Armas nucleares têm data de validade?

Leia minha resposta original no Quora.

Sim, e bem curta.

Fabricar uma bomba nuclear é bem difícil, na verdade. Foram necessários os melhores cientistas e alguns anos para tomar conta de cada passo. E cada passo abre uma possibilidade das bombas expirarem.

Vamos dar uma olhada em um por um.

A maior parte das armas nucleares atuais são feitas com Plutônio-239, porque é mais barato que Urânio-235. Elas também precisam de uma “fagulha” — um emissor de nêutrons. É necessário que estejam na forma pura, sem poluentes que possam inibir uma reação nuclear absorvendo os nêutrons ou algo assim. Se os materiais se degradarem, a bomba pode falhar ao invés de explodir.

Os designs das bombas nucleares atuais são altamente confidenciais, mas as primeiras gerações funcionavam como dispositivos de implosão que comprimiam Plutônio-239 de forma uniforme (o que é extremamente difícil de conseguir), usando explosivos programados minuciosamente. Explosivos químicos expiram com o tempo, perdendo algumas de suas propriedades originais, o que torna mais fácil que, no evento de uma detonação, a implosão não seja uniforme, e isso faria com que o plutônio vazasse como um jato quente de um veneno daqueles ao invés de começar uma reação em cadeia de fissão.

Os eletrônicos que desencadeiam a detonação também estão sujeitos à degradação.

Ao ser feita a inspeção de bombas nucleares no arsenal dos EUA com umas duas décadas de idade, constatou-se que a maior parte estava tão degradada que provavelmente não funcionaria. Tenho certeza que a URSS não estava tão melhor.

Se você ignorar o potencial de erradicar a vida humana, ou ao menos causar bastante sofrimento, as armas nucleares são uma tecnologia fascinante. Mesmo as primeiras a serem produzidas ainda poderiam ser consideradas maravilhas da ciência e da engenharia por qualquer um que já viu um esquema delas. São sistemas precisos, engendrados quase até a perfeição, e mesmo isso serve para garantir a fissão de ao menos uma pequenina parte de seu combustível nuclear em uma detonação. Qualquer coisa a menos do que dessa perfeição, e ela falha.

Dizem que a água não tem data de validade, e sim a garrafa. Então, por que o mel que vem em embalagem de plástico não tem validade?

A água é o que permite que processos bioquímicos ocorram dentro da garrafa. O plástico demora muito para se degradar, mas pequenas quantidades vão de fato se desprender da garrafa com o tempo, e para garantir a segurança e o sabor normal da água, os fabricantes colocam uma data de validade na maioria das garrafas.

Não tenho certeza se isso é obrigatório no Brasil, mas nos EUA já foi até 2006 por causa do estado de Nova Jersey, que exigia que uma validade de 2 anos fosse colocada nas garrafas. Por conta desse estado, praticamente todos os fabricantes começaram a colocar a data de validade para poder vender para N.J.

No caso do mel, se a concentração de água for alta, ele também virá com data de validade. As variedades do mel que não têm a data são aquelas cuja concentração de água não é alta o suficiente para permitir os processos bioquímicos, devido à alta viscosidade do mel. É por isso que ele tem uma duração tão longa, mesmo apesar de também poder conter esporos botulínicos, por exemplo, o que faz com que não seja recomendado para crianças.