do local. Eu adoraria fazer deste post uma série com fotos e informações sobre os lugares não-tão-conhecidos do Brasil que merecem destaque, apreciação e turismo. Minha maior vontade é a de conhecer cada cantinho isolado e escondido desse país gigantesco que nem conhecemos direito.

Todos sabemos que é mais fácil achar fotos das cidades interioranas americanas e de cada canto de suas capitais do que aqui mesmo do Brasil. Ainda há muito a ser redescoberto dentro do país.

As capitais do sudeste de outrora

Hoje um amigo compartilhou um vídeo super legal, feito em inglês, com o Rio de Janeiro de 1938, com mais classe, menos abandono, trânsito e correria. Homens de terno e gravata, mulheres com vestidos elegantes e uma cidade verde e bem cuidada. É uma pena que o crescimento urbano no sudeste não tenha conseguido ser acompanhado com o cuidado de seus governantes. Mas é sempre bom relembrar. Deem uma olhada:

Se você curtiu, também vale a pena ver esse vídeo (em português) de Belo Horizonte nos anos 50. Também muito bem cuidada, mais jovem e já com um aspecto moderno atraente, a cidade era bem mais organizada e ainda merecia o título carinhoso “Cidade Jardim” que, hoje, não passa de um mero título. Clique aqui para ver (tentei passar para o site, mas não consegui).

A população do mundo concentrada no Brasil

Esses mapas interessantes mostram quanto do Brasil seria ocupado se os quase 7 bilhões de pessoas vivessem na mesma densidade demográfica que algumas capitais do país. É inacreditável imaginar que mesmo Belém, que é a cidade menos densa das capitais mostradas, teria a humanidade ocupando tão pouca terra. E a gente achando que é dono do mundo…

Dá uma olhada:

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